Por que a campanha do Coritiba degringolou e resultou em mais um rebaixamento?
Em janeiro de 2023, o torcedor do Coritiba tinha tudo para acreditar que o time faria uma boa campanha no Campeonato Paranaense, Copa do Brasil e Brasileirão. Mas no ano de maior investimento, estimado em R$ 27 milhões, e da mudança para Sociedade Anônima do Futebol (SAF) em uma transação bilionária, o Coxa termina o ano rebaixado para a segunda divisão pela sétima vez na história.
A queda veio com três rodadas de antecedência, depois da derrota para o Fluminense por 2 a 1, no Maracanã, neste sábado (25). Com o resultado, o Coritiba se junta ao América e lidera o ranking de clubes mais rebaixados para a Segundona na história.
A frustração do torcedor, hoje, é descontada na figura do técnico Thiago Kosloski, no head esportivo Artur Moraes e no CEO Carlos Amodeo. Mas, antes deles, de fato, entrarem em cena, o Alviverde já plantava a semente que culminaria na terrível situação no fim do ano.
Elenco mal formado
No início do ano, o Coritiba investiu alto e desembolsou quase R$ 30 milhões para formar o elenco usado na temporada e 29 atletas assinaram com o clube. A quantidade, porém, não reflete a qualidade. Dos 29, nove já se despediram ou não são usados desde setembro e três mal aparecem.
"Acho que foi erro de planejamento, o elenco foi muito mal formado. O Coritiba era muito dependente do Alef Manga, que fez o que fez. Sem ele, o Coritiba perdeu muito e não teve peça de reposição à altura. É muito difícil você depender de uma janela de meio de temporada, então, o Coxa não conseguiu fazer o que se esperava nesse meio de ano", avalia o jornalista e comentarista Felipe Dalke, da Jovem Pan.
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Manga, mesmo suspenso do futebol depois de ser condenado na Operação Penalidade Máxima, por manipulação de resultados no futebol, é o artilheiro da equipe no ano. O erro do antigo camisa 11 custou caro ao Coxa. Depois da saída do atacante, Robson virou a referência e chegou a empatar com o ex-colega na artilharia, com 13 gols.
Com a pior defesa do campeonato, o Coxa podia até marcar, mas os adversários também balançavam as redes. Até aqui, na temporada, foram 69 gols contra em 35 jogos, uma média de mais de dois por jogo.
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Troca de técnicos
O planejamento ruim não se restringe apenas aos jogadores. O Coritiba também teve dificuldade com o comando do elenco. Iniciou o ano com António Oliveira, e depois de uma intertemporada em Atibaia, antes do início do Brasileirão, com treinos e amistosos, despediu o treinador após a derrota por 3 a 0 para o Flamengo, na primeira rodada.
"Um ano tão ruim nunca é impulsionado apenas por um fator, mas sim por múltiplos. O clube passou por uma reformulação muito grande e muitas dessas mudanças num momento inapropriado. O melhor exemplo disso foi o caso do António Oliveira, que teve uma queda precoce no Campeonato Paranaense e sofreu muito contra o Criciúma na Copa do Brasil. Após esse jogo, o clube fez uma intertemporada sob o comando dele, para visar a disputa do Brasileiro. Mas ele foi demitido logo após a derrota na primeira rodada. Qual o sentido disso? Para piorar, quando o substituto chegou a janela fechou. Ou seja, o treinador demitido foi quem avalizou as últimas contratações para todo o primeiro turno. O erro nem foi a tomada da decisão, mas sim o momento e isso custou muito caro", opina o comentarista Daniel Piva, da Rádio Transamérica.
Sem o português, a escolha foi Antônio Carlos Zago. Em sua passagem, foram 12 jogos e nenhuma vitória. Foi com ele que a equipe alcançou o recorde histórico de 126 dias sem ganhar. E, no fim, o treinador ainda deu uma entrevista polêmica, que culminou na sua demissão. "Se não reforçar, vai cair para a Série B", foi uma das falas do técnico na coletiva.
Thiago Kosloski chegou por último, no fim de junho, e é quem recebe a responsabilidade da torcida no momento atual. Nas coletivas de imprensa, ele se defende e fala da situação ruim que o time já se encontrava quando assumiu.
"Naturalmente, quem está lá tem culpa. Só que, para mim, ele é o menor dos culpados. Eu elejo a diretoria, as contratações principalmente, sob a supervisão de Artur Moraes e Amodeo. Depois coloco o Zago, porque ficou 12 jogos sem vencer partidas, e a conta chega depois. E depois, o Kosloski. Acho que o Thiago fez o que podia fazer, mas a fraqueza do elenco foi muito maior", elenca Dalke.
De acordo com Piva, Kosloski poderia ter feito mais. "Não o coloco como um dos maiores culpados, mas também não o isento. Quando assumiu a situação era crítica, mas tem exemplos de técnicos que com elencos tão limitados quanto conseguiram entregar mais. O Goiás é um grande exemplo. O treinador também assumiu em junho, numa situação menos dramática, é verdade, e conseguiu ter um time organizado e competitivo. Pode até ser rebaixado igual, mas num caminho totalmente diferente" afirma.
Gringos sem ritmo
Não bastasse a dificuldade em montar um elenco eficiente nas janelas de início e meio de ano, o Coritiba, já sob o comando de Amodeo e Artur Moraes, apostou em três nomes como cartadas finais para tentar salvar a temporada: Islam Slimani, Jesé Rodríguez e Andrea Samaris.
O argelino correspondeu, trouxe raça e fez gols. Atacante matador, até revigorou o ânimo da torcida quando chegou. Fez gol na vitória no Athletiba, por 2 a 0, e ajudou o time a pontuar. Mas sua chegada foi tarde demais. Agora, lesionado nas Eliminatórias da Copa do Mundo, pela seleção argelina, o atleta só volta ao Brasil no dia 29 de novembro e pode nem jogar mais pelo Coxa neste ano.
Por outro lado, Jesé Rodríguez e Samaris foram duas apostas que não deram certo. Há meses sem jogar, chegaram no Alviverde sem ritmo e, dois meses depois, mal são utilizados. Para Dalke, eles simbolizam a falta de planejamento do Coxa em 2023.
"O Samaris era um cara praticamente aposentado e o Jesé, desde que saiu do Real Madrid nunca mais jogou decentemente. A última boa temporada dele foi há dois anos, no campeonato espanhol. Para mim, esse desespero, pagando caro por jogadores que têm nome, isso impactou muito mais porque são atletas que chegaram com um cartaz, salário alto, e simplesmente não conseguiram entregar absolutamente nada", afirma.
E daqui para frente?
Com o rebaixamento matematicamente decretado, o Coritiba só vai disputar as próximas partidas para cumprir tabela. O foco agora é o planejamento para a Série B e o acesso à elite em 2025.
Antes disso, porém, para Dalke, é preciso que o Coritiba tenha uma "figura que manda" e que possa ser cobrada, para além de CEO, head esportivo ou treinador.
"Uma coisa que tenho batido muito é que eu creio que o Coritiba precisa hoje de alguém que realmente mande. Porque a gente não faz ideia de quem manda no clube. Tem o CEO que é o Amodeo, o head esportivo que é o Artur Moraes, e está contratando um diretor executivo que é o Chávare, mas e quem manda neles?", questiona o jornalista.