Ele queria voltar ao Coxa, foi preterido e hoje comanda o futebol do líder Botafogo
O trabalho do surpreendente Botafogo, líder do Brasileirão, passa diretamente por um executivo de futebol formado no Coritiba.
Entre a coordenação das categorias de base e a superintendência do time profissional, André Mazzuco passou oito anos no Alto da Glória, entre 2008 e 2015.
História que quase foi retomada em 2021. Mas que acabou em uma negativa alviverde: após negociações avançadas, o Coxa optou por fechar com o veterano René Simões para a direção de futebol.
“Eu estava totalmente disposto. Ficou muito próximo mesmo. Mas no final era uma opção do clube”, revela Mazzuco, em entrevista ao UmDois Esportes.
+ Confira a tabela completa do Coritiba no Brasileirão
Na ocasião, Mazzuco já havia feito um acordo verbal com o Vasco, onde estava desde 2019, avisando sobre a iminente volta ao Coritiba.
No entanto, reflexos dos bastidores políticos do Couto Pereira, em episódios ligados a uma crise na gestão Bacellar, em 2015, pesaram para o acordo ser frustrado.
“É importante deixar claro, eu nunca me envolvi com a política do clube. Sempre fui profissional, contratado, com salário”, diz Mazzuco.
“A minha ala política nunca existiu”, completa o profissional, que após o Coxa foi diretor de Red Bull Brasil, Paysandu, Austin Bold-EUA, Paraná Clube, Vasco, Cruzeiro e Santos, antes de ser a aposta de John Textor para a SAF do Botafogo.
Confira a entrevista completa com André Mazzuco
Você ficou chateado por não voltar ao Coxa em 2021?
Não fiquei chateado. Fiquei feliz por ser lembrado. Por mais que meu nome fosse cogitado em uma relação que tive na época da base com pessoas que se envolveram naquele episódio [da gestão Bacellar].
Por algum mal entendido, em 2021, alguns insistiam em me vincular ao aspecto político. Eu acho que pesou. Porque algumas pessoas ainda eram daquela época. E teve essa rusga política.
Por que você acha que houve essa associação?
É importante deixar claro que nunca me envolvi com a política. Tanto que eu entro no clube pelo Jair Cirino, passo pelo Vilson Ribeiro de Andrade, e depois com o Rogério Bacellar. Ou seja, por três gestões diferentes. Eu era apenas funcionário e acabei saindo do Coxa por uma oportunidade, pela porta da frente.
Ainda tem vontade de voltar ao Coritiba?
Como disse, não falo em chateação, mas ficou um assunto mal resolvido. Que até hoje eu não entendo o porquê deste vínculo com a política. Em um clube você acaba se relacionando com todos da gestão. Espero poder voltar para Curitiba um dia. Sempre fui muito feliz aqui, pessoalmente, familiarmente e profissionalmente.
Como tem observado o processo da SAF no Coritiba?
A gente já teve dificuldades no início da SAF do Botafogo por ter começado no final do Carioca. Tivemos seis semanas antes de fechar a janela. No Coritiba, talvez foi um momento mais difícil ainda, em meio ao Brasileirão. Mas é um caminho bacana para o clube.
Vai depender, é claro, de cumprir metas e se reorganizar. E que seja um projeto de longo prazo. É isso que tem que colocar na cabeça. Não interessa o que acontecer nessa temporada. É como no Botafogo. A gente quer muito o sucesso, mas queremos um clube sólido, para o futuro.
O Botafogo disputando o título é surpresa?
Eu falo de maneira honesta. O Botafogo, quando vira SAF, não tinha nada. Era um clube sem estrutura nenhuma. A gente assume em condições muito difíceis. O objetivo do ano passado era se manter na Série A e conseguimos a Sul-Americana. Neste ano, era brigar pela Libertadores, não pelo título. Mas nós nos colocamos na briga pelo título.
Muitos veem o título como questão de tempo...
O campeonato ainda é longo. A gente criou uma vantagem, mas é uma briga aberta até o final. Hoje tem equipes focadas, buscando, e o Botafogo virou alvo. A gente quer muito que o título aconteça. É histórico. Mas também estamos firmes na realização do primeiro objetivo, que era brigar pela Libertadores.
O movimento das SAFs é irreversível no futebol brasileiro?
A SAF não é a
solução de tudo. É um modelo de gestão. Tem a vantagem de quitar dívidas que emperram
o clube. Há maior injeção de dinheiro. E é um modelo baseado em um dono. No
Botafogo, as decisões passam pelo John Textor. Não tem eleições a cada três
anos, que tiram a continuidade.
Temos o mesmo grupo, mesmas pessoas, mesmas convicções. Perdemos o treinador [Luis Castro] só por questão de mercado. É um movimento que vai crescer. Mas é preciso reforçar, há clubes como Athletico, Palmeiras e Flamengo, que se organizaram sem ser SAF, mas mesmo estes se preparam para este futuro.