Temporada sem calendário nacional aproxima Paraná Clube de realidade de Suburbana
O empresário do ramo de “entretenimento adulto”, Marcelo Aparecido Ferreira Domingues, 45 anos, nutria o distante sonho de estampar a marca de sua boate na camisa de um clube de futebol profissional. Ambição que, admite, lhe parecia impossível.
"Eu disse a uma pessoa que meu sonho era patrocinar o Paraná. Mas eu achava impossível. [Para] time profissional os valores são muito altos. Não cabe na minha realidade, não sou milionário", conta Domingues, proprietário da casa noturna Evidence 5000.
Mas no início de março, ao receber um emissário do Tricolor, sua opinião mudou radicalmente. Ao analisar o mídia kit do clube – conteúdo utilizado para atrair eventuais patrocinadores –, descobriu que o sonho não estava "tão distante assim".
Em poucos dias, fechou acordo com o Paraná para ostentar o patrocínio máster durante a disputa da Segunda Divisão estadual. Contrato válido por seis meses, com aportes de R$ 50 mil mensais, totalizando R$ 300 mil.
Valores modestos diante da história paranista. Porém, correspondentes com a realidade do clube em 2023. Ou seja, mais próximos do cenário onde Domingues costuma anunciar seu negócios: a Suburbana.
O empresário é figura carimbada no tradicional torneio amador de Curitiba e região metropolitana. É diretor de futebol do Urano, onde também realiza aportes financeiros. A Evidence 5000 ainda ostenta vínculos de patrocínio com Bairro Alto, Fortaleza, Vila Fanny e Novo Mundo.
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"Como até então eu não tinha condições de patrocinar um time profissional, foquei no amador. Este ano, meu sonho é ver minha marca estampada em um time campeão da Suburbana", explica o empresário, que sonha em disputar a presidência do Tricolor no futuro.
Sobre as polêmicas em torno de seu ramo de atuação, como um abaixo-assinado de torcedoras contra o acordo, Domingues justifica-se.
"Longe de mim levar qualquer constrangimento, dor de cabeça, para o clube. Eu sei que, querendo ou não, é complicado. Mas o Paraná falou que eu podia ir e as conversas avançaram".
Paraná despenca de verbas milionárias a realidade de clube semiamador
O patrocínio da Evidence 5000 é reflexo da rápida derrocada tricolor. Nesta temporada, o Paraná vive o ponto mais baixo de um movimento de queda-livre que o fez despencar, em apenas 5 anos, da milionária Série A do Brasileirão a um cenário próximo do futebol amador.
Trajetória vertiginosa que se comprova em números. A jornada de fracasso esportivo e incompetência administrativa iniciou justamente no auge mais recente do clube, a disputa da elite nacional em 2018.
Na época, o Paraná recebeu R$ 23 milhões em cotas de televisão e outros R$ 5 milhões do patrocínio máster da Caixa Econômica Federal. Destes valores, cerca de R$ 4,6 milhões foram retidos pela Justiça Trabalhista, como parte de um acordo para quitação de dívidas com ex-funcionários.
Com uma das piores campanhas da história, no entanto, o Tricolor acabou rebaixado para a Série B. Em 2019, de volta à Segundona, a verba de TV caiu para R$ 6 milhões e a equipe terminou a competição na 6ª posição, perto de um novo acesso.
Em 2020, novamente no segundo patamar nacional, o Paraná recebeu os mesmos R$ 6 milhões. Foi aí que começou o desastre paranista, com o clube rebaixado à Série C após terminar o primeiro turno em oitavo lugar, apenas três pontos abaixo do G4.
Na temporada seguinte, em 2021, o Tricolor recebeu apenas R$ 200 mil pela exibição de suas partidas. Para piorar, caiu novamente, desta vez para a Série D, onde receberia ainda menos: R$ 150 mil.
Em 2022, o clube sofreu mais dois duros golpes, esportivos e financeiros: não apenas ficou longe do acesso na quarta divisão nacional, como sofreu outro descenso, desta vez no certame estadual.
Sem calendário nacional até pelo menos 2025, o Paraná agora tenta recomeçar sua história em uma realidade distante muito mais próxima do amadorismo do que dos dias de glória do clube.