Trabalhadores migrantes pedem indenização por abusos às vésperas da Copa
A ONG Human Rights Watch (HRW) insistiu nesta quinta-feira (17) que a Fifa e o Catar devem compensar os trabalhadores migrantes pelos abusos de direitos humanos e trabalhistas sofridos durante a construção da infraestrutura necessária para a Copa do Mundo de 2022, na véspera do início do evento.
Em novo comunicado, a ONG disse que produziu um vídeo de seis minutos com depoimentos de vários trabalhadores, familiares e torcedores do Nepal, um dos países de onde vieram muitos dos trabalhadores migrantes no Catar, explicando sua experiência durante os últimos 12 anos no país árabe, e como afeta a falta de uma adequada remuneração.
A nota, intitulada "Trabalhadores e famílias levantam suas vozes com a aproximação da Copa do Mundo", destaca vários abusos que vão desde "roubo de salários e lesões" a "milhares de mortes inexplicadas".
+ Veja a tabela completa de jogos da Copa do Mundo
"Muitos trabalhadores, suas famílias e comunidades não podem celebrar plenamente o que construíram e estão pedindo à Fifa e ao Catar que resolvam os abusos que deixaram famílias e comunidades destituídas e em perigo", disse a investigadora sênior da HRW, Rothna Begum, de acordo com a nota.
"Foram indispensáveis para tornar possível a Copa do Mundo de 2022, mas isso teve um grande custo para muitos deles e para suas famílias, que não apenas fizeram sacrifícios pessoais, como também enfrentaram roubo de salários generalizado, ferimentos e milhares de mortes inexplicáveis", destacou Begum.
Alguns dos trabalhadores que prestaram depoimento no vídeo deixaram o Catar, enquanto outros permanecem no país e mudaram seus nomes por medo de represálias.
"Em um dos países mais ricos do mundo, os trabalhadores migrantes viviam na pobreza em alojamentos superlotados, apesar da construção de infraestrutura multibilionária de última geração", diz o comunicado.
"A maioria dos trabalhadores migrantes mal pagos pagou para construir o Catar 2022 (...) mesmo com o avançado sistema de saúde do Catar, as famílias da Ásia e da África não sabiam o que matou seus entes queridos no Catar", acrescentou.
Copa do Mundo 2022: acesse o simulador e dê seu palpite!
A nota da ONG reconhece as reformas introduzidas pelo Catar para proteger e compensar os trabalhadores ou eliminar restrições como o sistema "Kafala", ou patrocínio que impedia os trabalhadores de deixar o país ou mudar de emprego sem a aprovação de seus empregadores, que também retêm os salários.
Destaca-se também que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirmou que o Catar reembolsou US$ 320 milhões às vítimas de abusos salariais por meio do Fundo de Seguro e Apoio aos Trabalhadores.
No entanto, denuncia o fato de que este fundo “só se tornou operacional em 2020”, de modo que “a viagem de muitos terminou abruptamente com salários em atraso por trabalhos fisicamente exigentes em condições de extremo calor”.
“Muitos trabalhadores migrantes não se beneficiaram” das reformas “ou porque foram introduzidas tardiamente” ou porque “seu alcance foi muito limitado (...) aqueles que ficaram para trás precisam de compensação financeira”, insistiu a HRW.