Paraná encaminha patrocínio de “casa de entretenimento” adulto e gera repúdio
O Paraná acerta detalhes finais para anunciar o patrocínio master da Evidence 5000, casa de "entretenimento adulto" de Curitiba, durante a disputa da Série Prata do Campeonato Paranaense.
Apenas detalhes impedem o anúncio, por parte do Tricolor. "Iremos concretizar em alguns dias", confirmou a assessoria de imprensa paranista.
Já a polêmica empresa antecipou-se ao clube e confirmou o acerto em suas redes sociais. A Evidence 5000 é patrocinadora do Urano, clube da Suburbana, campeonato amador tradicional de Curitiba
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Em crise financeira e sem calendário nacional, tendo apenas a segunda divisão estadual para disputar na temporada, o Paraná acabou recorrendo à controversa parceria para reforçar o caixa durante a disputa.
Antes, a diretoria comandada pelo presidente Rubens Ferreira já havia anunciado dois patrocinadores para 2023. A empresa BRbet, que atua no segmento de apostas esportivas, estampará as mangas do uniforme paranista. Já o Frigorífico Argos terá a marca estampada na parte dos ombros da camisa.
A estreia do Paraná na Série Prata acontece no dia 29 de abril, diante do Toledo, na Vila Capanema.
Os cinco jogos do Paraná da primeira fase serão com portões fechados por conta da punição referente ao Paranaense de 2022, na invasão da torcida no jogo que decretou o rebaixamento.
Torcedoras repudiam patrocínio do Paraná
Apesar do Paraná ainda não ter anunciado oficialmente a parceria, o grupo feminino de torcedoras, Gralhas da Vila, emitiu nota de repúdio ao novo patrocínio do Paraná.
"É inaceitável que o Paraná Clube não leve em consideração a luta diária de suas torcedoras e de todas as mulheres. É inaceitável que o clube seja conivente com um patrocinador que traz o corpo feminino como produto".
Confira abaixo a nota completa
"O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de exploração sexual de crianças e adolescentes, estando apenas atrás da Tailândia. Brasil é o primeiro lugar em exploração da América Latina. Turismo sexual estimula exploração sexual infantil no Brasil.
Segundo a UNICEF, em dados de 2010, cerca de 250 mil crianças estão prostituídas*(exploradas) no Brasil. Meninas se prostituem por R$2,00 em Roraima. Mulheres se prostituem por R$5,00 no Nordeste.
Em região sem eletricidade, mulheres se prostituem em troca de óleo diesel. Menores de idade são exploradas sexualmente por R$20,00 na zona leste de SP. A prostituição não é reconhecida como emprego, no Brasil.
Então, de fato, e inclusive por não haver regulamentação, a pessoa em situação de prostituição não tem direitos trabalhistas. Esses são apenas alguns dados relacionados à prostituição no Brasil.
Quando aceitamos que alguém estampe em nossa camisa algo que é favorável a tudo isso, estamos validando a exploração e objetificação de corpos, em sua maioria – e nesse caso, talvez até de forma total – femininos.
O coletivo Gralhas da Vila surgiu em um movimento nacional para lutar pelo espaço da mulher no estádio e em qualquer outro lugar. Temos como objetivo mudar uma realidade machista, que sexualiza o corpo da mulher a todo momento.
Lutamos contra agressões e assédios, contra a falta de espaço e fala, precisamos pensar até mesmo em qual roupa utilizar em dias de jogos por medo do que pode acontecer. Como torcedoras, além de nos sentirmos constrangidas, sentimos também vergonha.
Quando falamos sobre o clube ter consciência sobre sua responsabilidade social, sobre como influencia diretamente o pensamento de seus torcedores desde pequenos, quando pedimos para que sejam mais do que apenas postagens em datas comemorativas, estamos falando sobre isso.
É inaceitável que o Paraná Clube não leve em consideração a luta diária de suas torcedoras e de todas as mulheres. É inaceitável que o clube seja conivente com um patrocinador que traz o corpo feminino como produto.
Se esperam silêncio de nossa parte, saibam que não vamos nos calar. Estaremos sempre aqui pelo Paraná Clube. Mas seguiremos lutando contra uma sociedade que acredita que a mulher nasceu para servir ao homem, que acredita que nosso corpo é puramente um pedaço de carne e que homens podem nos tratar como objeto sexual".