Relato

“Foi o Muhammad Ali do futebol”, diz jornalista que viu as Copas de Maradona

Por
Fernando Rudnick
25/11/2020 21:35 - Atualizado: 29/09/2023 23:09
Maradona, morto nesta quarta-feira, foi dinamite pura
Maradona, morto nesta quarta-feira, foi dinamite pura | Foto: AFP

Diego Armando Maradona foi dinamite pura. Para o jornalista paranaense Édson Militão, a intensidade é a marca registrada da lenda do futebol, falecida nesta quarta-feira (25), aos 60 anos de idade, após parada cardiorrespiratória.

Militão, 78, acompanhou in loco as quatro Copas disputadas (1982, 1986, 1990 e 1994) disputadas pelo Pibe. E conta, no relato abaixo, suas lembranças sobre o craque e a lenda – dentro e fora de campo.

“Intenso. Maradona sempre foi intenso. Diferente de Pelé, ele nunca se preocupou com o que iriam dizer dele. Sempre foi autêntico, dentro e fora do campo, o que é muito raro. Ele foi uma espécie de Muhammad Ali do futebol. A diferença entre o Maradona e o Messi, por exemplo, começa pelo carisma. Messi ganhou seis títulos de melhor do mundo, mas, no par ou ímpar, sempre vou escolher o Maradona pro meu time, ele foi mais jogador pra mim. Só não dá para comparar com o Pelé como jogador. Fora de campo falta ao Pelé o que sobrou ao Maradona.

Eu vi o Maradona jogar as quatro Copas do Mundo que disputou. Mas a primeira, de 1982, na Espanha, foi a que mais me marcou. Ali ele estava no auge, tinha 22 anos, e já havia sido campeão no Japão [Mundial sub-20 de 1979]. Enfim, era o ápice.

Me lembro bem do jogo com a Itália – estava torcendo para a Itália porque a favorita era a Argentina. Acabou 2 a 1 para os italianos. E no jogo contra o Brasil, aquele 3 a 1. Depois do jogo, ouvindo o Falcão, o Sócrates, perguntamos como foi o papo antes da partida com o Telê pra definir quem marcaria o cara. Eles disseram que se reuniram, o Sócrates, o Falcão, o Cerezo e o Zico, e chegaram à conclusão que não tinha como marcá-lo.

Teria que ser uma marcação por zona. E foi feito assim. Ninguém fez marcação pessoal e o Maradona ficou desesperado. O Brasil jogou um partidaço e ele perdeu a estribeira, fez falta no Batista e foi expulso. Mas antes disso, fizeram um pênalti claríssimo nele. Derrubaram dentro da área e ele ficou louco. A Argentina ainda estaria no jogo se tivessem marcado a falta.

Mas o que me marcou nessa Copa é que aluguei um apartamento ali perto de Barcelona, numa praia chamada Badalona, e fiquei quase o Mundial todo ali. E quando a Argentina foi desclassificada teve uma festa num clube ali nessa praia. E quem foi lá? O Maradona. Eu fiquei pensando, não é possível que ele esteja aqui pertinho…

Em 1986 eu só vi o jogo final, com a Alemanha, estava acompanhando o Brasil. Não vi a Mão de Deus. Mas aquele lançamento dele para o Burruchaga na final é o que demonstra a sua categoria. Ele não era um cara só individualista, ele tinha a visão do todo do campo. Todo mundo recuado e ele dá aquela canhotinha para fazerem o gol da vitória.

Em 1990, o Maradona começa no grande círculo a jogada que acabou com o Brasil, 1 a 0, nas oitavas. Ele passa por quatro marcadores, depois vai embora e dá o passe para o Cannigia. Não sei se essa foi a melhor fase dele ou em 1982, quando era mais novo.

E também teve 1994, o doping. Sinceramente, não é questão de teoria da conspiração, mas tenho dúvida se aquilo não foi plantando porque o Diego foi um dos mais duros críticos da Fifa, do presidente João Havelange. Ele sempre teve problemas com drogas, claro, mas será que ele usaria para jogar, sabendo que teria exame antidoping? Ele nunca admitiu. Eu, sinceramente, tenho dúvidas.

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Fernando Rudnick é formado em jornalismo e pós-graduado em comunicação esportiva. Sempre repórter, começou a cobrir o dia a dia dos times paranaenses em 2009, quando entrou na Gazeta do Povo. Atualmente, é coordenador do UmDois Es...

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