Paraná e as lições dos clubes que chegaram ao “fundo do poço” e hoje estão na elite
O rebaixamento para a Série C é um baque para qualquer clube. Falta de receitas de TV e estádios com menos estruturas são apenas alguns dos desafios para quem cai para a Terceira Divisão.
O Paraná se encontra neste cenário, mas pode se inspirar em outros clubes de expressão nacional para buscar a volta por cima.
Três clubes são "cases" de reconstrução, pois jogaram a Terceirona, mas retornaram à elite pouco tempo depois: o América-MG, o Fortaleza e o Juventude. O UmDois Esportes conversou com pessoas ligadas a esses clubes para mostrar caminhos que o Tricolor pode seguir.
América-MG "penou" na Série C e agora vive realidade diferente
O América-MG foi rebaixado para a Série C em 2004. Passou cinco anos na Terceirona, mas acendeu à Série B em 2009 e chegou à Série A já na temporada seguinte. O clube tem histórico de viver uma gangorra entre as séries A e B, é verdade, mas nunca mais voltou à Terceira Divisão.
Hoje, o Coelho é exemplo de administração e está à frente, inclusive, do Cruzeiro. Investimentos na base, reformas e adaptações no CT Lanna Drumond, que é um dos melhores do país, foram fatores que iniciaram a retomada do clube.
A modernização do departamento de futebol e os investimentos em tecnologia de análise de desempenho também fizeram a diferença para o Coelho, como conta o comentarista da Rádio Itatiaia de Belo Horizonte, Eduardo Panzi.
"O América forma e revela talentos como poucos e faz melhor do que os gigantes Atlético-MG e Cruzeiro. Para se tornar um dos principais clubes da Série B na última década, com acessos e títulos, o Coelho investiu muito no departamento de análise de desempenho, no profissional e na base. Gastar de acordo com a receita também é fundamental para qualquer clube e, no América, isso acontece até hoje. Não é o clube mais rico de Belo Horizonte, nem o maior, mas certamente é o mais saudável financeiramente", declara o jornalista.
Eduardo Panzi ainda relembrou que o momento de reconstrução do Coelho passou pela união de dirigentes comprometidos com o clube. O Paraná sofreu nesse aspecto nos últimos anos, inclusive, com a renúncia do presidente Leonardo Oliveira na reta final da Série B. Para dar essa volta por cima e retomar o espírito vencedor, o Paraná buscou Maurílio e Ageu, ídolos do clube.
"A receita é reconhecer os erros, aceitar que errou e só então começar a tentar corrigi-los. No América, isso foi primordial. A partir desse momento, o clube começou a se reorganizar de fora para dentro das quatro linhas. Juntou nove lideranças do clube e montou um “Conselho Administrativo”, que basicamente era como ter nove presidentes. Todas as decisões eram tomadas em conjunto, na parte administrativa e do futebol. Deu certo naquele momento de crise", finaliza Panzi.
Fortaleza contou com reorganização financeira
O Fortaleza passou longos oito anos na Série C do Brasileiro até conseguir o acesso em 2017. Mas a reorganização interna foi tão grande que, logo depois de acender à Série B, já foi campeão e chegou novamente à elite. E, na primeira temporada na Série A, conquistou a inédita vaga na Sul-Americana.
O diretor de futebol do Fortaleza, Daniel de Paula, que esteve nos bastidores no díficil período da Série C até a retomada à Série A, dá conselhos à gestão do Tricolor. Segundo De Paula, a organização financeira, problema que acompanha o Paraná há anos, é o principal ponto a ser corrigido.
"A primeira coisa é saber que você está na Série C. Você precisa encarar a competição como deve ser encarada. A segunda coisa é cumprir com o que você combinou com os atletas. Não adianta você achar que vai subir se não colocar o aspecto financeiro em ordem. Ninguém consegue trabalhar sem receber. Isso é princípio básico no futebol: ter organização, planejamento e respeitar o orçamento. O equilíbrio financeiro e a responsabilidade tem que acontecer", comenta o dirigente do Leão do Pici.
Juventude bateu na Série D e voltou
O exemplo mais recente de quem bateu na Série C e voltou é o do Juventude. Rebaixado à Terceirona em 2018, o clube retornou na temporada seguinte e, agora, chega à Série A após 13 anos. E o clube de Caxias do Sul, vale lembrar, chegou a cair para a Quarta Divisão em 2011. Desde então, vem se reformulando para seguir com boas campanhas a nível nacional.
O repórter e setorista do Juventude na Rádio Caxias, Bruno Mucke, acompanhou de perto essa trajetória do time gaúcho. Segundo o jornalista, além dos desafios normais de deslocamento e dificuldades financeiras, a falta de visibilidade para os jogadores é um empecilho para encontrar nomes comprometidos.
"O Juventude teve que abrir seus horizontes para buscar reforços. Anteriormente, o clube trazia jogadores com passagens pelo futebol gaúcho ou que se destacaram contra o próprio Juventude. Com a queda e uma nova gestão assumindo, houve uma mudança e aprofundamento maior no banco de dados de jogadores. A direção teve que ser criativa e buscou parceria com uma empresa de agenciamento de jogadores aí de Curitiba, inclusive. Essa parceria foi moldada de um jeito que o Juventude pudesse contratar jogadores com o suporte da empresa. Muitos vieram com divisão de salário", explica.
"Mas muitos jogadores preferem outros mercados. O que pesou para o Juventude ter um grupo qualificado na Série C foi ter o rótulo de 'bom pagador' e a insistência da diretoria em contratar algumas peças, como o decisivo Renato Cajá", completa Mucke.
Todos os desafios encontrados por América-MG, Fortaleza e Juventude serão também os do Paraná. O Tricolor, que já vem se reformulando, pode se inspirar nas dicas de quem já viveu a Série C recentemente e deu a volta por cima para também seguir esse roteiro.