Estreia de gramado, maior bandeirão e parceria milionária: uma tarde na Suburbana de Curitiba
Tarde gelada de sábado (15), nenhum jogo programado de futebol profissional em Curitiba. Mas na região norte da capital, mais precisamente na Rua Amauri Lange Silvério, no número 1.141, o bairro “abraça” o Operário Pilarzinho, que recebe o Vila Fanny na estreia da Suburbana 2023.
O palco é o simpático Estádio Bortolo Gava. Com portões abertos, a casa está cheia para prestigiar atrações dentro e fora de campo. Em seu 72º ano de história, o clube inaugurou seu gramado sintético - padrão FIFA. Na arquibancada, um bandeirão da torcida organizada Camisa 12, de 50 metros, o maior da Suburbana.
A primeira rodada do campeonato amador da capital foi de derrota para o tradicional time vermelho, branco e azul. A equipe comandada por Luisinho Netto, ex-lateral que marcou história pelo Athletico, perdeu para o Vila Fanny, por 2 a 1. Mas o resultado em campo foi só um detalhe perto da bonita festa protagonizada por uma torcida vibrante e apaixonada.
"Nasci Pilarzinho, assim morrerei"
Aos poucos, a arquibancada de cimento do Bortolo Gava foi recebendo milhares de famílias, crianças, cachorros, e uma infinidade de moradores da região num clima de muita confraternização e amizade. Gente de todas as idades, incluindo torcedores vestindo camisas de outros times como Athletico, Coritiba, Paraná Clube, Corinthians, Palmeiras e Internacional.
Antes de acompanhar a estreia do Pilarzinho, o torcedor do Paraná Clube João Cláudio prestigiou a partida da equipe de juniores do clube, onde joga o filho de 17 anos. Vestindo a camisa do Coritiba, Renan Bernardi, de 16 anos, estava com o pai e relembrou os tempos que jogou no Operário, durante dois anos - hoje é volante do sub-20 do Prudentópolis.
Já Gustavo Lesnikowiski é torcedor do Athletico e frequenta o Bortolo Gava desde 2008. Vizinho do estádio, ele destacou o ambiente familiar da casa do Operário Pilarzinho.
“Eu vinha fazer catequese ao lado do estádio, e sempre ouvia os foguetes dos jogos do Pilarzinho. Passei a vir ao estádio e nunca mais deixei de frequentar. Foi o primeiro estádio que pisei. É a tradição do nosso bairro reunir as famílias nos jogos. Não tem confusão, todos aqui são moradores da região, todo mundo se conhece”, disse.
Apoiando o Operário Pilarzinho há 15 anos de forma ininterrupta, a Camisa 12 levou à arquibancada pela primeira vez um bandeirão especial e inédito. Com 50 metros, o projeto da torcida tricolor batizado de “O resgate das glórias” reproduziu as quatro taças conquistadas pelo Operário Pilarzinho (2000, 2009, 2012 e 2019), com os dizeres “Nasci Pilarzinho, assim morrerei”. Assim que a equipe pisou no gramado, o bandeirão subiu em meio a muita fumaça e gritos de incentivo.
Investimento pesado: estádio, gramado sintético e estrutura geral
Um tapete. É assim que está o gramado, agora artificial, do Estádio Bortolo Gava. Fundado em 29 de janeiro de 1951 e atualmente comandado pelo presidente Amauri Fernandes, que assumiu a gestão em janeiro, o clube lançou a novidade na partida contra o Vila Fanny. Antes da partida, várias autoridades prestigiaram a inauguração simbólica, com as presenças, inclusive, de personalidades como Vilson Ribeiro de Andrade e Glenn Stenger.
Ex-Iguaçu, o novo comandante do Operário Pilarzinho, Luisinho Netto, destacou a nova etapa do clube, com alto investimento em infraestrutura.
“É um privilégio estar no projeto e nessa nova era que o Operário Pilarzinho está vivendo. O bairro também ganha muito com isso. Quem já viu como era o campo e a estrutura, para agora, é outra realidade. Espero que possamos ter um ano maravilhoso”, disse o ídolo do Athletico em entrevista ao UmDois Esportes.
“É diferente, né. Uma estrutura muito boa, um campo muito bom, a bola rola muito bem. Já joguei lá no campo do Trieste, que também tem gramado sintético. Não temos do que reclamar agora com essa grama, isso só facilita o nosso trabalho”, avaliou Alex, 26 anos, lateral-direito do Operário Pilarzinho, que já jogou no Novo Mundo, Orleans e Vila Sandra.
Com 120 atletas treinando diariamente no Estádio Bortolo Gava, nas categorias sub-13 até sub-17, além da equipe principal, o gramado passou pela mudança depois da parceria com a Head Soccer, empresa de agenciamento de atletas, que assumiu as categorias de base do clube.
No acordo, a empresa investiu pesado na infraestrutura do clube, com nova iluminação (refletores), vestiário, banco de reservas e claro, o gramado sintético, com novo sistema de irrigação. A primeira parte do investimento foi entregue em apenas seis meses - no próximo ano está prevista a reforma das arquibancadas. Focada principalmente na captação de atletas, a parceria entre Operário Pilarzinho e a Head Soccer tem duração de 21 anos, podendo ser renovada.
“Vimos a possibilidade de estar em um clube para poder formar atletas e envolver o social. Atleta virar profissional é a cereja do bolo, é a parte difícil do processo, mas é preciso formar cidadãos e pessoas do bem. Quando apareceu a oportunidade de conversar com o Pilarzinho, entendemos que era um caminho bacana para criar a parceria, assumir a operação da base e ajudar em toda a infraestrutura”, disse o coordenador de projetos do Operário e agente Fifa Fernando Bazan.
Responsável pela transferência do atacante Igor Paixão, joia do Coritiba, para o Feyenoord, no ano passado, a Head Soccer já inseriu nove atletas do Operário Pilarzinho em clubes como Coritiba, Ituano, Palmeiras e Chapecoense.
“Não é um gramado comum, é profissional. A nossa intenção é futuramente estar recebendo clubes profissionais, que venham jogar contra um Athletico e um Coritiba, por exemplo, possam treinar aqui”.
As conversas se estenderam por um ano e meio até, efetivamente, a assinatura do contrato. A "rapidez" no processo veio, principalmente, após a venda de Paixão. Os valores não são confirmados, mas estima-se que a parceria envolve um investimento de R$ 20 milhões ao longo de todo o período.
“Quando viemos pra cá, algumas pessoas até se assustaram, acharam que ia mudar o nome do clube. Você precisa profissionalizar. A operação é bem similar de uma SAF. Entendemos o limite até onde teríamos de autonomia e operação. Quando houver uma negociação dos direitos econômicos de um atleta, o clube vai ser beneficiado com a venda. Tem um valor considerável envolvido. Queremos oferecer algo de qualidade para o bairro. E para captar e desenvolver atletas, é preciso ter uma grama de qualidade boa. O mercado é competitivo. Hoje eu quero incomodar o Athletico, por exemplo”, detalha Bazan.