Entrevista com Osíris Klamas

Vice do Coxa detalha busca por reforços “custo-benefício” para jogar Série A

Por
Fernando Rudnick
09/12/2021 16:51 - Atualizado: 04/10/2023 17:09
Osíris Klamas, vice do Coritiba.
Osíris Klamas, vice do Coritiba. | Foto: Divulgação/Coritiba

Mercado inflacionado, orçamento apertado, necessidade de reforços e (muita) expectativa por resultados. Este é o cenário que o Coritiba encara na montagem do elenco para a temporada 2022.

O trabalho está atrasado, admite o vice-presidente Osíris Klamas, em entrevista ao UmDois Esportes, mas a precaução também uma estratégia para minimizar os erros na busca por jogadores.

É consenso que o elenco que tem o paraguaio Gustavo Morínigo como treinador precisa ser reforçado para encarar a elite do futebol brasileiro. O Coxa, porém, tem encontrado dificuldade para encontrar as peças certas ao preço certo.

"Temos que errar menos ainda nessa temporada, provavelmente em jogadores desconhecidos para a grande maioria da torcida, mas que foram bem avaliados e estudados. E com custo-benefício, que infelizmente é nossa realidade", afirma Osíris, que revelou que a lista de reforços coxa-branca tem mais de 60 nomes, mas que "não adianta encher a prateleira".

Leia e entrevista completa:

Dos membros do G5, você é quem está mais ligado ao futebol. Como está funcionando a montagem do elenco para 2022?

Tivemos a experiência de cair da Série A para a Série B, e agora revertendo de novo. Então, é uma situação complicada, porque você volta para outro patamar, sendo que o nosso orçamento – temos deixado claro – não é alto. Existe uma cultura, inclusive na cabeça dos jogadores, de que é preciso dobrar o salário, triplicar o salário [com o acesso]. Enfim, ser valorizado. E não necessariamente o clube está nessa condição – e é nosso caso específico. Foi fundamental ter subido, o orçamento aumenta muito, mas na realidade do Coritiba a importância de ter os salários em dia. A pior coisa é ter de ficar justificando algo que é o básico para o grupo. Desde que você faça uma negociação e esteja dentro do teu planejamento, você consegue cumprir tranquilamente. Se você está em outra realidade, tem que ficar correndo atrás, é um desgaste desnecessário que repercute no grupo, sempre tem a conversa entre os jogadores e perde-se o foco. Nossa intenção é evitar ao máximo os erros. Temos consciência que nosso planejamento para 2022 ficou atrasado. Houve duas interrogações. Antes da conquista matemática do acesso evitamos qualquer tipo de movimento, até em respeito aos jogadores. O outro ponto é que o mercado ainda estava mexido, no sentido de que vários clubes ainda não sabiam se ficariam na Série A ou na Série B, e é um mercado que a gente pode competir e disputar. Então, teve esse início tardio na busca por jogadores, mas o principal é que temos nosso planejamento, nosso orçamento, nosso caderno metodológico. Mantivemos o Gustavo Morínigo e sabemos de suas preferências. Então, sabemos que precisaríamos de um time mais encorpado, em termos de força e altura, vamos melhorar esse nível. A busca por novos jogadores já começou, mas não podemos confirmar se estamos atrás ou não porque qualquer deslize pode comprometer o resultado final de uma negociação. Temos o princípio de divulgar somente após fechar. Há uma quantidade muito grande de nomes mapeados por posição, sabemos quais posições vamos precisar, quais as características para essas posições.

O Morínigo vai participar mais da montagem do elenco?

Quando o Gustavo chegou [janeiro de 2021], ele não participou das contratações, até por desconhecer o futebol brasileiro. Mas agora é outro cenário. Ele já conhece nosso futebol, conheceu jogadores e sabe o que quer. Mas entre saber o que quer e o que podemos conseguir é outro jogo de xadrez. Temos que ir atrás, temos que tentar. Temos planos A, B C e até D para algumas posições.

O mercado internacional, principalmente da América do Sul, é uma alternativa viável?

Sim. Nessa temporada não tivemos jogadores estrangeiros, apenas a comissão técnica de fora do país, lógico. Mas é um mercado disponível. Hoje, nosso gerente de captação, Rodrigo Weber, tem domínio desse mercado. Mas o importante é que, muitas vezes, a torcida tem um preconceito com nomes que ela não conhece, por exemplo. Um pré-conceito de que o jogador não serve se não é conhecido. Isso aconteceu em dois casos nossos, o Val, que era desconhecido de muitos, e o próprio Waguininho, que acabou não renovando para 2022. Jogadores que vimos potencial, mas outros também tinham potencial e não desempenharam. Então, temos que errar menos ainda nessa temporada, provavelmente em jogadores desconhecidos para a grande maioria da torcida, mas que foram bem avaliados e estudados. E com custo-benefício, que infelizmente é nossa realidade. Ficaria fácil, com dinheiro, ir ao mercado. A gente tem visto aí, quando vamos buscar algum jogador, que há necessidade de um investimento e não temos hoje essa capacidade como outros clubes. Sabemos os jogadores que queremos, mas muitas vezes temos que abrir mão porque exige-se investimento acima da nossa capacidade.

É preciso ser extremamente eficiente para montar um time competitivo para o Brasileirão...

E ficamos nessa situação de que não adianta encher a prateleira. Temos hoje um elenco, um elenco básico que conhecemos bem o potencial e vamos tentar trazer jogadores que a gente imagina que possam casar bem entre eles, com algumas características diferentes do que apresentamos até agora. E, voltando ao mercado internacional, temos tudo bem mapeado, fomos atrás de vários contatos, e têm algumas possibilidades acontecendo.

Essa história de encher a prateleira, trazer jogador caro que às vezes não rende, é péssimo para a realidade do Coxa hoje...

Tenho algumas considerações. Houve um pedido dos próprios jogadores na montagem do elenco para 2021, que foi o extracampo. Veio um grupo de jogadores diferenciado. A tal da gestão do elenco ficou facilitada por serem jogadores com um nível de comportamento extracampo condizente com profissionais. Isso facilitou bastante, quase não tivemos problemas nesse sentido. Vamos analisar muito de perto esse perfil do atleta, não só a característica esportiva, mas a pessoa, a cultura. Faz uma diferença grande e foi o que levou o time a se manter bem até o final. Não necessariamente vamos trazer um jogador, que você diga, 'opa esse veio para ser titular'. Mas que ele tenha total condição de ser titular ou de disputar a posição de igual para igual, dando uma alternativa tática diferente para o treinador. Essa é outra coisa que estamos buscando, que permita o Gustavo fazer uma variação. Esse foi um tema que ele comentou muito nesse ano. Ele olhava pro banco e dizia que teria de trocar por trocar. Então não adianta trocar, deixa eu apostar no entrosamento aqui porque não vai mudar muito o jogo se colocar alguém do banco. O Gustavo teve poucas opções para fazer uma mudança e isso também acabou gerando críticas da torcida, a gente acompanhou, mas sem entender essa condição que tínhamos, que era um banco limitado. Vamos tentar oportunizar ao treinador alternativas para mudar o jogo de acordo com o resultado.

A dificuldade para montar o elenco para jogar o Brasileirão é muito maior?

Mais difícil porque, como disse, nosso acréscimo orçamentário não foi proporcional ao do mercado, que está extremamente inflacionado. As exigências de jogadores envolvendo luvas, valor de investimento, é maior. Nós ainda estamos com essa dificuldade. No início da temporada passada a gente estava sem dinheiro mesmo e foi na raça, mas buscando jogadores para a Série B. Agora nessa situação que temos um elenco e precisamos reforçar, estamos vendo que a capacidade de investimento [dos rivais] é muito maior do que nosso orçamento. Então temos que ter muito cuidado, sem pressa. No passado aceleramos algumas contratações sem necessidade. Lógico, você pode ganhar ou perder um jogador, mas também pode deixar de cometer um erro que vai ficar aí. E a torcida pega no pé com isso. Falam, 'ah, manda embora'. Só que tem contrato, vai fazer o que? São críticas que recebemos de torcedores que não conhecem a realidade do futebol. Outra coisa que falam é 'ah, estão na mão de empresários'. Outra coisa que não existe. Hoje temos relacionamento com talvez 13, 14 empresários. Não tem nenhuma prioridade ou preferência, focamos no nosso objetivo. Têm empresários das mais variadas linhas de negociação, alguns muito profissionais, outros nem tanto, mas que você tem que lidar com ele – e sempre com muito cuidado nos contratos. Estamos pensando em médio e longo prazo e temos que errar menos. Ninguém é infalível, mas temos que minimizá-los.

Quais posições que vocês mais precisam hoje?

Temos mapeado necessidades em todas as posições. Lógico que não necessariamente hoje, 9 de dezembro, a gente precise de um goleiro ou de um centroavante, por exemplo. Mas temos que ter nomes pré-avaliados nessas posições para talvez daqui a 15 dias ou um mês, quando precisarmos, termos esse planejamento. Já passamos por isso durante esse ano. Há algumas situações que podem mudar, estamos conscientes disso também. Não é só o Coritiba que busca jogadores. Hoje os nossos atletas têm contrato vigente, só que não sabemos o que pode vir pela frente. Temos nomes para todas as posições, temos inseridos no elenco atletas da base, com potencial avaliado e garantidos no grupo. Mas há também questão de características. Um exemplo, os zagueiros Henrique e Castán. Com o Castán ainda estamos em negociação, queremos ficar com ele, um jogador que se identificou muito com o clube, com o grupo. Observamos os dois jogando na Série B, são excelentes profissionais, mas também temos que ter alternativa para determinados jogos. Então, a intenção a ideia é buscar zagueiros com mais velocidade do que eles. Na Série A, vamos tentar propor o jogo contra algumas equipes, não sendo reativos, e aí você acaba mais exposto e, por consequência, precisa de mais velocidade nos contra-ataques. São características que vamos precisar oferecer para o Gustavo ter uma tranquilidade maior de trabalho.

Um nome que está sendo comentado nas redes sociais é do meia Giovanni Augusto, que deixou o clube em janeiro, no início da gestão atual. Algum interesse?

Ele não está no nosso radar. Temos uma lista de mais de 60 nomes. A forma como ele saiu – eu participei da conversa –, na véspera de um jogo. Entre aspas, ele nos deixou na mão. Entendemos, porque o valor que ele receberia no México era algo absurdo, algo que qualquer um tomaria a decisão que ele tomou. Infelizmente, tenho que reforçar, era um erro de contrato. Têm várias situações de jogadores que recusamos pois tinham cláusulas como a do Giovanni, com possibilidade de sair para o exterior. A gente não aceita, a não ser que tenha participação de vitrine, mas mesmo assim com muito cuidado. Ele saiu de uma forma que não foi legal para nós, ele estava se destacando naquela época, mas não temos o objetivo de trazê-lo, posso garantir. Ele não está na nossa lista e não é nossa prioridade.

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Fernando Rudnick é formado em jornalismo e pós-graduado em comunicação esportiva. Sempre repórter, começou a cobrir o dia a dia dos times paranaenses em 2009, quando entrou na Gazeta do Povo. Atualmente, é coordenador do UmDois Es...

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