Entrevista

Sérgio Malucelli sai chateado com o Londrina e comenta SAF: "Entregaram o clube"

Por
Julio Filho
24/01/2024 17:29 - Atualizado: 24/01/2024 18:12
Sérgio Malucelli comenta fim de parceria com o Londrina
Sérgio Malucelli comenta fim de parceria com o Londrina | Foto: Gustavo Oliveira/Londrina EC

A reta final de 2023 marcou o fim da longa parceria entre o empresário Sérgio Malucelli e o Londrina. A relação teve início em 2011, com o Tubarão afundado em dívidas trabalhistas, sem dinheiro e à beira da extinção.

Entre altos e baixos, a parceria entre o clube do interior e a SM Sports rendeu um título da Segunda Divisão Paranaense, dois títulos da elite do Estadual, a conquista da Primeira Liga, além do retorno do time ao cenário nacional, com os acessos da Série D à Série B.

Na temporada passada, a relação, cujo contrato iria até 2025, não resistiu ao desgaste do rebaixamento para a Série C e da busca, por parte do Londrina, de um novo investidor para a SAF do clube.

“Não fiquei magoado. Mas saio chateado”, confessa Malucelli, em entrevista ao UmDois Esportes.

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Para o empresário do ramo da bola, a briga pelo dinheiro da Liga Forte do Futebol (LFF) foi primordial para o fracasso em campo. Assim como a postura da diretoria do clube nas negociações de venda da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) londrinense.

“Fiquei chateado com algumas pessoas da diretoria. Mas vida que segue”, reforça o gestor, que a partir de 2024 prestará consultoria ao projeto do Cascavel. Confira a entrevista completa com Sérgio Malucelli.

A queda para a Série C foi elemento determinante para o desgaste da parceria?

A queda para a Série C teve vários motivos. Para mim, o maior foi a briga pelo dinheiro da Liga. Foi primordial para o time cair. Nós já tínhamos aceitado o ingresso na Liga, através de um convite do Mario Celso Petraglia. Participamos de todas as reuniões.

Como se deu esta situação do dinheiro da Liga Forte do Futebol?

Em fevereiro do ano passado, chamei a diretoria para dizer que tínhamos assinado com a Liga Forte, que iria entrar um valor. Eles então fizeram reuniões e disseram que o dinheiro não seria nosso, do futebol, mas sim do clube. Aí você perde o ânimo. Por que você vai investir sabendo que o pessoal está de sacanagem com você?

E isso se refletiu na campanha em campo...

Nós perdemos o ânimo até nas contratações. O Londrina, naquele momento, não quis pegar o dinheiro da Liga. E aí começou a briga. Queriam rescindir o contrato. Aí você vai largando, abandonando. Sem este dinheiro, ficou difícil reforçar o elenco.

Na temporada passada, o Londrina também começou a articular a venda da SAF. Como ocorreram estas negociações?

No intervalo da briga pelo dinheiro da Liga, o Londrina já começou a procurar gente para a compra da SAF. O Bellintani [Guilherme Bellintani, ex-presidente do Bahia e líder da empresa Squadra, que teve proposta de compra da SAF aprovada pelo Londrina] nos fez uma proposta. Aí saiu do meu escritório e foi direto falar com o Londrina e acertou com eles.

Você ficou chateado pela forma como estas questões foram conduzidas?

Eu tive um contato com o Bellintani quando ele esteve no CT, e ele simplesmente desapareceu e foi negociar direto com o Londrina. E hoje ainda estão no meu CT. Ou seja, sigo ajudando, por isso não estou magoado. Estou chateado.

No futebol, você vê ex-atletas que fizeram tanto por um clube sequer serem homenageados. Então, magoado eu não fiquei. Fiquei chateado com algumas pessoas da diretoria pela forma como as coisas foram feitas. Mas vida que segue.

Você já pensava em sair do clube?

O contrato inicial era de dez anos. Eu tinha dito que não ia mais continuar. Aí o pessoal me procurou, pedindo por favor para voltar, porque não tinha nem time para começar o Paranaense. Cheguei e não tinha nem jogador registrado.

E como ficará a questão do CT?

O CT é nosso, é particular. Não o aluguei ao Londrina. Eu o emprestei gratuitamente, com o clube pagando apenas salários de funcionários e despesas operacionais. Emprestei até o dia 30 de março. E aí eles vão ter que sair do CT. A ideia é fazer escolinhas e categorias de base. Estou vendo se compro um time ou se monto do zero. Mas sem interesse de subir. É só para registrar jogadores. Como assinei agora consultoria com o Cascavel, pode ser até o Cascavel.

E os jogadores da SM Sports?

Deixei todos lá no Londrina, para participarem das competições de base. No próprio time profissional tem sete ou oito jogadores da nossa base fazendo parte do plantel. Mas eu tenho até agosto para retirá-los e colocar em outro time.

Qual foi o ponto de virada da parceria? E como foi a relação com a torcida?

Eu acho que até 2018 foi muito bom, até 2019. Aí veio a pandemia e tudo degringolou. Ficamos dois anos sem categorias de base, a virada foi muito difícil, como foi para todo mundo. A gente já estava num patamar alto, folha cara e a receita caiu. Depois que as competições voltaram, a própria torcida não ia mais ao estádio. O time não se acertou e a torcida largou. A gente tinha prejuízo direto por jogo.

Como será o novo projeto no Cascavel?

É um clube muito organizado, a estrutura é boa. Tem dois centros de treinamentos. Recentemente vendeu o Bitello ao Grêmio, tem dinheiro em caixa. São pessoas sérias. Conheço o presidente Valdinei há anos. O primeiro clube que ele visitou foi o Londrina, para copiar um monte de coisa nossa. Tem tudo para dar certo. Agora, futebol ninguém sabe o futuro.

Por fim, como você vê o movimento das SAFs no Brasil?

A SAF na verdade veio para sanear os clubes que estavam quebrados. Jogar dívidas para a frente e sabe-se lá quando vai pagar. Eu ainda tenho um pé atrás com tudo isso. Tem muitos aproveitadores. No caso do Londrina, entregaram o clube.

A promessa é investir R$ 100 milhões em seis anos. Não é nada. É o dinheiro que vai entrar da Liga Forte. Ou seja, os investidores não vão investir nada. Um caso diferente é o do Athletico. Time organizado, que está para fazer a SAF com valores diferentes. O Petraglia falou que clubes estão sendo vendidos pelo valor de um jogador e está certo.

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Formado pela UFPR, ingressou na Gazeta do Povo em 2014, como repórter na editoria de Esportes, participando de coberturas de Campeonato Paranaense, Copa do Brasil, Brasileirão, Sul-Americana, Libertadores, Olimpíadas e Copa do Mun...

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