Análise

SAF do Coritiba tem modelo único no Brasil? Compare com outros clubes

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UmDois Esportes
09/05/2023 19:24 - Atualizado: 04/10/2023 22:24
Coritiba acertou venda de SAF
Coritiba acertou venda de SAF | Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

O Coritiba anunciou, nesta terça-feira (9), acordo com o fundo de investimentos Treecorp para a venda da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) alviverde.

O negócio ainda depende da aprovação do Conselho Deliberativo, Assembleia de Sócios e do juízo da Recuperação Judicial para ser sacramentado. O valor do investimento anunciado pode superar R$ 1,3 bilhão por 90% do capital da Coxa S/A. Os outros 10% ficam com o clube, em formato de associação civil.

+ Confira a tabela do Coritiba no Brasileirão

Deste valor, R$ 500 milhões serão destinados à modernização do Couto Pereira; R$ 270 milhões para a quitação de dívidas; R$ 100 milhões para um novo centro de treinamentos; e outros R$ 450 milhões para investimento direto em futebol (salários e contratações). O prazo total do investimento é de dez anos.

Vale lembrar que, em agosto de 2022, o Coritiba fechou acordo de Recuperação Judicial, que prevê o pagamento de R$ 120 milhões de dívidas trabalhistas e cíveis a mais de 300 credores, em um prazo de 12 anos. Já a dívida total está em R$ 252,7 milhões.

Coritiba e o investimento prometido no futebol

Glenn Stenger, presidente em exercício. Foto: Divulgação/Coritiba
Glenn Stenger, presidente em exercício. Foto: Divulgação/Coritiba

Em uma conta básica, a Treecorp se compromete a desembolsar, em média, R$ 45 milhões por temporada no futebol coxa-branca. O valor pode ser potencializado pelas verbas do próprio Coxa, como vendas de atletas, premiações e competições, e alcançar a promessa de R$ 120 milhões por ano.

Para se ter ideia, este é exatamente o valor do orçamento anunciado pelo presidente em exercício, Glenn Stenger, para a temporada de 2023, em que o clube aportou alto para os próprios padrões, fez o maior investimento de sua história, mas já fracassou no Estadual e Copa do Brasil.

Além disso, o time vem encontrando dificuldades no início do Brasileirão, inclusive recorrendo à troca de treinador. Saiu o português António Oliveira e chegou Antônio Carlos Zago.

Em outras palavras, o cenário aponta que o dinheiro prometido, por si só, não garante o sucesso em campo: a SAF precisará de capacidade de gestão em uma área altamente competitiva e com rivais ainda mais endinheirados para transformar dinheiro em sucesso esportivo.

Coritiba e a comparação com outros clubes do Brasil

Desde a aprovação da Lei da SAF, criada pelo Congresso em agosto de 2021, equipes tradicionais como Botafogo, Cruzeiro, Vasco e Bahia já fizeram a transição de associação civil sem fins lucrativos para a empresarial e negociaram as suas ações com ovos donos.

A primeira diferença da SAF coxa-branca para as demais é de que a Treecorp é um fundo de private equity, com investimento em empresas de capital fechado, e que não estão listadas em bolsas de valores. O fundo trabalha captando dinheiro com investidores para comprar empresas.

Ou seja, nesse caso, qualquer pessoa pode, em teoria, comprar parte da SAF do Coritiba como opção de investimento, adquirindo cotas. Confira abaixo modelos de SAF em vigência nos clubes citados acima.

Botafogo

Em março de 2022, o clube carioca vendeu 90% das ações da SAF para o bilionário norte-americano, John Textor, acionista de outros clubes, como o Crystal Palace-ING e o Lyon-FRA.

No total, Textor se comprometeu a investir pelo menos R$ 400 milhões no Botafogo, em até 36 meses a partir da compra, com a promessa de que pelo menos metade do valor seria direcionado ao futebol.

John Textor, investidor do Botafogo. Foto: Divulgação/Botafogo.
John Textor, investidor do Botafogo. Foto: Divulgação/Botafogo.

No entanto, as
dívidas do Botafogo já geram problemas para a SAF. Assim como o Coritiba, o
clube havia renegociado as dívidas antes da compra, mas Textor não vem conseguindo
cumprir os pagamentos.

A dívida já aumentou, passou de R$ 1 bilhão e a SAF já até teve penhora de ativos. Por outro lado, balanço financeiro de 2022 revelou lucro de R$ 123 milhões na operação de Textor.

Cruzeiro

Em dezembro de 2021, o ex-atacante Ronaldo Fenômeno anunciou a compra de 90% das ações do clube por R$ 400 milhões, a serem investidos em até cinco anos. Deste valor, R$ 40 milhões tiveram de ser investidos imediatamente para quitar dívidas urgentes.

A SAF vem liderando a negociação da Recuperação Judicial da Raposa e promete aportes de R$ 491 milhões, em até 12 anos, para quitar pendências.

Ronaldo comprou SAF do Cruzeiro. Foto: Divulgação/Cruzeiro.
Ronaldo comprou SAF do Cruzeiro. Foto: Divulgação/Cruzeiro.

Mas a questão de dívidas pregressas já foi parar na Justiça. Em um caso de 2019 envolvendo dívida de mais de R$ 30 milhões com o Pyramids, do Egito, sobre o meia Rodriguinho, a SAF do Cruzeiro defende que a responsabilidade de quitar o débito seria da associação do clube, que ficou com os outros 10% das ações, e não da SAF.

Atualmente, Ronaldo também negocia a venda de 20% das ações da SAF para outro investidor. Em 2022, a gestão da SAF terminou com prejuízo de R$ 65,4 milhões.

Vasco

O clube carioca vendeu 70% da SAF por R$ 700 milhões ao grupo 777 Partners, com aporte inicial de R$ 120 milhões. Pelo acordo firmado, a SAF ainda investirá outros R$ 510 milhões até o final de 2023.

Investidores do Vasco. Foto: Divulgação/Vasco da Gama.
Investidores do Vasco. Foto: Divulgação/Vasco da Gama.

Além disso, a holding também assumiu as dívidas da associação, no valor máximo de R$ 700 milhões – o balanço do clube apontava dívida de R$ 592,6 milhões.

Após o primeiro ano de investimentos, no entanto, a SAF do Vasco fechou a temporada de 2022 com prejuízo de R$ 88 milhões, valor que já considera as dívidas assumidas pelos investidores com os credores do clube.

Bahia

O clube baiano vendeu 90% de sua SAF para o poderoso Grupo City, dono do Manchester City, da Inglaterra, e com investimentos dos Emirados Árabes. O anúncio foi feito neste mês de maio.

Bahia anunciou acordo com Grupo City. Foto: Divulgação/Bahia EC.
Bahia anunciou acordo com Grupo City. Foto: Divulgação/Bahia EC.

O investimento anunciado foi de R$ 1 bilhão ao longo de 15 anos, sendo que R$ 300 milhões servirão ao pagamento de dívidas, R$ 200 milhões para infraestrutura e capital de giro e, por fim, um mínimo de R$ 500 milhões para a compra de jogadores e pagamentos de salários.

O acordo ainda prevê o pagamento imediato, por parte da SAF, de toda a dívida do Bahia, estipulada em cerca de R$ 270 milhões – o montante, no entanto, deve ser reduzido nas negociações com credores.

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