Luto no esporte

Maguila, maior boxeador peso-pesado do Brasil, morre aos 66 anos

Por
Folhapress
24/10/2024 21:13 - Atualizado: 24/10/2024 21:13
Maguila morreu aos 66 anos
Maguila morreu aos 66 anos | Foto: Reprodução/Instagram

Morreu nesta quinta-feira (24) aos 66 anos Adilson "Maguila" Rodrigues, maior boxeador peso-pesado do Brasil e um dos principais na história da América do Sul.

Ele vinha sofrendo de encefalopatia traumática crônica, também conhecida como demência pugilística, diagnosticada em 2013, e procurava minimizar os sintomas com um tratamento a base de canabidiol.

Maguila não chegou à disputa de um dos principais cinturões mundiais — embora tenha conquistado o irrelevante título da Federação Mundial de Boxe —, mas, quando se fala de carisma, teve poucos rivais entre atletas brasileiros.

Nem bem o locutor de ringue fazia o anúncio oficial de suas vitórias, ele começava a mandar abraços para todos: o açougueiro que caprichava na carne para ele ficar forte, o moço da concessionária onde comprou o carro etc. Até que o repórter era forçado a interrompê-lo. Há controvérsias se Maguila era um sujeito genuinamente simplório ou se, sob a sua aparência rústica, habitava um gênio do marketing.

Um dos primeiros técnicos de Maguila, que viria a trabalhar com o peso-pesado no final de sua carreira, Sidney Ubeda Gomes conta que o boxeador "lia" revistas de cabeça para baixo, de propósito, só para chamar a atenção.

Gomes aponta que Maguila se divertia quando curiosos o abordavam, constrangidos, para dizer que a revista estava de ponta-cabeça. Outro episódio, relatado por amigos e reconhecido pelo próprio boxeador, dá conta de que ele escapou de servir ao Exército, por pouco, ao fingir-se de louco.

"Ele falou que queria pegar o fuzil para dar tiro em todo o mundo", recordou, aos risos, o ex-boxeador Mike Miranda.

Maguila foi rejeitado em academias antes de se tornar profissional

Por seu tamanho, logo que chegou a São Paulo, onde moravam alguns de seus irmãos, Maguila foi aconselhado a tentar a sorte no boxe. Foi rejeitado algumas vezes em outros locais até finalmente ter uma chance ao ser acolhido na academia do BCN, comandada por Ralf Zumbano, tio do ex-campeão Eder Jofre.

Após uma curta carreira no amadorismo, onde em termos regionais não encontrou rivais à altura, passou ao profissionalismo em fevereiro de 1983.

Após um início arrasador — conquistou o título brasileiro em sua quarta luta e o sul-americano na 11ª—, sofreu dois reveses em 1985. Foram duas derrotas por nocaute, a primeira para o argentino Daniel Falconi e a segunda para Andre Van Den Oetelaar, o "Martelo Holandês".

O ex-campeão médio-ligeiro Miguel de Oliveira substituiu, então, Zumbano no córner de Maguila. Verdade que a fragilidade de seu queixo nenhum técnico poderia resolver, mas, sob o comando de Oliveira, Maguila passou a mostrar mais técnica, expondo-se menos nos combates.

Maguila se vingou das duas derrotas, com duas vitórias por nocaute, e sua equipe, capitaneada pelo narrador Luciano do Valle, deu início ao projeto "Mike Tyson".

Primeiro, Maguila passou a lutar com pugilistas norte-americanos, os mesmos que boxeadores ranqueados vinham enfrentando. Até que chegou a hora de um grande teste. O brasileiro subiu ao ringue em São Paulo com James "Quebra-Ossos" Smith, que poucos meses antes aguentara em pé 12 assaltos com o demolidor "Iron" Mike Tyson.

Foi uma luta polêmica. Os críticos acharam que Maguila mais correu do que bateu. Dois jurados viram vitória de Maguila, por 98 a 97 e 98 a 96. Um terceiro jurado, que apontou triunfo do americano, por 100 a 91, foi suspenso.

Com base em sua atividade e no trabalho de bastidores, o brasileiro foi alçado à segunda posição no ranking e entrou em rota de colisão com o ex-campeão cruzador Evander Holyfield, o primeiro do ranking, em 1989, em Lake Tahoe, nos Estados Unidos.

Após um bom primeiro assalto, em que surpreendeu o norte-americano, Maguila sofreu um violentíssimo nocaute no assalto seguinte e chegou a sofrer convulsões.

No ano seguinte, Maguila enfrentou o ex-campeão George Foreman, que voltava de uma aposentadoria de dez anos, em Nevada. Um novo nocaute no segundo assalto decretou o fim da carreira do brasileiro como sério candidato a disputa de título.

Passou a excursionar pelo interior paulista, por outros estados e até no Uruguai, contra adversários de no máximo nível mediano. Uma derrota por nocaute para o novato Daniel Frank, que tinha apenas cinco lutas, selou a sua aposentadoria dos ringues em 2000.

Vida após a aposentadoria

O cartel profissional de Maguila, que se estendeu de 83 a 2000, inclui 77 vitórias, 61 nocautes, 7 derrotas e 1 empate. Para o boxeador, não faltaram atividades, que começaram a aparecer antes mesmo do fim de sua carreira, durante a qual adquiriu um posto de gasolina.

Maguila foi comentarista econômico do programa popular "Aqui Agora", participou de comerciais e, a convite do prefeito Toninho da Pamonha, aceitou o cargo de secretário de Esporte de Itaquaquecetuba, em São Paulo.

Viu ainda dois de seus dois filhos, Adenilson e Edimilson — teve um terceiro filho, Adilson Junior —, tornarem-se boxeadores profissionais, mas sem carreiras tão produtivas quanto à do pai famoso.

Siga o UmDois Esportes

Veja também:
Campeão do Bellator, brasileiro promete estreia de gala no UFC
Campeão do Bellator, brasileiro promete estreia de gala no UFC
Qual time tem mais títulos da Recopa? Veja o ranking
Qual time tem mais títulos da Recopa? Veja o ranking
Volante se espanta com possível saída do Coritiba
Volante se espanta com possível saída do Coritiba
Justiça proíbe torcidas organizadas de Athletico e Paraná Clube dos estádios
Justiça proíbe torcidas organizadas de Athletico e Paraná Clube dos estádios

Para trazer cada vez mais agilidade e qualidade em seu noticiário, o UmDois Esportes conta com os serviços da Folhapress, agência de notícias com quase três décadas de atuação no Brasil. Publicamos reportagens sobre futebol nacion...

twitter
+ Notícias sobre Mais Esportes
Ex-Athletico e Coritiba brilha no retorno ao futsal
Recuperação

Ex-Athletico e Coritiba brilha no retorno ao futsal

Lenda do boxe mundial morre aos 76 anos
Luto

Lenda do boxe mundial morre aos 76 anos

Novo rebaixamento coloca em xeque projeto de vôlei de Curitiba: "Cansativo"
Futuro indefinido

Novo rebaixamento coloca em xeque projeto de vôlei de Curitiba: "Cansativo"

Maguila, maior boxeador peso-pesado do Brasil, mo...