Pandemia

Um silêncio e o vazio: a saudade dos torcedores após um ano longe dos estádios

Por
Monique Silva, especial para o UmDois Esportes
08/03/2021 17:45 - Atualizado: 29/09/2023 20:04
Um silêncio e o vazio: a saudade dos torcedores após um ano longe dos estádios
| Foto: Arquivo pessoal

Sem emoção, som e alma. A ausência dos torcedores nos estádios, durante a pandemia provocada pelo coronavírus, mexeu com a rotina dos clubes de futebol pelo mundo. No lugar de arquibancadas cheias, restou o silêncio e uma saudade que só aumenta para os torcedores.

Há pouco mais de um ano, a nova realidade
forçou mudanças que atingiram em cheio o maior patrimônio dos clubes: sua
torcida. O isolamento social, em respeito às medidas preventivas para conter o avanço
da Covid-19, deixou um enorme vazio
em meio a um espetáculo sem plateia.

Ser testemunha, vibrar com gols e títulos, desestabilizar o adversário e viver a atmosfera de uma partida hoje se misturam à falta de perspectiva sobre quando será possível ver o futebol com público. Enquanto o cenário não muda, o que resta é saudade e um clima de nostalgia de ir a campo.

O torcedor do Athletico Murilo Dziecinny, que frequenta o estádio desde os cinco anos, fez da Arena da Baixada a sua segunda casa e hoje lamenta a distância.

“É triste não estar no estádio. Depois
de um tempo acompanhando o Athletico assiduamente, percebi que o futebol passou
a ser não só uma forma de lazer, mas se expandiu de forma intensa para outras
áreas da minha vida e até da minha rotina”, conta o psiquiatra.

Murilo esteve nos dois últimos jogos do Furacão com público, contra o Peñarol, pela Libertadores, e diante do Rio Branco-PR, pelo Campeonato Paranaense, ambos em março do ano passado. A ausência dos momentos de descontração e resenha antes e depois dos jogos fez o atleticano diagnosticar um novo “problema”.

“A falta reside nos pequenos detalhes,
sejam os pré-jogos e a alegria ao lado dos nossos amigos, discutir sobre como o
time se portou em campo ou a comemoração daquela vitória fundamental. De casa, a
gente se protege do vírus e cuida da família. Assisto aos jogos enquanto lido
com um novo problema: a síndrome de abstinência de estádio”, brinca.

Na tentativa de animar os jogos e minimizar a ausência dos torcedores, muitos clubes apelaram para a criatividade. Alguns chegaram a apostar em barulhos artificiais no sistema de áudio dos estádios, reproduzindo os cânticos de torcida. Outros realizaram campanhas com fotos de torcedores nas arquibancadas e telões virtuais. Mas nada que substitua o calor, a pressão e o apoio vindo dos torcedores.

“Jogos sem torcida são muito frios. A gente sabe que a essência se perde com a ausência do torcedor. E nós acreditamos que o time sempre joga melhor quando o torcedor está na arquibancada, incentivando. Os jogadores se dedicam mais, o jogo é mais intenso. A torcida é parte do jogo, faz parte do espetáculo”, opina o atleticano.

O torcedor Murilo Dziecinny ao lado de amigas em um dos últimos jogos do Athletico com torcida na Arena da Baixada
O torcedor Murilo Dziecinny ao lado de amigas em um dos últimos jogos do Athletico com torcida na Arena da Baixada

Amor à distância

Paola Milacki jamais pensou que ficaria tanto tempo longe do Couto Pereira. Para amenizar a saudade de ir ao estádio, a torcedora do Coritiba tem se apegado a fotos, reprise de jogos e eventuais idas à loja oficial do clube.

“Costumo ir ao Couto para
buscar produtos ou resolver assuntos na central de sócios e sempre me atento
aos detalhes, às coisas que mudaram. Vi que estão pintando praticamente o
estádio inteiro, inclusive, em algumas partes do lado de fora dá para ver como
ficaram as arquibancadas reformadas.
Assim foi o último ano, vendo o interior da
nossa casa por fotografias ou espiando do lado de fora”, disse.

Apegada ao Coritiba desde
criança, quando era levada ao estádio pelos pais, a coxa-branca agora tenta minimizar
a distância com as redes sociais. Ela  administra
uma página dedicada ao Coxa no Instagram, onde compartilha imagens e interage
com outros torcedores.

“A saudade é imensa. Eu olho minhas fotos, vídeos e a emoção de ter vivido tudo aquilo me preenche. É difícil algo ocupar esse espaço, mas isso me mantém firme para esperar até que todos voltem ao estádio. Já faz mais de um ano que não posso acompanhar o Coxa de pertinho. A última vez foi contra o Operário-PR, um dos poucos que pude no ano passado. Mas, se eu soubesse o que aconteceria depois, eu teria aproveitado muito mais”, avalia Paola.

Paola Milacki: "Se eu soubesse o que aconteceria depois, eu teria aproveitado muito mais"
Paola Milacki: "Se eu soubesse o que aconteceria depois, eu teria aproveitado muito mais"

Atmosferaque faz falta

Nada tem substituído a falta da atmosfera dos jogos e frequentar o estádio na vida de Carolina Borges. A torcedora do Paraná esteve presente no último jogo com público na Vila Capanema, na primeira semana de março de 2020, quando o Tricolor venceu o União Beltrão por 2 a 0. Três dias depois ela ainda foi ao Rio de Janeiro ver a partida contra o Botafogo, no Engenhão, pela terceira rodada da Copa do Brasil

“Foi a última vez que vi o Paraná em campo
presencialmente. Que saudades! Hoje, lidar com a saudades é bem difícil. Além
de ir ao estádio ver um grande amor jogar, também era um momento de encontrar
amigos, abraçar desconhecidos e dividir as alegrias e angústias. Ir ao estádio
é um prazer e, quando estive em tratamento para um transtorno de humor, era o
meu melhor remédio e o melhor combustível. Então é uma sensação insubstituível
para mim”, diz.

A paranista também tem tentado amenizar a saudade virtualmente como, por exemplo, participando de podcasts ao lado de outros torcedores.

“É uma ação que, mesmo nos momentos delicados que o Paraná passou recentemente, faz bem - por mais difícil que tenham sido alguns episódios. Afinal, mesmo online, é um tempo que uso para falar com outros loucos pelo time sobre as nossas incertezas, medos e expectativas. Além de debatermos sobre contratações, política do clube, entre outros assuntos que estejam em pauta na semana. É, literalmente, uma forma de vivenciar o Paraná Clube de outra forma”, diz Carolina.

"Ir ao estádio é uma sensação insubstituível para mim", dizCarolina Borges, torcedora do Paraná
"Ir ao estádio é uma sensação insubstituível para mim", dizCarolina Borges, torcedora do Paraná

Vizinhosda Arena

A nova rotina sem poder frequentar
os estádios atingiu até mesmo àqueles que são vizinhos aos estádios. É o caso da
médica Fabíola
Tigrinho, que mora a 200 metros da Arena
da Baixada
. Ao lado do marido Renato e da filha Maria Clara, ela tem até sonhado
com os jogos do Furacão.

“Fomos contra o Rio Branco-PR e jamais
poderíamos imaginar que seria o último jogo antes dessa pandemia. Não tem como
não sofrer com a saudade de ir aos jogos, de escutar o barulho que vem do
estádio, do movimento na nossa rua, do agito pré-jogo e de estar lá torcendo
pelo nosso Furacão”, diz a sócia há quase 15 anos.

Para amenizar um pouco a saudade, a
rubro-negra costuma passear pelos arredores do estádio, como na praça localizada
em frente à Arena, o café ou visitas à loja do clube. Mas o coração aperta mesmo
é quando Fabiola está em casa.

“Durante os jogos, ficamos na sacada escutando os barulhos, os gritos dos jogadores, os apitos do juiz, a vibração dos gols. Aliás, conseguimos comemorar sempre antes, já que escutamos ao vivo. A saudade é diária e dói muito estar tão perto e ao mesmo tempo tão longe da Arena”, lamenta.

Renato, Maria Clara e Fabíola: vizinhos da Arena da Baixada sentem saudade da arquibancada
Renato, Maria Clara e Fabíola: vizinhos da Arena da Baixada sentem saudade da arquibancada

Saudadesaté da corneta

O redator Douglas Ciriaco adota o bom humor
quando o assunto é estar longe fisicamente do clube do coração, o Coritiba. Ele sente saudade até da
cornetagem típica dos estádios.

“Eu estou com saudades de
encontrar o pessoal na frente do Couto, tomar um refresco antes de entrar, de
passar raiva, xingar o presidente, reclamar de quem vaia jogador durante os
jogos”, brinca.

O coxa-branca também se
mistura ao sentimento de nostalgia em um ano sem poder ir ao Couto.

“A minha paixão por futebol está muito ligada a frequentar o Couto, algo que faço desde que me conheço por gente. Faz muita falta ir ao estádio, a sensação do dia do jogo, aquela emoção que a gente só sente quando está lá, ombro a ombro com amigos e desconhecidos cantando, cornetando, se emocionando”.

Veja também:
Paraná Clube anuncia atacante ex-Botafogo e volante ex-Chapecoense para 2025
Paraná Clube anuncia atacante ex-Botafogo e volante ex-Chapecoense para 2025
Quem é Taila Santos? Brasileira disputa cinturão da PFL
Quem é Taila Santos? Brasileira disputa cinturão da PFL
Com término de inscrições, eleição para associação do Coritiba tem chapas definidas
Com término de inscrições, eleição para associação do Coritiba tem chapas definidas
Athletico pode escapar do rebaixamento contra o Fluminense? Veja as chances
Athletico pode escapar do rebaixamento contra o Fluminense? Veja as chances
+ Notícias sobre Futebol
PSG: "Um clube que não existe na Europa, um técnico arrogante..."
Futebol Internacional

PSG: "Um clube que não existe na Europa, um técnico arrogante..."

Palmeiras x Botafogo: quem tem o elenco mais valioso? Compare!
Clima de final

Palmeiras x Botafogo: quem tem o elenco mais valioso? Compare!

Copinha define grupos e sedes de 2025; veja os adversários de Athletico e Coritiba
Categorias de base

Copinha define grupos e sedes de 2025; veja os adversários de Athletico e Coritiba

Um silêncio e o vazio: a saudade dos torcedores a...