Mercado de rua vira ponto de resistência do espírito da Copa em Doha
A região histórica e cultural de Souq Wakif virou um dos principais pontos de encontro entre torcedores de diferentes países neste início de Copa do Mundo no Catar.
Se o clima em parte da área central de Doha é neutro em relação ao Mundial, os labirintos do tradicional mercado de rua tornaram-se ponto de resistência do espírito da Copa na neutralidade da capital.
Camisas do México, Holanda, Senegal, Alemanha, Argentina e outras se perdem pelas esquinas exóticas do labirinto de casas baixas de estilo beduíno e corredores estreitos perfumados por temperos árabes e fumaça de incenso. Torcedores de Senegal dançam e são aplaudidos.
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Os brasileiros também comparecem em bom número. A cada centena de metros se ouve uma palavra em português. O amarelo das bandeiras e camisas pontuam aqui e ali o pequeno formigueiro humano.
A camisa da seleção também está à venda. Não a oficial. Em uma das lojas, uma camisa para torcedores custa R$ 145. O boné verde e amarelo sai por R$ 100. Já a camisa que imita a do time de Tite é anunciada por R$ 80. Quase tudo é negociável.
Em volta dos corredores, cafés e
restaurantes de comida típica servem de refúgio a quem já cansou de bater
perna.
Antigo mercado guarda tradições do Catar ancestral na Doha futurista
Uma loja de pérolas é atração disputada – o antigo mergulhador Saad Ismail Al Jassem, 84 anos, está atrás do balcão, tão pronto para negociar colares e pulseiras, como para contar fascinante história de vida.
Ele narra que, no passado, mergulhadores como ele usavam apenas um prendedor de nariz, uma rede colocada ao redor do pescoço para depositar as pérolas e um peso em um dos pés para evitar a flutuação.
A coleta de pérolas foi um dos principais motores da economia catariana antes da exploração do petróleo e gás natural. Al Jassem afunda um dos braços em uma tábua de pregos para impressionar os turistas. Atrás de si está o seu retrato como um jovem forte e sem camisa.
A gente sai da lojinha e vira a esquina e vê tâmaras, xales, lenços, tapetes, lâmpadas, porcelanas, temperos, bijuterias e muitos quadros do onipresente Emir com bigode preto. O preço do maior: R$ 800.
Mais à frente, a tradição do jogo de damas é mantida viva por homens com lenços na cabeça, os tradicionais guthras. Em outro corredor, vendedores de sapatos sentam descalços enquanto consertam um velho par.
Outra curva e portinhas em uma pequena praça vende pássaros de todas cores e tamanhos. Eles são paixão nacional. O falcão é o mais adorado. Um canarinho amarelo custa R$ 265.
Quando deixamos o mercado árabe, no horizonte, os arranha-céus arrojados e futuristas nos aguardam e arrastam novamente para a Doha contemporânea.