Racismo recorrente contra Vinicius Jr põe tensão em Espanha x Brasil
Após a vitória por 1 a 0 sobre a Inglaterra na estreia do treinador Dorival Júnior, o Brasil mede forças com a Espanha nesta terça-feira (26), em um aguardado confronto entre duas seleções campeãs mundiais em reformulação, mas que se estende além das disputas de bola dentro das quatro linhas.
Com o lema "uma só pele", o jogo no Santiago Bernabéu, casa do Real Madrid, faz parte dos esforços da CBF Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da Federação Espanhola de Futebol para promover ações de combate ao racismo no futebol, na esteira dos constantes ataques sofridos pelo brasileiro Vinicius Junior.
Atuando desde 2018 pelo Real Madrid, o astro da seleção brasileira tem sido obrigado a conviver com frequentes ofensas na Europa - a lista inclui comentários preconceituosos em programas esportivos, gritos de "macaco" proferidos por torcidas adversárias nos estádios e uma simulação de enforcamento de um boneco com a camisa do craque.
Em entrevista concedida nesta segunda-feira (25), Vinicius Junior falou muito mais sobre o racismo na Espanha do que sobre o seu desempenho e o dos companheiros dentro de campo. Ele chegou a chorar ao falar sobre o preconceito que sofre em solo espanhol.
"Cada vez estou mais triste, tenho menos vontade de jogar, mas vou continuar lutando", afirmou o jogador, que disse ficar frustrado com a falta de punições na Espanha contra os torcedores racistas.
No caso mais recente, Vinicius Junior foi atacado sem nem sequer estar em campo. Ele foi alvo de cânticos racistas da torcida do Atlético de Madrid antes de jogo contra a Inter de Milão, pela Liga dos Campeões, no início do mês.
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Devido ao extenso histórico de episódios de racismo, é uma preocupação dos organizadores da partida o risco de qualquer tipo de manifestação preconceituosa vinda das arquibancadas no confronto entre Brasil e Espanha. Embora o jogo seja na casa do Real Madrid, time de Vinicius Junior, torcedores de equipes adversárias também estarão presentes no campo em Madri.
"Eu não acredito que isso venha a acontecer. Caso volte a acontecer, acredito que a Federação Espanhola deveria interferir diretamente e tomar atitudes muito drásticas e pesadas em relação aos torcedores que provoquem esse tipo de situação", afirmou Dorival Júnior.
Dentro de campo, a seleção pentacampeã chega confiante para o confronto com os espanhóis após a boa apresentação contra a Inglaterra, em Londres.
O embate no sábado (23), no estádio de Wembley, foi equilibrado, com as duas equipes alternando boas chances e momentos de maior pressão no campo do adversário. Serviu para deixar uma impressão positiva em relação ao início de trabalho de Dorival, com um time renovado e bem organizado, capaz de criar jogadas de ataque sem abrir mão da segurança defensiva.
A equipe vinha de uma temporada ruim no ano passado, acumulando marcas negativas sob o comando de Fernando Diniz, como a primeira derrota dentro de casa nas Eliminatórias para a Copa do Mundo e uma sequência inédita de três derrotas no torneio classificatório.
O novo treinador brasileiro não confirmou se repetirá a escalação adotada no fim de semana ou se dará oportunidade a jogadores que não começaram a última partida.
O meia Lucas Paquetá, do West Ham, que retornou à seleção após ter ficado fora das convocações anteriores devido a uma investigação por manipulação de resultados na Premier League, assumiu a criação das jogadas no meio de campo, foi um dos principais destaques contra os ingleses e deve estar novamente entre os 11 titulares.
No ataque, Dorival adiantou que Endrick não estará na formação inicial contra a Espanha. O jovem de 17 anos do Palmeiras, já negociado com o Real Madrid, foi o responsável por garantir a vitória na estreia da seleção em 2024 ao marcar em seu primeiro toque na bola.
Já a Espanha vem de uma derrota por 1 a 0 para a Colômbia, na sexta-feira (22), resultado que encerrou uma série de oito jogos de invencibilidade. O revés anterior ocorrera havia cerca de um ano, em jogo contra a Escócia válido pelo torneio classificatório para a Eurocopa.
O jogo contra o Brasil deve servir como preparação para a Espanha, que está no grupo B da Euro, ao lado de Itália (atual campeã), Croácia e Albânia. Tricampeã do torneio, a seleção espanhola busca conquistar um título que não vence há 12 anos --ela ficou com o troféu em 1964, 2008 e 2012.
No jogo de terça-feira, o técnico Luis de la Fuente poderá contar com o importante retorno do meio-campista Rodri, do Manchester City, um dos principais jogadores do jovem elenco espanhol e peça fundamental na engrenagem do time multicampeão de Pep Guardiola na Inglaterra. Ele foi poupado pelo treinador durante o confronto com os colombianos.
O jogo entre Brasil e Espanha está marcado para as 17h30 (de Brasília), com transmissão de Globo e SporTV. O último confronto entre as seleções ocorreu em 2013, na final da Copa das Confederações, vencida pelo Brasil por 3 a 0, com dois gols de Fred e um de Neymar, no Maracanã. Ao todo, as equipes se enfrentaram nove vezes, com cinco vitórias do Brasil, duas da Espanha e dois empates.