Ex-presidentes do Paraná se isentam de culpa pelo caso Thiago Neves
18 anos após o início da carreira do meia Thiago Neves no Paraná, o nome do jogador ainda gera repercussão pelos assuntos extracampo. Após diversos erros administrativos do clube e das cifras milionárias que saíram dos cofres paranistas por causa de negociações envolvendo o jogador, dois ex-presidentes que atuaram diretamente no início das batalhas jurídicas, José Carlos de Miranda e Aurival Correia, falam sobre o assunto. “Não tem ladrão, como muitos falam. Cometi erros”, afirmou Miranda, que ainda declarou: “Na época, o Conselho me aplaudiu em pé”.
No último dia 22 de janeiro, o UmDois Esportes trouxe em primeira mão que o Tricolor foi condenado em dezembro de 2020 a pagar R$ 20 milhões ao empresário Luiz Alberto de Oliveira Martins, da LA Sports, ainda por conta da transferência do atleta ao Fluminense. Determinação essa inesperada, já que em agosto de 2017, o então presidente Leonardo Oliveira concedeu entrevista coletiva para afirmar que o caso estava resolvido após o clube desembolsar um total de R$ 4,5 milhões.
“Não temos mais um centavo de dívida sobre o Thiago Neves, um dos maiores problemas da história do clube. Estamos comemorando o fato de ter sido resolvido”, falou Oliveira na época.
Thiago Neves estreou como profissional no Paraná em 2005, fez 29 jogos e três gols pelo time, foi emprestado, em 2006 ao Vegalta Sendai do Japão e, na volta, ao Fluminense, onde despontou no cenário nacional. Foram justamente as negociações para a transferência definitiva ao tricolor carioca, que ocorreram em 2007, que resultaram no início das batalhas judiciais envolvendo o atleta.
Caso Thiago Neves
Após o novo capítulo do imbróglio judicial vir à tona, a reportagem do UmDois Esportes entrou em contato com o ex-mandatário paranista José Carlos de Miranda, que esteve à frente do clube entre 2004 e 2007.
Desde 2002, na gestão de Ênio Ribeiro de Andrade, o Paraná possuía apenas 50% dos direitos econômicos de Thiago Neves, já que a LA, em contrapartida, por fornecer alimentação aos atletas no Ninho da Gralha, escolheu cinco promessas da base para receber 50%. O meia foi um dos eleitos.
Em 2006, já com Miranda no poder, o Paraná vendeu 30% de sua parte para empresa Systema, de Rabello. Na sequência, os outros 20% restantes ao Tricolor também foram vendidos.
“Tinham notícias que falavam que eu não poderia fazer essa negociação, mas eu tinha direito de fazer, eu era o presidente eleito. Na época, o Conselho aplaudiu em pé”, relembrou Miranda, que citou a cifra de US$ 400 mil no total.
“A negociação que deu errado não foi na minha gestão. A única coisa que me acusaram é que os US$ 400 mil que vendemos foi muito barato”, disparou.
Negociação deixou "herança maldita" ao Paraná
Em 2008, sob a gestão do ex-presidente Aurival Correia e com a negociação fechada com o Fluminense, foi pago para a LA Sports a parcela referente aos 32% deles, o correspondente a R$ 640 mil. O processo atual, justamente, refere-se a essa negociação, já que o acordo aconteceu sem o aval da LA, que alega que deixou de lucrar mais com o jogador, já que Systema e Paraná fizeram o acordo por conta própria.
O primeiro processo transcorrido se deu porque o R$ 1,36 milhão dos 68% da Systema foi sacado e utilizado para outros fins.
Por mais que tenha atuado diretamente no caso, Aurival Correia, questionado pela reportagem, não soube explicar os motivos de o valor da Systema não ter sido destinado, na época, a Leo Rabello. O ex- mandatário também não soube opinar sobre o atual processo em que a LA ganhou na Justiça o direito ao pagamento de R$ 20 milhões.
“Isso faz muito tempo. Não lembro de nada disso”, afirmou Aurival Correia por telefone.
A reportagem enviou ao ex-presidente uma série de matérias que detalham o caso, inclusive, citando o nome de Correia, porém, mesmo assim, não obteve respostas em relação ao acordo feito na época.
Erros dos ex-presidentes no caso Thiago Neves
Miranda foi questionado se teve conhecimento sobre as transações econômicas da época.
“Eu não tinha autoridade, estava suspenso. Aurival assumiu, era meu vice, meu tesoureiro e depois foi eleito. A informação que eu tinha é que tinha sido pago. Mesmo com minha suspensão, segui frequentando reuniões dos Conselhos Consultivo e Deliberativo e não sabia de nada. Não estou dizendo que Aurival é culpado. Ele deve ter tido a orientação errada”, opinou.
Miranda disse não estar surpreso com o silêncio do ex-vice. “Ele se decepcionou muito com o futebol, teve uma tristeza muito grande. Preferiu se afastar, não frequenta mais esse ambiente e nem gosta de falar sobre o assunto”, detalhou.
"A volta dos - problemas - que não foram"
A atual ação que deu ganho de causa à LA Sports, e que está
em liquidação de sentença, se deu, pois o empresário disse que foi prejudicado
quando, em 2007, a Systema entrou em acordo com o Paraná para abrir mão dos
direitos que tinha do atleta, quando houve o primeiro acordo trabalhista entre
as partes e ele pudesse assinar com o Fluminense.
O desdobramento causou espanto em Miranda, que contou que também acreditava que o caso estivesse encerrado.
“Ajudei ao Leonardo no que acreditamos ser o fechamento do caso. Fiz três viagens com ele e o jurídico para o Rio de Janeiro. Acertamos com o Leo Rabello. O Werner que bancou o pagamento e saímos de lá fazendo comemorações. Foram feitos jantares para comemorar a solução do maior problema da história do Paraná”, detalhou.
O ex-mandatário também falou que não houve irregularidades nos mandatos paranistas. “Não tem nada de ladrão, como falam que o Miranda foi ladrão, o Aramis [Tissot, ex-presidente], o Aurival foi ladrão. Foram cometidos erros, como eu cometi. Mas ninguém é ladrão”, finalizou.