Quarta Divisão

O que aguarda o Paraná na Série D? Os exemplos de quem saiu do fundo do poço

Por
Fernando Rudnick
18/09/2021 16:37 - Atualizado: 04/10/2023 17:28
O que aguarda o Paraná na Série D? Os exemplos de quem saiu do fundo do poço
| Foto: Albari Rosa/Foto Digital/UmDois

Da queda em 2007 ao acesso em 2017, o Paraná levou exatamente uma década para retornar à elite do futebol brasileiro. Apenas quatro anos depois, rebaixamento após rebaixamento, a realidade do Tricolor mudou de maneira inimaginável.

Em 2022, afundado em dívidas, o time jogará a Série D pela primeira vez em sua história. Como sair do fundo do poço? O que fazer para recuperar o clube?

O UmDois Esportes buscou exemplos de quem já encarou a Quarta Divisão para pontuar os desafios do difícil resgate do time da Vila Capanema.

O exemplo gaúcho

Disputar a Série D também foi um calvário para o Juventude, equipe que caiu abraçada com Paraná na década passada, mas que conseguiu se organizar e ressurgir. Nesta temporada, o Papo voltou a disputar o Brasileirão após 13 anos.

Assim como na queda livre tricolor, a equipe de Caxias do Sul bateu no fundo do poço em menos de cinco anos. E a pancada foi tão forte que o acesso só veio depois de três temporadas na Quarta Divisão, entre 2010 a 2013.

“Foram momentos complicados porque a gente não tinha recurso para pagar salários, não só de jogadores, até mesmo os funcionários ficaram sem receber”, explica o vice-presidente de administração e marketing do Juventude, Fábio Pizzamiglio.

O resgate do clube, claro, não aconteceu de uma hora para outra. Foi gradual e sustentável, contando com uma reestruturação interna, suporte dos torcedores e, principalmente, pés no chão. Tudo isso, encarando gramados e arbitragens de menor nível.

“Foi preciso entender que estávamos na Série D. O clube tem que se adequar à realidade e fazer com que a torcida entenda isso, por que há cobrança. Mas nosso torcedor se aproximou”, frisa o dirigente.

“Quando caímos da Série A para a Série B, tivemos um problema grande. Foram gastos valores exorbitantes para tentar voltar. Não entenderam o tamanho do clube naquele momento”, enfatiza.

Mesmo com apoio da torcida, que manteve o número de associados em patamar não tão distante do anterior, o encolhimento do time refletiu na perda de arrecadação com televisão e patrocínios. A saída foi anganriar apoiadores locais.

“Na Série A você é “comprado”. Agora, na C ou na D, você tem que ir atrás e se “vender”, principalmente para o público local”, compara o Pizzamiglio.

O caminho do Juventude, no entanto, teve outros percalços. A vaga para a Série B só veio em 2016 – e a estadia por lá não durou muito. Os gaúchos foram rebaixados à Terceira Divisão em 2018 e precisaram de dois acessos seguidos (2019 e 2020) para jogar o Brasileirão hoje.

“O ex-presidente Roberto Tonietto aportou bons valores no clube, organizou administrativamente. Mas depois do primeiro acesso para a Série B, o time caiu no ano seguinte e ele pediu afastamento. Mas a diretoria formada por ele seguiu, com o mesmo foco financeiro e administrativo, fazendo parcerias, e enfim voltamos à Série A”, relembra o vice-presidente, que citou a parceria do Juventude com a empresa agenciadora de atletas L.A. Sports como peça importante para o sucesso do projeto.

Outra estratégia adotada pela equipe de Caxias do Sul foi priorizar a Copa do Brasil em detrimento do Estadual. Em 2016, por exemplo, o time avançou às quartas de final do torneio mata-mata mesmo estando na Série C. Em 2019 e 2020, alcançou a fase de oitavas de final.

“A previsão de orçamento de 2016 era de R$ 8 milhões, mas executamos R$ 18 milhões. Em 2020, a previsão era de R$ 18 milhões, mas chegamos a quase R$ 40 milhões. Com essa receita extra fomos acertando dívidas passada e até investindo, modernizando o Estádio Alfredo Jaconi”, ressalta o dirigente.

Fantasma disciplinado

Em sua terceira temporada consecutiva na Série B, o Operário é outro exemplo para o Paraná. O time foi campeão da Série D em 2017, contrariando as probabilidades, após uma eliminação sofrida no ano anterior para o Remo, além de uma inesperada queda à segunda divisão estadual em 2016.

“Quando fomos para a Divisão de Acesso do Paranaense, o sócio parou de pagar, os patrocinadores reduziram os valores. Você perde em tudo. Foi quando eu tive que colocar dinheiro para sustentar o clube, ou estaríamos nesta draga que está o Paraná”, afirma o presidente do grupo gestor do Fantasma, José Álvaro Góes Filho, que assumiu em 2017.

Na visão do dirigente do time de Ponta Grossa, o investimento pontual foi necessário para colocar a equipe no rumo certo, ao mesmo tempo uma administração profissional foi implantada dentro do clube.

Álvaro pontua, por exemplo, que como as receitas deste ano ficaram 33% abaixo do esperado pela pequena adesão do sócio-torcedor, será preciso tirar o pé para a próxima temporada.

“Vamos reduzir contratações, trazer jogadores mais baratos. O que não podemos fazer é continuar com essa bola de neve, aumentando a dívida”, fala.

Esse tipo de controle não aconteceu no Tricolor ao longo dos anos. Agora, o clube da Vila Capanema precisa se reconstruir diante de um cenário muito complicado.

“O que é o duro na situação do Paraná é que ele não tem credibilidade, pois não paga em dia. E aí nenhum jogador quer jogar lá. Quem aceita vir é só tranqueira”, lamenta Álvaro.

Assim como as dívidas, a diminuição brusca das receitas é um forte obstáculo. Segundo o mandatário do Fantasma, a folha salarial mensal do elenco e comissão técnica na época do acesso à Série C era de R$ 360 mil.

“Com menos que isso não sobe. O que o Paraná tem que fazer é encontrar empresários para investir, montar um time que suba. Tentar prorrogar as dívidas, fazer um acerto. Se tiver patrimônio, tem que usar para estancar as dívidas. Não tem outra forma”.

É preciso entender de futebol

Ídolo do Paraná, o comentarista do SporTV Ricardinho acredita que o clube não tem gestão esportiva, nem planejamento há anos. E essa repetição de más administrações levou quem dominava o estado nos anos 90 à prateleira mais baixa do futebol brasileiro três décadas depois.

“O último acesso só aconteceu porque teve um investidor que colocou as contas em dias, teve controle. Mas foi só aquele ano. Quando o Carlos Werner se afastou, a coisa degringolou de novo”, aponta Ricardinho.

“O Paraná nunca planejou a médio e longo prazo. Isso é desde a minha geração, na década de 90. Ás vezes se planejava o ano seguinte, mas acabou a condição financeira e, como nunca houve planejamento, infelizmente o time bateu na Série D. Tenho certeza absoluta que há muitos anos o Paraná não sabe o que é um planejamento e orçamento anual, de temporada. Quanto vai ter de receita, quanto vai poder gastar com folha de pagamento”, completa o ex-jogador.

Ou seja, admitir onde está e encarar a realidade – por pior que ela seja – é o único caminho para o Tricolor começar uma recuperação na gestão do presidente Rubens Ferreira.

“Não conheço as pessoas da nova gestão, mas espero que tenham essa visão diferente, com gestão e conhecimento de futebol, e que não repitam os erros do passado”, pede o ídolo tricolor.

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Fernando Rudnick é formado em jornalismo e pós-graduado em comunicação esportiva. Sempre repórter, começou a cobrir o dia a dia dos times paranaenses em 2009, quando entrou na Gazeta do Povo. Atualmente, é coordenador do UmDois Es...

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