De volta, Coritiba encara desafio de seguir na Série A e vê Nordeste como exemplo
De volta à Série A do Campeonato Brasileiro, o Coritiba agora tem como primeira missão evitar o que acontece quase todos os anos com ao menos um dos quatro times que sobem: são rebaixados logo no ano seguinte.
Desde que a Série B também passou a ser disputada por pontos corridos e com quatro clubes conquistando o acesso, em 2006, somente em 2012 e 2013 os novos participantes não foram rebaixados.
Dos 56 acessos nas 14 edições da segunda divisão deste então, 19 foram rebaixados na temporada seguinte, o equivalente a 34%. Ou seja, a cada três equipes que conquistam uma vaga na elite, uma cai logo no primeiro ano.
Sem contar casos daqueles que se sustentam numa temporada, mas na próxima não evitam a queda (11 no total). Em números práticos, mais da metade dos times que sobem (53,5%) não permanecem mais que dois anos na Série A.
Coritiba vê em clubes do Nordeste exemplos positivos para seguir na elite
Para evitar entrar para esta estatística novamente – já passou por isso em 2009 e 2020 –, o Coxa pode se espelhar em exemplos de equipes que, ao menos logo após a volta à elite, conseguiram permanecer, casos de Bahia, Ceará e Fortaleza.
Até aqui, nenhum dos três fez uma campanha memorável. Em algumas temporadas, foram até ameaçados pelo rebaixamento, mas já estão um bom tempo sem amargar uma volta à Segundona. O tricolor baiano subiu em 2016, enquanto o Vozão voltou em 2017 e o tricolor cearense chegou à elite em 2018.
Em comum entre os três, a prioridade em colocar a casa em ordem primeiro, se ajustando financeiramente, para depois pensar em resultados em campo. Em outras palavras, com um orçamento primeiramente mais enxuto, os clubes priorizaram se manter na primeira divisão – de preferência sem sustos –, para continuar com a verba de TV e, aos poucos, investindo no campo em si.
"É difícil ficar na primeira divisão e se consolidar. É muito difícil manter uma estabilidade para clubes com orçamentos mais enxutos. O Fortaleza está surpreendendo, brigando por Libertadores, para chegar em patamares que não estava, mas é um elenco enxuto em termos financeiros e sofre assédio. O melhor jogador do Fortaleza ano que vem pode estar em outro lugar, porque pode receber mais", afirma Rodrigo Capelo, jornalista do ge.globo, especialista em negócios do esporte.
Cenários ruins e volta por cima até a volta à elite. Os caminhos de Bahia, Ceará e Fortaleza
Os três times nordestinos podem ser vistos como referências, mas viveram até pouco tempo atrás crises ainda mais complicadas, dentro e fora de campo.
O Bahia passou por um sério problema administrativo, chegou a cair para a Série C, viu famílias no poder quebrando o clube, até que uma gestão mais profissional praticamente reconstruiu do zero todo o projeto de retomada da equipe.
Já o Ceará, que conquistou o acesso em 2017, por pouco não foi parar na Terceira Divisão em 2015, escapando da queda em uma arrancada incrível. Desde então, o susto se transformou em organização. Na sua quarta temporada na elite, o Vozão briga para fugir do Z4.
A maior surpresa do Brasileirão, o Fortaleza foi campeão da Série B em 2018 e desde então não caiu mais. Mas amargou oito anos seguidos na Série C, em muitas temporadas batendo na trave no acesso. O segredo para o crescimento foi o mesmo do Bahia: a gestão.
O atual presidente, Marcelo Paz, investiu em infraestrutura, melhorando centro de treinamento, dando mais condições ao elenco e, principalmente, sempre pagando salários em dia, dentro do orçamento que a equipe podia arcar.
Gastar bem o dinheiro é o segredo
Até por isso, estes times são usados como exemplos atualmente. Souberam se encaixar na nova realidade e, dentro do novo orçamento, não fizeram loucuras e estão enfrentando de igual para igual adversários com folha salarial até cinco vezes maior.
"A parte mais importante para quem sobe e quer ficar é aumentar a folha salarial de uma maneira saudável. Ou seja, pagando salários em dia, cumprindo com suas obrigações. Quanto mais se gasta com salários de jogadores, melhor é o resultado dentro de campo. Lógico que existem casos de clubes eficientes, como Atlético-GO, Ceará e Fortaleza, que têm orçamentos menores, mas conseguem bons resultados, gastam bem o dinheiro. Mas, de maneira geral, quem sobe depende muito de grana. Até por isso quem sobe costuma cair, porque faz um orçamento de R$ 40 milhões, R$ 50 milhões no ano e vai jogar contra clubes que gastam mais de R$ 100 milhões. A competição é muito desigual e de um jeito ou de outro você tem que ter eficiência", acrescenta Capelo.
Ainda de acordo com o analista, o controle financeiro é o principal ponto para um clube que subiu conseguir se manter na elite. O planejamento é fundamental para que se evite ficar no prejuízo em um eventual rebaixamento já no primeiro ano.
"O ponto mais importante em termos de arrecadação é que quando você sai da Segunda Divisão para a primeira, você troca um faturamento de R$ 8 milhões, que pode chegar até R$ 6 milhões, para uma cota de pelo menos R$ 40 milhões. Isso dá dinheiro suficiente para aumentar as despesas. Quando um clube fica no sobe e desce, isso é muito ruim, porque sabe que quando sobe não pode gastar loucamente porque na temporada seguinte pode voltar para a Segunda Divisão e quebrar", completa Capelo.