Entenda de onde vem a dívida do Paraná que leva a sede da Kennedy a leilão
O Paraná está prestes a perder mais um patrimônio: a sede social da Kennedy. Com o leilão confirmado para esta quarta-feira, 9 de março, o clube que já foi um dos mais ricos do Brasil e se orgulhava de sua estrutura de heranças de fusões desde o nascimento, agora encara uma realidade de perdas e dívidas milionárias.
O leilão do patrimônio do bairro Guaíra servirá para abater uma dívida antiga com o Banco Central do Brasil (BACEN). Mas de onde vem esse alto passivo?
Segundo o Banco Central, os valores são provenientes de transferências de atletas ao exterior entre os anos 90 e 2006, quando o clube não teria declarado de forma correta o dinheiro recebido pelos ativos.
As transferências seriam dos laterais Balu (Cerro Porteño, do Paraguai, em 1993), Denílson (Yokohama Flugels, do Japão, em 1996) e Gil Baiano (Sporting, de Portugal, em 1996); do meia Ricardinho (Bordeaux, da França, em 1997) e do atacante Claudinho (Cerezo Osaka, do Japão, em 1998), além do atacante Ilan (Sochaux, da França, já em 2004).
Durante o período, o clube foi comandado por seis presidentes: Darci Piana, Ocimar Bolicenho, Ernani Buchmann, Dilso Santo Rossi, Ênio Ribeiro de Andrade e José Carlos de Miranda. Buchmann foi quem esteve à frente da principal delas: a de Ricardinho. Na época, a oferta pelo meia foi de R$ 2 milhões.
"A única que envolve meu mandato, se deu de acordo com a legislação da época. Não houve evasão de divisas, pelo contrário. Houve dinheiro recebido no Brasil, em reais, contabilizado tostão por tostão. A gestão que comandei não pode ser penalizada por deficiência na argumentação legal havida em gestões posteriores. Um inquérito aberto na Polícia Federal na época foi arquivado sob o sólido argumento de que não tinha havido evasão de divisas, mas, sim, entrada de divisas", justificou Buchmann à reportagem.
Bacen entra na Justiça contra o Paraná
O Bacen entrou com a ação na Justiça ainda em 2003 para cobrar os débitos. O valor era de mais de 3,9 milhões de dólares, equivalente a R$ 11 milhões na época. O litígio acontece desde então. Mais recentemente, em 2019, o juiz Dineu de Paula suspendeu um leilão do patrimônio para que as partes entrassem em acordo.
No ano seguinte, o clube ofereceu uma proposta de pagamento mensal no valor de R$ 1 mil, a fim de substituir a penhora. Os valores foram negados pela Justiça Federal, pois não promoveriam amortização da dívida principal, nem mesmo a correção monetária mensal.
O débito milionário do clube com o banco hoje é de R$ 35.103.796,14, atualizado até novembro de 2021. O leilão da Kennedy já era para ter acontecido no ano passado, mas o clube conseguiu o adiamento depois da mudança da diretoria.
Mas nem mesmo a contratação do escritório de advocacia Moraes & Junior, de Brasília, especialista no assunto deve ser suficiente para evitar mais uma perda. Esta é a maior dívida do Tricolor com uma empresa e, em um levantamento feito ainda em 2014, o clube apareceu como o maior devedor do Bacen.
A sede da Kennedy está avaliada em R$ 62.399.975,00. O local também está penhorado pela Justiça do Trabalho por conta do Ato Trabalhista. Ou seja, 20% do valor arrecadado com o leilão também deve ir para o pagamento de credores. De acordo com o balanço mais recente, a dívida total paranista chega a quase R$ 150 milhões.
Paraná já alegou que Kennedy não poderia ser leiloada
O Paraná também já alegou que, apesar da determinação da Justiça Federal, a Sede da Kennedy não poderia ser leiloada. Isso porque o imóvel foi objeto de doação da Prefeitura de Curitiba ao Água Verde, um dos clubes que deram origem ao Paraná.
O impedimento é por uma lei municipal, sancionada em 16 de abril de 1958, pelo então prefeito Ney Braga. Este foi um dos motivos que também impediu o clube de vender 70% do imóvel em 2015. O valor exigido na época era de R$ 60 milhões. Vale lembrar que o salão social está arrendado para uma empresa de eventos desde 2012 até 2023.