Criador de startup bilionária, Alphonse ouve todo dia: “Você tem que salvar o Paraná”. Perguntamos se ele quer
"Você tem que assumir o Paraná Clube". No círculo social do empresário Alphonse Voigt, 47 anos, a imposição é frequente.
Quase sempre em tom de brincadeira de amigos ou parentes, mas às vezes como súplica, é algo que importuna o cofundador da fintech Ebanx – startup curitibana que em 2019 foi classificada como "unicórnio", expressão usada para iniciativas avaliadas pelo mercado em mais de US$ 1 bilhão, cerca de R$ 5,7 bilhões atualmente.
Recentemente, a situação ganhou contornos de boato, com o nome de Voigt circulando como candidato nas eleições tricolores programadas para setembro.
“Me lançaram a presidente do clube. Me incomoda um pouco [essa situação]”, desabafa o CEO da empresa de processamento de pagamentos, parceira de gigantes do setor como Airbnb, AliExpress, Playstation, Spotify e Uber.
Voigt sempre se orgulhou de ser paranista. Frequenta a Vila Capanema desde os sete anos, quando acompanhava o avô Ciro na torcida pelo Colorado, antecessor do Tricolor. No início dos anos 2000, o rosto do empresário tornou-se sinônimo de Paraná Clube na televisão. Ele fez parte do programa Tribuna no Esporte, do SBT, que tinha na bancada torcedores do Trio de Ferro, capitaneados pelo jornalista Alexandre Zraik, falecido em 2004.
Anos mais tarde, a influência do representante dos tricolores na televisão aberta o levou para dentro do clube. Em 2007, quando o time jogou a Copa Libertadores pela primeira e única vez, Voigt ocupava o cargo de vice-presidente de relações internacionais. Acompanhou a delegação na Bolívia, por exemplo, e até puxou a oração do Pai Nosso no vestiário antes da derrota para o Real Potosí, 4.000 metros acima do nível do mar.
O sucesso no mundo empresarial, aliado à conexão com a equipe da Vila, criam expectativa no torcedor, acostumado à figura do "mecenas" no futebol brasileiro. Seria Voigt o óbvio salvador de um clube que nasceu gigante no final dos anos 80, construiu hegemonia estadual na década seguinte, mas que hoje convive com o fantasma da Série C nacional, enquanto mergulha em caos financeiro?
A resposta é enfática: “Com relação a salvador, primeiro que não gosto dessa expressão salvador da pátria. Um negócio, e futebol é negócio hoje em dia, tem que se sustentar por conta própria”, afirma o paranista.
“E outra coisa que não quero fazer é me envolver em administração de clube. A única forma que vejo de contribuir com o Paraná é sendo sócio do clube, pagando em dia, indo aos jogos. Não tenho interesse nenhum em me envolver com a administração do clube”, sentencia Voigt.
Formado em Direito, Alphonse Voigt tem forte veia empreendedora. Acertou, mas também quebrou a cara antes de deslanchar com o Ebanx, fundado em 2012, com os sócios João del Valle e Wagner Ruiz. Quebrou “quebrado”, como costuma dizer, ao se envolver com um negócio de bingos, por exemplo. Também saiu no prejuízo com um show que foi fracasso de público no estádio paranista.
“Fiz vários empreendimentos na minha vida. Alguns deram certo, outros não, mas o que caminha bem até hoje é o Ebanx, iniciativa também relativamente tarde na minha vida empreendedora”, cita.
“Tudo aconteceu um pouco mais tarde na minha vida. Tenho 47 anos, e casei aos 40. Sou pai do Daniel, que vai fazer dois anos, e da Laura, que acabou de fazer cinco. E hoje eu sou o diretor executivo da companhia, um trabalho intenso, também participo do Conselho”.
As prioridades mudam. Família e trabalho hoje norteiam o empresário, que segue apaixonado por esportes radicais. Ele tem mais de mil saltos de paraquedas (num deles, um acidente quase o deixou paraplégico) e costumava viajar ao Havaí para surfar. A atividade da vez é a caça submarina, onde mergulha em apneia por até dois minutos para tentar voltar com um peixe.
“Então, sinceramente, não me vejo de forma alguma me envolvendo em qualquer tipo de política clubística agora e pelos próximos anos também. Acho que essa é uma coisa que já passou na minha vida. Sou muito feliz, muito grato, mas já passou”, reforça Voigt.
Influência na vida do Paraná, só do alto do camarote 1 do Durival Britto, espaço que ainda divide com o vô Ciro, com quem tudo começou.
De torcedor na TV a apresentador esportivo
Na entrevista ao UmDois Esportes, Voigt também relembrou o período em que literalmente se divertia diariamente na televisão. Foi no começo do anos 2000, no Tribuna no Esporte.
"Era uma comédia total aquilo. E o Alexandre [Zraik] nos dava aquela liberdade. Eu me lembro, o Coritiba perdia do Santos, por exemplo, a gente levava um balde de peixe que comprava na peixaria. O Luizão falando e a gente jogava o balde em cima da bancada. Uma vez o Mauro [Singer] teve a brilhante ideia de levar um urubu [risos]", recorda.
Com o falecimento de Zraik, Alphonse mudou de rumo e acabou se tornando o próprio apresentador em outra emissora, no Canal 21. Uma edição em especial, de 2007, quando colocou Mario Celso Petraglia para debater com os representantes do então governador Roberto Requião, não sai da memória.
"Teve aquela célebre entrevista da Copa do Mundo, em que a gente reuniu absolutamente tudo para falar da decisão das sedes. Juntamos todo mundo... Fizemos uma discussão ferrenha de umas duas horas e meia. Aquele programa foi histórico", comemora.
Na sequência, Voigt também trabalhou no Jogo Aberto, na Band, até passar a se dedicar totalmente às suas outras atividades profissionais – que mais tarde levaram à criação do Ebanx.
Quase dez anos depois, com um sucesso estrondoso da startup de pagamentos, outra pergunta também precisa ser respondida recorrentemente pelo empreendedor. Está bilionário?
"A empresa, vamos dizer assim, não dá para dizer que não está. Nunca foi uma meta nossa querer chegar [nesse valor], mas é um valor que o mercado nos deu e algo que você não consegue pegar, está no que a empresa vale", explica.
"Então, não estou bilionário. Claro, estou numa condição, estou muito feliz de poder ter algo que nunca tive e nunca busquei que foi a tal da segurança, né? Até me sinto meio que um peixe fora d'água porque nunca busquei essa segurança para poder dar para minha família. Mas que não significa muita coisa você ter um pouco de dinheiro, tem tanta coisa que você tem que ter junto com isso. Certamente dinheiro não é tudo na vida", conclui o cofundador do Ebanx.
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