Entrevista

Ex-motorista de aplicativo, técnico conta como o Maringá surpreendeu o Flamengo

Por
Fernando Rudnick
14/04/2023 17:57 - Atualizado: 04/10/2023 22:45
Técnico Jorge Castilho pede “pés no chão” ao Maringá.
Técnico Jorge Castilho pede “pés no chão” ao Maringá. | Foto: Fernando Teramatsu/MFC

A rápida ascensão do Maringá no futebol nacional teve seu ápice – até aqui – nessa quinta-feira (13), com a surpreendente vitória sobre o Flamengo, no Estádio Willie Davids.

Foi sob o comando do técnico Jorge Castilho, de 41 anos de idade, que o Dogão deixou a segunda divisão estadual em 2020, foi vice-campeão paranaense em 2022 e agora está a 90 minutos de eliminar um gigante na terceira fase da Copa do Brasil.

O treinador, que espera fechar a temporada com uma vaga na Série C, falou com o UmDois Esportes sobre os méritos e a evolução do Maringá, além do próprio sucesso relâmpago na carreira.

Três anos atrás, Castilho ainda trabalhava como motorista de aplicativo para complementar a renda e bancar seus estudos no futebol. "Fiz de tudo um pouco antes de chegar até aqui e não me arrependo de ter feito nada disso", diz o comandante, que já trabalhou como vigilante noturno e encarregado de expedição.

Após bater o Flamengo, ele garante que o time vai manter a mesma disposição no duelo de volta, marcado para 26 de abril, no Rio de Janeiro. Com coragem, pés no chão e sem a estratégia de se defender o tempo todo.

+ Confira a tabela da Copa do Brasil

"Mas vamos para cima porque a gente não pode se omitir. Momento histórico para o clube, não podemos nos omitir, não", afirma.

Pessoalmente, como você está se sentindo após a vitória sobre o Flamengo?

Foi uma noite incrível, que não vamos esquecer por muito tempo, nem nós que estávamos envolvidos no jogo, nem o torcedor do Maringá. Para minha carreira é um marco muito grande também. É um início de carreira melhor do que meus maiores sonhos. Feliz demais por estar passando por sim, mas sempre com pezinhos no chão porque a caminhada é longa e muita coisa está por vir.

Quais os principais méritos do Maringá ontem?

A disposição da nossa equipe, a entrega dentro de campo, a obediência tática dos atletas, o grupo fechado e o trabalho voltado para o jogo, concentração elevada... é um todo. O trabalho da comissão técnica, dos jogadores, nosso staff, diretoria. O jogo de ontem se resume nisso: união, trabalho e dedicação em tudo o que fazemos.

E quais os méritos para a evolução do Maringá no cenário nacional?

Aqui no Maringá a diferença é a organização e a honestidade. A organização da diretoria e a honestidade conosco faz com que essa organização passe para dentro do campo. No clube tudo é muito transparente, as coisas caminham porque tudo é na base da honestidade. Planejamento é a palavra. Estamos planejando desde 2020 para chegarmos ao hoje. Lógico que não sonhávamos em passar do primeiro jogo da Copa do Brasil e chegamos na terceira fase, jogando contra um grande e ganhando o primeiro jogo em casa. É um sonho que tínhamos e que hoje é uma realidade. Continuamos com os pés no chão porque ainda temos muito a entregar.

Sua carreira tem sido meteórica. Há pouco tempo atrás você precisava complementar a renda trabalhando como motorista de aplicativo...

Trabalhei muito em aplicativo no início, mas sempre estudando, sempre me preparando. Já tem três anos que já vivo só do futebol, trabalhando, estudando para caramba. Em 2020 subimos da Segunda Divisão estadual e ficamos sem calendário, aí fui trabalhar de aplicativo, o que estava me ajudando a pagar os custos para evoluir na carreira. Trabalhei em períodos em que estava sem calendário. Fiz de tudo um pouco antes de chegar até aqui e não me arrependo de ter feito nada disso.

O Cianorte de 2005, eliminado pelo Corinthians após vencer por 3 a 0 em casa, é exemplo para o Maringá no jogo de volta?

É um jogo que vamos trazer, sim, para mostrar para os atletas o que aconteceu com o Cianorte. Nós sabemos da dificuldade que vamos enfrentar no Maracanã. O Flamengo, pelo elenco que tem, o melhor do país, tem condições, de reverter na casa deles. Vamos para lá preparados, temos que passar tudo para os atletas, fazer eles entenderem as dificuldades que teremos. Ultimamente vemos pequenos ganhando dos grandes pela disposição. Costumo dizer que o futebol está nivelado, a diferença às vezes é salarial, jogadores com mais rodagem, mas antes de tudo vem a coragem de jogar. E podem ter certeza que vamos ter coragem de jogar no Maracanã, com os pezinhos no chão, sabendo da dificuldade que vamos encontrar, para buscar o resultado da forma que fizemos aqui. Não vai ser fácil. Vamos para lá pensando assim, da mesma forma que estamos alcançando os objetivos do clube.

Ir para o Maracanã pensando apenas em se defender tornaria a tarefa mais difícil, concorda?

Ah, muito mais difícil. Mas vamos para cima porque a gente não pode se omitir. Momento histórico para o clube, não podemos nos omitir, não.

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Fernando Rudnick é formado em jornalismo e pós-graduado em comunicação esportiva. Sempre repórter, começou a cobrir o dia a dia dos times paranaenses em 2009, quando entrou na Gazeta do Povo. Atualmente, é coordenador do UmDois Es...

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