No primeiro trabalho como técnico, Marcão coloca prazo para “decolar” a carreira
Aos 46 anos de idade, o curitibano Marcos Alberto Skavinski saboreia, no modesto São Joseense, seus primeiros passos no comando de um time de futebol profissional.
Após oito anos trabalhando em categorias de base, onde foi de estagiário não-renumerado a técnico sub-20, o ex-lateral Marcão se vê pronto para qualquer oportunidade que apareça. Além de 15 anos como atleta profissional, formou-se em Educação Física e tirou, em novembro, a Licença A da CBF.
“Falei para mim mesmo que se eu sentir que minha carreira não decolar até os 50, não sei se vou continuar. Ainda tenho quatro anos. No futebol tudo acontece muito rápido, basta estar preparado”, garante o treinador.
Confira a classificação do Campeonato Paranaense
E o ritmo está acelerado logo no primeiro trabalho do ex-jogador de Athletico, Internacional e Palmeiras. Em julho de 2021, ele aceitou o convite para assumir o time de São José dos Pinhais. Três meses depois, comemorava a promoção à elite com o título da Segunda Divisão.
A remontagem do elenco e a pré-temporada para o Paranaense 2022 começou ainda em novembro. O trabalho seguiu e a equipe surpreendeu, classificando-se em oitavo lugar na primeira fase.
No mata-mata, venceu o Operário por 2 a 1, em casa, no primeiro jogo das quartas de final. A volta, com a vantagem do empate para o São Joseense, é neste sábado (19), às 18h30, no Germano Krüger.
“Vou ser bem sincero, classificar era uma coisa que eu projetava. Não sabia se conseguiria, mas sonhar grande e sonhar pequeno é o mesmo trabalho, né? O primeiro objetivo sempre foi a permanência e no decorrer veríamos onde daria para chegar”.
“Para quem está de fora [foi uma supresa ganharmos o primeiro jogo do Operário]. Até pela diferença de orçamento, de estrutura, é um time de Série B. O Operário é favorito, mas vamos nos preparar para competir e fazer um grande jogo. É nosso rendimento que vai encaminhar ou não uma classificação”, emenda Marcão.
"Faculdade" no Athletico e ensinamentos de Autuori
Quando pendurou as chuteiras, em 2011, no Goiás, Marcão já tinha intenção de virar treinador. No entanto, descobriu que pouco conhecia da futura profissão. Foi um choque de realidade para quem viveu como boleiro a vida inteira.
“O ex-jogador acha que sabe tudo. Eu vi que não sabia absolutamente nada. Quando você vai dar treino, você só reproduz os treinos que teve, mas não sabe o que está fazendo, qual o objetivo. E hoje você tem de falar, explicar o motivo de cada exercício pros atletas”, argumenta.
Marcão, então, virou aluno. Cursou Educação Física e também viveu outra experiência tão valiosa quanto o ensino superior. Foram oito anos dentro do Athletico, time que marcou sua carreira como jogador em duas passagens.
E o início foi de baixo, como estagiário do time sub-17, em junho de 2012, carregando cones e absorvendo toda informação possível.
“Foi uma faculdade para mim, mudou totalmente meu jeito de pensar. Aprendi muito com as pessoas e foi onde comecei a montar meu jeito de jogar. Sou muito grato ao Athletico”, diz.
Apesar de ser lembrado pela torcida rubro-negra como um atleta raçudo, mas sem muita técnica, o treinador Marcão é adepto de um futebol ofensivo e moderno. Sua principal inspiração é o alemão Jürgen Klopp, técnico do Liverpool, que prega um estilo de intensidade e competitividade ao extremo
“Estou em um time pequeno, mas se você conversa com meus jogadores, em nenhum momento peço para jogarmos nos defendendo. Nós sabemos nos defender, é diferente. Mas não vamos jogar na retranca. Se o adversário for melhor e nos empurrar para trás, vamos tentar jogar em transição, mas não é nossa proposta”, enfatiza, citando que o São Joseense teve a defesa menos vazada da primeira fase, com oito gols sofridos, ao lado o Coritiba.
Do Athletico, Marcão destaca a convivência com o ex-diretor técnico do clube, Paulo Autuori. Além do aprendizado sobre o jogo em si, a calma e olhar sensível do veterano ficaram marcadas em sua memória.
“Certa vez, o Autuori participou de uma análise com a gente e teve uma situação em que um menino errou uma jogada. Enquanto outros apontavam o erro, ele, com aquela calma natural, destacou o que o garoto fez para corrigir a falha. Ou seja, ele percebeu o lado positivo, valorizou a correção. O futebol é um jogo de erros”, lembra Marcão, que garante que sua meta é estar pronto para as oportunidades.
“Não sei o que vai acontecer, se as portas vão se abrir para mim. Estou me preparando para dar conta do que vier. Hoje posso dizer que tenho meu modelo de jogo, tenho variações, analiso e estudo muito. Quero chegar mais alto possível”.