Há 15 anos, Paraná conquistava vaga na Libertadores
Há exatos 15 anos, o Paraná encerrava a sua melhor campanha em um Brasileirão. Em 2006, o Tricolor terminou o campeonato na quinta colocação. Foram 18 vitórias, seis empates e 14 derrotas, com 56 gols marcados e 49 sofridos.
Mas o jogo mais marcante daquele ano certamente foi o último. No dia 3 de dezembro, o time paranista recebeu o São Paulo na Vila Capanema e ficou num 0 a 0 que o levou a disputar a Libertadores na temporada seguinte.
Naquela partida, a equipe comandada pelo técnico Caio Júnior foi a campo com: Flávio; Peter, João Paulo, Edmilson e Eltinho (Gerson); Pierre, Beto, Batista (Henrique Dias) e Sandro; Cristiano (Joelson) e Leonardo. Praticamente a base de toda a competição, que ainda contava com os zagueiros Emerson e Gustavo e o meia Maicosuel.
O Paraná chegou àquela partida dependendo das próprias forças para disputar o torneio continental. Na penúltima rodada, tinha vencido o São Caetano por 2 a 0, fora de casa, e contou com o empate do Vasco em 1 a 1 com o Santos, em São Januário. Com os resultados, passou o clube carioca na tabela e teria pela frente o já campeão brasileiro.
Se vencesse o jogo, garantia a vaga. Caso contrário, teria que torcer por um tropeço do Vasco contra o Figueirense, no Orlando Scarpelli. Que foi o que acabou acontecendo.
"Nossa equipe vinha em uma sequência boa, com muita motivação e acreditávamos que mesmo contra o São Paulo, o campeão, poderíamos conquistar o resultado. O que fez as coisas acontecerem foi o histórico do campeonato. Tivemos uma boa classificação do começo ao fim e fomos merecedores", relembrou Beto, o capitão do time naquele ano.
"Um calor imenso que estava naquele dia, a Vila lotada, aquela tensão de última rodada, onde se definiria tudo. Foi um jogo muito equilibrado, mas acabou 0 a 0 e quando ficamos sabendo do empate do Vasco foi aquela emoção que para quem estava lá naquele momento foi muito gostoso", reforçou.
Um dos mais experientes daquele grupo, o ex-goleiro Flávio também ressaltou que existia uma certa ansiedade no elenco, mas ao mesmo tempo todos mostravam confiança de que a vaga viria.
"Você fica apreensivo, querendo que o jogo comece logo. Mas víamos nos olhos dos jogadores uma vontade de definir a situação. Quando você está próximo de uma decisão isso mexe com você", contou Flávio.
2006 começou para o Paraná com título e terminou com vaga na Libertadores
O ano de 2006 foi marcante na história do Paraná. Começou com a saída da fila no Campeonato Paranaense após nove anos, conquistado o título em cima da Adap de Campo Mourão, e culminou com o quinto lugar no Brasileirão.
"Foi um ano bem legal, nosso time era forte, muito unido, nós não sentíamos os desfalques de um ou outro jogador. Sempre quem entrava correspondia. Então foi um grupo muito bom de trabalhar", ressaltou Flávio.
No entanto, nem tudo foi tranquilo na temporada. Logo após a conquista do Estadual, o Tricolor perdeu o técnico Luiz Carlos Barbieri, que pediu para sair por problemas com alguns membros da diretoria.
"Começamos o ano com o Barbieri, porém, quando ficamos sabendo da saída dele, teríamos que buscar algo para continuar trabalhando. Gostaríamos que ele ficasse, mas eram coisas internas do clube", disse Beto.
"O elenco estava fechado com o Barbieri. Como eu era um dos mais experientes, o Barbieri me chamava para conversar e me falou que estava meio triste com algumas coisas, deixou claro que não estava muito satisfeito, mesmo com a boa campanha no Paranaense. Aí fomos campeões, ele saiu e veio o Caio Júnior. O nosso time já era forte, vieram alguns jogadores, fechamos com o Caio e embalamos", revelou Flávio.
Início complicado no Brasileirão até embalar
Ao mesmo tempo em que saía Barbieri, chegava Caio Júnior. O novo treinador teve praticamente cinco dias para trabalhar antes da estreia, contra o Juventude, fora de casa. A primeira vitória no Brasileirão veio somente na terceira rodada, com uma goleada por 5 a 2 sobre o Grêmio.
Porém, depois foram mais quatro jogos sem vencer, até que aplicou um novo 5 a 2, dessa vez na Ponte Preta, fora de casa. Foi o início da arrancada.
O time emendou seis vitórias seguidas, sendo uma delas um 4 a 1 no Flamengo, fora de casa, e 1 a 0 no então líder Cruzeiro, no Pinheirão, além do gol de placa de João Paulo do meio-campo no 2 a 1 em cima do Goiás no Serra Dourada.
Terminou o primeiro turno na quarta colocação, com 31 pontos. Como teve um jogo adiado - por São Paulo e Inter estarem disputando o título da Libertadores - chegou à ultima rodada da primeira metade brigando pelo simbólico título do primeiro turno, quando perdeu por 3 a 2 para o São Paulo, no Morumbi.
Queda de rendimento, derrotas seguidas e quase Caio deixa o Paraná
Ali, inclusive, a equipe sofreu seu pior momento no Brasileirão, quando emendou quatro derrotas seguidas. Depois, foi oscilando bons e maus resultados, voltou a ter a Vila Capanema como casa na vitória por 2 a 0 sobre o Fortaleza. A partir dali, foram cinco vitórias em seis partidas, que recolocaram o Paraná na briga pela Libertadores.
Mas, aí, duas derrotas, sendo uma delas um 4 a 0 para o Athletico, na Arena, na 31ª rodada, por pouco não colocaram o trabalho em crise.
"Tiveram seus problemas, mas isso fortaleceu o grupo. Do meio para o final da competição tivemos alguns resultados adversos, como o clássico com o Athletico na Arena. Ali acho que foi a virada de chave. Perdemos por 4 a 0, o Caio Júnior chegou a tomar a decisão de pedir demissão, mas conversei com ele, ele foi para casa, no dia seguinte convocou o grupo todo e teve a ideia de falar que restavam sete jogos e aquilo ali seria a nossa Copa do Mundo", disse Beto.
Reta final teve arrancada rumo à Libertadores
Nos seis jogos seguintes, foram três vitórias, um empate e duas derrotas (sendo uma delas para o Vasco), que fizeram o Tricolor chegar vivo na briga até aquele 0 a 0 com o São Paulo, que culminou na vaga para a Libertadores.
"A gente estava preparado para a competição e os resultados foram acontecendo ao natural. Tropeços são normais ao longo de um campeonato. Mas tudo somou para que o resultado viesse. Foi o trabalho como um todo", afirmou Beto.
"As coisas aconteciam e dava tudo certo. Éramos bem arrumados defensivamente e isso era importante. Tivemos uma regularidade muito boa do meio do campeonato até o fim", destacou Flávio.
Campanha foi o começo da queda do Paraná
O final de 2006 foi um dos mais marcantes para o clube. E um dos últimos também. No ano seguinte, o Paraná começou bem, chegou às oitavas de final da Libertadores, quando foi eliminado pelo Libertad, do Paraguai, e perdeu o bicampeonato paranaense para o Paranavaí. Iniciou bem o Brasileirão, com boas vitórias, mas acabou sendo rebaixado.
"O início da situação do Paraná hoje foi naquele ano. Se pegar o time que começou o ano era um e terminou outro completamente diferente. Diferente de 2006, algumas divergências fora de campo aconteceram. O trabalho também não foi mantido e a partir daí as coisas tomaram outros caminhos", definiu Beto.
"É difícil de explicar. Ser campeão estadual, ir para a Libertadores e no ano seguinte chegar com uma expectativa de manter este nível de competitividade e de repente as coisas não darem certo. Para mim foi um ano complicado. No Brasileirão eu comecei a me machucar, fiquei metade do campeonato fora e nunca tinha passado por isso. Quando o clube mais precisou eu não pude ajudar", ressaltou Flávio.
Debandada e trocas de treinadores foram cruciais
Para os dois, o sucesso de 2006 refletiu nos problemas do ano seguinte. Daquela equipe que conquistou a vaga na Libertadores, somente eles e Batista ficaram. Todos os outros seguiram outros caminhos. Caio Júnior, Gustavo, Edmilson, Pierre e Cristiano foram para o Palmeiras. Leonardo acertou com o Flamengo, Eltinho foi para o Japão e Peter e Maicosuel acertaram com o Cruzeiro.
No ano seguinte, o Tricolor começou a temporada com Zetti, que logo nas primeiras rodadas foi para o Atlético-MG. Depois, veio Pintado, que também recebeu outra proposta e foi embora no meio do caminho. Ainda comandaram o Tricolor Gilson Kleina, Lori Sandri e Saulo de Freitas. Sem falar os jogadores que foram embora.
"Foram muitas mudanças, as saídas do Henrique, do Dinelson, do Xaves, do Gerson, o Muçamba se machucou, eu me machuquei e fiquei fora dos últimos dez jogos. Foram sequêncuas acumulativas, muitos técnicos ao longo do campeonato. A confiança que vinha de 2006 não conseguimos manter", lembrou Beto.
"Os times já olhavam para o Paraná de forma diferente, pelo que tínhamos feito no ano anterior. E isso desperta o interesse dos adversários, o que acaba dificultando também. E tiveram as constantes trocas de treinadores, aí muda estilo de jogo e muitas vezes os jogadores não se adaptam muito facilmente", disse Flávio.
"Quando um time é rebaixado, às vezes querem reformular tudo. E às vezes nem estava tudo errado. Aconteceram descuidos nessa reformulação, não foi mantida uma base e isso atrapalhou bastante para aquela segunda divisão, é um outro campeonato e o clube não estava acostumado, tanto que não subiu e acabou se perdendo, com muita pressão, cobrança", completou o ex-goleiro.