Cury Filho fala em valorização do Paranaense e diz que campeonato não é deficitário
O Campeonato Paranaense deve ter uma novidade na próxima temporada: o campeão da edição de 2025 deve receber uma premiação em dinheiro. Segundo o presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF), Hélio Cury Filho, existem conversas em andamento nesse sentido com um possível patrocinador.
Em entrevista ao UmDois Esportes (leia abaixo na íntegra), na última segunda-feira (29), o presidente falou sobre o cenário de desenvolvimento do futebol paranaense e detalhou como a Federação pretende valorizar a marca do Estadual.
"Já estamos conversando com esse possível patrocinador. Quero trazer ele para perto, é uma empresa grande. Ela realmente passou por algumas mudanças, a gente continua acompanhando. A ideia é essa, acho que eles merecem, os campeões têm que ter uma premiação, independente da divisão. Obviamente que proporcional ao campeonato", diz o presidente.
Segundo o presidente, a edição deste ano ficou perto de contar com a premiação para o time vencedor, mas a empresa com quem a insituição negociava acabou voltando atrás na decisão depois de mudanças na diretoria.
"Nós estávamos bem alinhados com uma empresa para que tivesse essa premiação, mas no final do ano, houve uma mudança de diretoria na empresa e escolheram reanalisar, por um cenário desfavorável na empresa. Estamos lá batendo na porta de novo, vamos ver como fica o cenário agora".
Hélio Cury Filho, presidente da FPF"Não vemos o Paranaense como deficitário"
Um dos objetivos do presidente durante sua gestão na Federação é deixar o Paranaense "se não rentável, pelo menos no zero a zero", como afirma, em entrevista ao UmDois antes de assumir, em fevereiro de 2023.
Pouco mais de um ano depois, Hélio Filho afirma que não vê mais o Estadual como deficitário. Mesmo assim, cinco clubes saíram com prejuízo em relação às despesas listadas nos boletins financeiros dos jogos. O saldo negativo ficou em R$ 1,657 milhão.
O presidente, no entanto, defende que há receitas não especificadas nos boletins que impactam a rentabilidade do campeonato.
"A regra não pode ser levada só pelos borderôs. Eles são só um dos indicativos. A gente acredita que todos os times, obviamente, tiveram seus gastos. A gente não vê o Paranaense como deficitário, ainda que no borderô possa transmitir. Porque nós temos os patrocinadores, temos outros meios de fomento", aponta.
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Confira a íntegra da entrevista com Hélio Cury Filho
Balanço da gestão
Qual é o balanço de seu primeiro ano de mandato? Como você enxergou os estaduais deste ano?
Estamos tendo bons resultados. A gente teve um número crescente de torcedores no estádio. Estamos tendo um número crescente de torcedores acompanhando as transmissões, seja na TV aberta ou no streaming. Teve um crescimento muito grande, tanto da Primeira, quanto da Segunda Divisão. Esse crescimento foi orgânico. Vimos um crescimento bem bacana de pessoas acompanhando. Isso acontece por ter a transmissão das duas divisões e traz o torcedor para acompanhar o futebol paranaense por mais tempo.
É isso que eu tento modificar do que tinha no passado. A gente falava do Paranaense a partir de janeiro e acabava em abril. Agora, estamos conseguindo prolongar, claro que para a Terceirona, devemos ter uma pequena queda, por não ter nenhum time da capital. A minha intenção é que o pessoal não passe o Natal e Ano Novo pensando sobre o campeão brasileiro, mas sim em quem será o campeão paranaense, já olhando para 2025.
E como vocês têm buscado ações para aumentar o interesse pela competição? Você já comentou anteriormente sobre a possibilidade do uso do termo "Ruralzão", popularmente usado pelos torcedores, como uma estratégia para isso...
A ideia é começar a fazer algumas campanhas. A ideia do "Ruralzão" foi objeto de estudo, mas eu não tenho o resultado de qual seria o impacto. Eu continuo achando que, pelo estado ser do agro, ainda seja uma boa ferramenta. Não entendo de forma alguma como pejorativo, é a nossa realidade.
Divisão de Acesso 2024
Neste final de semana, a Divisão de Acesso se encerrou com um sucesso de público e visibilidade, principalmente pelo Paraná Clube. Como você vê o fenômeno do Tricolor na competição?
Temos que dar os parabéns ao Paraná. O trabalho de marketing deles foi sensacional. Essa Segunda Divisão não é so em razão desse trabalho, que foi sensacional, mas tivemos outros momentos que talvez não chegaram à capital.
Tivemos Edmílson no Foz de Iguaçu fazendo uma apresentação tão grande quanto aqui e estimulando a cidade. Tem o Rio Branco que, em menos de seis meses, estavam fazendo uma assembleia para saber se iriam se licenciar ou não do campeonato, vem o Amaral e faz uma revolução. E foram líderes do campeonato integralmente. Tivemos o Henrique no Nacional, a SAF do Gusttavo Lima no Paranavaí e tudo isso acabou mexendo, somou e trouxe a Segunda Divisão que, para mim, fica no top-3 de melhores edições.
E como fazer para não despencar no ano que vem?
Trabalho, continuar nesse ritmo, fazer o torcedor entender que a Segunda Divisão tem o seu tamanho e valor. As transmissões na TV aberta ajudaram muito. Pela primeira vez, tivemos um patrocinador do campeonato, para ver a relevância da Segundona e acredito que o engajamento vai continuar.
O que levar de aprendizado desta edição para as próximas?
Acho que a questão da transmissão ajuda muito. O público saber que pode ver todos os seus jogos sem exceção, ajuda. Há uma questão de fazer o torcedor estar acompanhando o futebol paranaense como um todo, seja em campo ou através da mídia. A gente entender quem são nossos torcedores e como alcançar eles.
A gente tem agora um perfil do nosso torcedor que acompanhou as duas divisões, são dados que não tínhamos antes. Queremos trazer esse pessoal para acompanhar o futebol do estado como um todo, não só a Primeira Divisão. Queremos olhar um pouco mais longe.
Nesse sentido, como foi o acordo com o governo do Paraná para as transmissões das partidas, tanto da Primeira, como da Segunda Divisão, na TV Paraná Turismo?
O governo do estado tem dado um olhar carinhoso para o futebol paranaense. A gente conversou com eles e toparam. Estamos já no terceiro campeonato com eles. Estamos vendo um pedido para transmitir as finais do Paranaense sub-20 na TV Paraná Turismo para que a gente tenha o esporte sempre na televisão. Já conversamos com outros streamings para nos ajudar. E a Segunda e Terceira Divisão, queremos seguir com a transmissão própria. A gente está pegando essa expertise, conhecendo, são diversas variáveis, para quem sabe no futuro a gente estar transmitindo 100% do campeonato dentro de casa.
Premiação e regulamento do Campeonato Paranaense
Agora, sobre a Primeira Divisão, especificamente. Em relação à questão financeira, a competição segue deficitária para os clubes?
A regra não pode ser levada só pelos borderôs. Eles são só um dos indicativos. A gente acredita que todos os times, obviamente, tiveram seus gastos. A gente não vê o Paranaense como deficitário, ainda que no borderô possa transmitir. Porque nós temos os patrocinadores, temos outros meios de fomento, a Federação, dentro do que pode tem feito um auxílio aos clubes de todas as divisões pagando toda a arbitragem, o que não acontecia antes. A questão do VAR também foi absorvida pela Federação. Aqui a gente também tem feito vários remanejamentos para que a gente possa transferir mais recurso aos clubes.
Em entrevista anterior, você afirmou que tem como missão ao menos deixar o Estadual no "zero a zero" na questão financeira. Você já conseguiu neste ano?
Eu entendo que já conseguimos. Se não 100% do zero a zero, já no primeiro ano chegamos muito perto disso. A única coisa que não consegui é o prêmio para o campeão da Primeira Divisão. Nós estávamos bem alinhados com uma empresa para que tivesse essa premiação, mas no final do ano, houve uma mudança de diretoria na empresa e escolheram reanalisar por um cenário desfavorável. E estamos lá batendo na porta de novo, vamos ver como fica o cenário agora.
Então, para a próxima edição, a ideia é fechar essa premiação para o campeão?
Já estamos conversando com esse possível patrocinador. Quero trazer ele para perto, é uma empresa grande. Ela realmente passou por algumas mudanças, a gente continua acompanhando. As portas estão abertas para eles e deles para nós. Foi uma questão de momento, pena que foi muito em cima e não dava tempor de buscar. Mas a ideia é essa, acho que eles merecem, os campeões têm que ter uma premiação, independente da divisão. Obviamente que proporcional ao campeonato.
Em relação ao regulamento da competição, há mudanças que a Federação planeja fazer?
Por determinação legal, o regulamento ainda tem que ser mantido na próxima edição. Para mim, o ideal ainda é turno e returno, acho o mais justo formato de competição, mas aqui não dá. Precisaríamos de 23 datas, nós utilizamos 17. A CBF nos dá 16 e ainda ajustamos. E existe uma possibilidade de redução futura nas datas. Então, a gente vem estudando uma maneira de tentar adequar o nosso Paranaense reduzindo algumas datas. Não para 12. Me nego a fazer com 12, se a CBF me der 12, vamos brigar para ter pelo menos 14 datas ou 15. Porque senão vira um torneio e não um campeonato.
O que a gente tem pedido na CBF é para tentar atrasar a Copa do Brasil. A gente sabe que o calendário deles também é apertado, mas os jogadores têm uma verdadeira maratona nos primeiros 35 dias do Paranaense. Eles não vêm no auge do condicionamento, vêm do descanso, das férias. Nosso entendimento é de que a gente deveria, de alguma maneira poder dar uma folga para os atletas. E precisaria dessa brecha de datas da CBF. Se a Copa do Brasil começar ali no final de março, a nossa primeira fase já teria terminado.
A Primeira Divisão teve boa audiência até mesmo sem um clássico Atletiba na final. Você acha que ter times de interior na briga pelo título é importante para essa visibilidade?
Acredito que é importante, porque valoriza o nosso campeonato. Temos que lembrar que o Paranaense não são só os times da capital. Claro que foram e são as grandes forças no cenário nacional, mas temos Operário, Maringá, Cianorte com ótimos trabalhos. O interior vem muito forte e isso valoriza os times da capital para acomapanhar o ritmo. É uma questão de simbiose, o interior depende da capital, para visitá-los para estimular e, da mesma maneira, a capital, para saber que eles estão crescendo.
Arbitragem paranaense
Em relação à arbitragem, o que vem sendo feito pela sua gestão em questão de profissionalização e melhoria dos árbitros?
Quando assumi, em 2023, houve a troca no comando de arbitragem. No lugar de Afonso Vitor de Oliveira, assumiu Anderson Gonçalves. Nós começamos a colocar outras situações na forma de trabalhar com a arbitragem. Primeiro, colocamos reuniões pré-jogo com todos os árbitros, comentando sobre os jogos que eles vão fazer. Isso em todas as divisões. E depois, tem a devolutiva em cada jogo. Temos um analista em campo em todos os jogos que observa a atividade do árbitro. E aí é feita a devolutiva com o recorte dos acertos e desacertos, comentários sobre isso e, eventualmente, verificando a dificuldade daquele jogo. Isso acrescentou muito na nossa arbitragem.
Temos o Programa de Assistência ao Desenvolvimento de Arbitragem (Pada). Se há algum erro um pouco acima do aceitável, a gente chama ele, conversa, se necessário leva ele para o campo, revê o posicionamento.
Antes de serem árbitros, são seres humanos, são coisas que acontecem. O que a gente não admite, são dois tipos de erro: o desconhecimento da regra ou um erro maldoso. Esses dois identificados, eles serão excluídos do cargo de forma rápida e definitiva.
Foi identificado algum aumento ou baixa nas reclamações em relação à arbitragem por parte dos clubes nos jogos dos Estaduais?
Nós tivemos menos reclamações esse ano do que no ano passado. Esse procedimento da nossa ouvidoria começou na Segunda Divisão de 2023, ainda era um experimento. Mas fazendo uma média, tivemos menos reclamações do que no ano passado.
Diante desse trabalho, existe uma dimensão, em números, se os erros diminuíram?
Os erros têm diminuído, hoje temos todo um controle. Isso mudou de uma gestão para outra. Hoje temos um mapa do árbitro, desde dados de características físicas, peso, altura, quantos jogos fez. Temos uma tabela de desempenho e o acompanhamento de todos os testes deles. Estamos fazendo todo esse relatório para ver a atividade desses árbitros no dia a dia. E toda semana temos árbitros sendo usados pela CBF, assim como tivemos na Copa América.
Desenvolvimento do futebol paranaense
Como a FPF ajuda no desenvolvimento dos clubes do interior?
Primeira coisa, fazer um bom campeonato, ajudá-los nas questões internas, abrindo caminho para eles. A Federação tem três pilares: ser mediadora de interesses, seja na forma de campeonato, divisão de receita e assim por diante. A segunda questão, ser indutor de negócio, quando a gente mostra o campeonato, estamos induzindo os times a melhorarem seus patrocínios, a ter mais gente valorizando seus jogadores. E o terceiro é parar de oferecer só campeonato, temos que produzir entretenimento. Se chegar nesses três pilares, eu entendo que é missão cumprida.
E em relação ao futebol feminino, o que a Federação tem de planos para fomentar a modalidade?
A gente está tentando aumento o número de participantes. A gente tenta deixar essa competição com custo zero, ou próximo disso, como uma forma de estimular. A ideia era fazer o Campeonato Paranaense agora na metade do ano, mas como alguns dos nossos clubes ainda estavam participando de competições da CBF, adiamos para setembro para ter 100% dos times.
Passando por uma mudança estatutária e permitimos a filiação de times de fomento para tentar fortalecer o futebol feminino. Mas ainda está muito longe do ideal. A gente sabe disso e está tentando criar maneiras de trazer mais clubes e incentivar a participação feminina em todas as áreas do futebol.
Há interese em retornar com a Copa Sul-Minas? Ou uma Copa Sul? Existem conversas para isso?
Já estamos conversando a respeito da Copa Sul com as federações de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Inclusive, era para ter neste final do ano o Sul-Brasileiro de base, com sub-20, sub-17 e sub-15. Não vai ter em razão das enchentes do Rio Grande do Sul. Mesmo assim, deve ter algo com Santa Catarina, o que é um embrião para mais para frente retornar com a Copa Sul.
E isso você prevê em quantos tempo?
Precisamos primeiro saber o que a CBF vai fazer com o calendário para eu poder responder essa pergunta. Mas eu gostaria que fosse e breve. Acho que cabe no nosso calendário, é importante para os nossos clubes e para a Região Sul.
Relação com Hélio Cury, pai e antecessor na FPF
Seu pai, Hélio Cury, ocupa a vice-presidência da CBF, como isso ajuda na relação da Federação com a organização?
Temos portas abertas com o presidente Ednaldo Rodrigues, claro que em razão do pai ser vice-presidente. Mas sempre tive uma boa conversa com Ednaldo, o conheço desde que era presidente da Federação Baiana. E é um grande parceiro do futebol brasileiro e paranaense. Temos boa relações com ele e com as demais federações.
E como é a dinâmica da relação com seu pai com você no cargo que ele já ocupou? Dá para considerar ele um consultor? Dá pitacos na suas decisões?
Sou eu que peço uma sugestão, ele tem 15 anos de experiência, se a gente não puder usar todo esse conhecimento, seria leviano e até negativo da minha parte. Não tem por que não usar a consultoria dele. Até para inovar, perguntar por que ele nunca fez algo. Porque às vezes a gente quer fazer alguma coisa, mas ele enxergou algum empecilho ou dificuldade. Ou às vezes queremos inventar a roda, então realmente é uma grande consultoria e nos ajuda muito com a relação na CBF.