Salários atrasados, Mourinho e respeito total: a passagem de Alex como técnico na Turquia
Em pouco mais de seis meses de trabalho na Turquia, onde comandou o modesto Antalyaspor até o início de janeiro, o técnico Alex de Souza passou por várias experiências que ainda não havia encarado em 19 temporadas como jogador profissional de futebol.
"Todo dia aconteciam situações que, se alguém me contasse, eu iria chamar de mentiroso", garante Alex, em entrevista ao UmDois Esportes.
Mas se engana quem pensa que a curta passagem – com 21 jogos e 44% de aproveitamento – é assinalada como um fracasso no ainda breve currículo do treinador. Aos 47 anos de idade, o Antalyaspor foi apenas seu segundo clube profissional desde que deixou para trás as chuteiras.
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Por isso mesmo, entre prática e teoria, os insólitos contextos e cenários vistos de perto na Süper Lig são tão valorizados pelo ex-meia de técnica refinada e QI futebolístico diferenciado.
"A experiência foi fantástica. Tudo aquilo que, para mim, é a melhor parte de todas. Aquilo que eu combinei com eles [diretoria] em maio, quando eu acabei acertando, eu consegui cumprir. Essa para mim é a maior vitória", aponta.
"E consegui cumprir sem que eles cumprissem a parte deles, o que também torna a experiência mais difícil, mais complicada", emenda Alex, que estreou à frente de um clube profissional em 2023 no Avaí (18 jogos e 40% de aproveitamento).
A meta acertada era manter o time entre a décima e a décima quarta quarta colocação na tabela de classificação, longe da zona de rebaixamento, além de avançar nas primeira fases da Copa da Turquia.
Tudo isso aconteceu sem que a comissão técnica recebesse seus salários em dia, por exemplo, assim como o elenco convivia com atrasos frequentes.
"Para você ter uma ideia, nós recebemos o primeiro salário na primeira semana, que era até parte do acordo, para todo mundo ter condição de iniciar a vida na cidade. E depois não recebemos mais", revela.
As peculiaridades do trabalho não paravam por aí. Alex conta que o Antalyaspor tem três presidentes diferentes e, além disso, dois diretores faziam contratações sem anuência da comissão técnica.
Contato com José Mourinho e zero xingamentos
Ídolo do Fenerbahçe, com direito a estátua em frente ao estádio do time em Istambul, Alex trouxe uma bagagem pesada de recordes e história no retorno ao futebol turco 20 anos depois.
Adorado pelos fãs enlouquecidos do Fener, ele também sentiu muito respeito dos adversários, algo inimaginável no futebol brasileiro.
"Aqui no Brasil é praxe. Eu treinei o São Paulo no Sub-20 e treinei o Avaí. Aonde você ia, era xingado pelos torcedores adversários. Por mais que o adversário goste de você, te admite e tal, você é xingado. E eu não vivenciei isso na Turquia, era o contrário. As pessoas nos recebiam bem, pelo menos comigo não teve nenhum problema. Realmente foi um período no qual eu só trago coisas legais e experiências boas".
Outro ponto alto da volta de Alex à Turquia foi o encontro com condecorado treinador José Mourinho, que dirige o Fenerbahçe. Os dois trocaram experiências antes e depois da partida do primeiro turno, vencida pelo português.
"Ao longo dos meses que eu estive lá, troquei algumas ideias com ele. Um cara que me tratou muito bem, falando bastante sobre futebol. Realmente foi uma pessoa [importante], pelo peso que ele tem, por ser quem ele é...", diz Alex, que reencontrou o ex-companheiro Volkan Demirel e o ex-adversário Arda Turan trilhando o mesmo caminho.
"Falamos de reações de jogadores, de reação de diretoria, de reação de vocês da imprensa, de reação de torcedor. Então, são essas experiências que a gente vai trocando e eu, como sou muito curioso, vou guardando no meu bolso as experiências que contam não só como treinador, mas para a vida", conclui.