Único caminho? O que os ex-presidentes pensam sobre a venda da SAF do Coritiba
O Coritiba está a um passo de concluir a venda de 90% sua SAF (Sociedade Anônima do Futebol) para o fundo Treecorp Investimentos por R$ 1,3 bilhão.
Depois das aprovações expressivas no Conselho Deliberativo e também na Assembleia Geral Extraordinária de sócios, resta somente a posição do juízo da Recuperação Judicial (RJ), esperada para 13 de junho, para que o negócio seja selado definitivamente.
Diante da mudança mais emblemática em quase 114 anos de história do clube, o UmDois Esportes perguntou a opinião de ex-presidentes do Coxa sobre o assunto. Confira as respostas abaixo:
Vilson Ribeiro de Andrade (presidente entre 2012 e 2014)
"Sou a favor por uma razão muito simples: o clube, como associação, não sobreviveria mais quatro anos. Não tem receita para sobreviver, dependeria de uma série de fatores, depende de, no mínimo, R$ 100 milhões em dinheiro novo ao ano. E quem vai colocar isso? Ninguém vai fazer isso. Então a SAF é o caminho, essa é minha visão."
Giovani Gionédis (presidente entre 2002 e 2007)
"Eu votei favoravelmente, mas entendo que o assunto poderia ter sido conduzido de forma diferente. Oito mil votos é até maior que uma eleição municipal, votação muito expressiva. Mas a diretoria que está lá optou por essa forma e foi feito. Na eleição, fizeram promessas de campanha e depois fizeram contratações que não surtiram resultado. Não sou eu que digo, a torcida diz. Está aí a situação do time, em último colocado no Brasileiro. Então, acho que a a SAF é a esperança que a torcida tem de que algo possa mudar. Espero que venha uma administração quiçá profissional para que o Coritiba tenha outros rumos."
Samir Namur (presidente entre 2018 e 2020)
"Da minha parte, só desejar boa sorte."
Edison Mauad (presidente entre 1995 e 1996)
"Do ano de 1995 para cá, o Coritiba mudou demais. E acho que se não fosse o Renatinho [Renato Follador], acho que o clube tinha até fechado. Ele levou um pessoal para lá que talvez não entenda muito de bola, mas recuperaram na área administrativa. Nosso estádio já está em fase terminal. Quem construiu aquilo lá fui eu em 1972. O que me anima na SAF não é nem o fato de fazer time. É o projeto de CT e projeto de estádio. Infelizmente não há outra solução além da SAF e esse caminho não é só o Coritiba que vai tomar."
Rogério Bacellar Portugal (presidente entre 2015 e 2017)
"Claro que sou a favor. O Coritiba de muitos anos para cá sofre financeiramente. Na minha gestão houve mudança de estatuto e o Conselho Deliberativo me atrapalhou muito por que mandava notas pedindo para que não pudesse contratar jogador, que não pudesse fazer isso ou aquilo. Me impediu de fazer muitas coisas benéficas não só ao futebol, mas também ao patrimônio do clube. A SAF não vem para salvar o Coritiba, que é uma instituição centenária que poderia sair disso desde que tivesse gestão e conselho que trabalhassem juntos. A SAF, além de injetar dinheiro, quitar dívidas e trazer tranquilidade, não só para o futebol, como para a parte administrativa do clube e todos os torcedores.
João Jacob Mehl (presidente entre 1998 e 1999)
"Sou um pouco cético, não acredito muito. Acho que é pouco dinheiro para fazer um clube fluir. Você entrega o clube, centro de treinamentos, dois terrenos. É difícil me convencer do contrário. Eu fui um presidente que pegou R$ 7 milhões de dívida e deixei com R$ 14 milhões negativos. Naquela época fomos traídos pela valorização do dólar. Mas nos anos seguintes as diretorias que me sucederam venderam US$ 35 milhões em jogadores: Marquinhos Cambalhota, Marcel, Cléber Arado, Ataliba, Henrique, Miranda, Adriano e Mozart. O Coritiba é viável desde que tenha no futebol gente que entenda de bola. Não vendemos jogadores nos último anos. Não fizemos dinheiro para sustentar o clube. Essa empresa tem condições de fazer algo melhor? Eu me abstive da votação. A única maneira de ficar com boas expectativas é que o Joel Malucelli está investindo, se ele botou dinheiro dele, é por que acredita".
Juarez Moraes e Silva (atual presidente licenciado)
"O futebol global exige competitividade. E competir em alto nível só é possível com muito investimento, excelência de gestão continuada no tempo e profissionalismo. O futebol romântico ficou no passado. O Coritiba nesta gestão, a partir da Lei da SAF, com muito esforço equalizou primeiro suas dívidas históricas, não gerando novas e enfrentando a Recuperação Judicial (RJ), para em um segundo momento ir a mercado buscar o investidor, através de um processo exaustivo e super competitivo. Duas etapas decisórias já foram cumpridas com aprovação quase unânime do Conselho Deliberativo e pela Assembleia de Sócios. Resta agora cumprir o rito junto ao juizo da RJ. O futuro pertence a Deus, mas para chegarmos a esse momento foi feito o melhor possível. Exercício puro de um amor incondicional. O clube está sendo refundado, em bases sólidas e promissoras, mantendo suas tradições e principalmente valorizando o principal patrimônio: sua incrível torcida."
Joel Malucelli (presidente entre 1996 e 1997 e investidor da SAF)
"Eu, que já estive lá dentro, senti bem. Da fórmula que o futebol é tocado no Brasil, você pode ter um presidente perfeito, que deixe tudo direitinho, deixe o clube em ordem e planeje o futuro. Você pode fazer tudo isso, que é bonito no papel, mas quando infelizmente entram diretorias que são despreparadas… Dois anos de uma gestão despreparada em um clube de futebol desmonta o clube por dez anos. É muito difícil recuperar depois de uma gestão assim. Nesse modelo novo, com CEO remunerado, isso certamente não vai acontecer porque não há prazo de validade. Não tem presidente que vai ficar por dois, três ou quatro anos. Só esse fator já aumenta a possibilidade de sucesso. Outro fator é que agora o futebol [do Coritiba], sendo uma operação rentável, o que não era anos atrás, com receitas novas entrando no futebol, vai fazer com que tudo seja melhor. Devemos considerar também: quais alternativas temos? Nenhuma, a não ser a SAF.