No Catar, torcida local vibra com o futebol só quando Emir aparece no telão
Nem todo o dinheiro, modernidade e tecnologia do mundo puderam comprar ao Catar o clima e vibração esperados nas arquibancadas de um estádio de abertura de Copa do Mundo com o time da casa em campo.
Há tempos o famigerado Padrão Fifa vem trabalhando mundo afora para aniquilar a cultura futebolística tradicional: a atmosfera no Al Bayt, portanto, deve ter agradado ao cartolão máximo da entidade, Gianni Infantino. O objetivo foi alcançado.
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A sensação durante o duelo inaugural entre os Maroons e o Equador, neste domingo (20), foi a de um evento quase institucional – com exceção à torcida equatoriana, que fez a sua justa parte em transformar o espetáculo em uma experiência um pouco mais orgânica.
Ao circular pelas ruas centrais de Doha nos dias que antecederam a estreia do Catar já era possível perceber o frágil engajamento da população local com a competição.
Com exceção de um ou ponto turístico, da presença de turistas uniformizados e de zonas marcadas pelo selo oficial da Fifa, a capital catariana recebeu com certo distanciamento a chegada do Mundial.
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Antes da bola rolar, o momento de maior euforia ocorreu quando o Emir, Tamin bin Hamad Al Thani, apareceu em um dos telões para saudar os súditos. Foi como um gol. O jogo também não ajudou. Em partida de baixo nível técnico, o Catar foi presa fácil dos sul-americanos.
Em alguns momentos era possível perceber silêncio quase total enquanto os jogadores trocavam passes. A torcida do Catar, que ocupava mais de 80% dos lugares, se limitava a balançar bandeirinhas e a vibrar por alguns segundos com um ou outro lance raro de perigo.
Nem mesmo uma espécie de “torcida organizada” artificial de camisas bordô colocada estrategicamente atrás de um dos gols salvou o embate de uma atmosfera fria.
Aliás, no segundo tempo, parte dos torcedores desistiu e sequer voltou a seus lugares. Foram aproveitar o resto da noite em outro lugar. Difícil não pensar que alguns estavam ali por obrigação.
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O país organizador recorreu ainda a shows de luzes, muita música pop, telões e animadores de festa falando em altos microfones, além de muito ar-condicionado no estádio que impressiona pela perfeição. Coisas que o dinheiro pode comprar.
O cenário deve mudar com o avanço da competição, partidas entre equipes de maior tradição e a chegada das fases mais agudas. Mas a primeira impressão dentro de um estádio da Copa no Catar foi exatamente aquela que se esperava: excesso de tecnologia e carência de calor humano.