Campanha dos EUA no Catar é parte de projeto ambicioso para Copa de 2026
Os Estados Unidos enfrentam a Holanda neste sábado (3), pelas oitavas de final da Copa do Mundo do Catar. A classificação para esta fase era vista como o objetivo de momento, já que o projeto atual do time tem como foco principal a edição de 2026, quando o país vai receber novamente o Mundial, junto de Canadá e México.
"Todos nós sabemos que este grupo está sendo construído para 2026. Uma classificação agora é algo espetacular. Nos jogos eliminatórios, nós vamos ver o que acontece", afirmou o ex-jogador Clint Dempsey, hoje comentarista para uma TV americana.
Os EUA sediarão uma Copa do Mundo após 32 anos. As circunstâncias serão bastante diferentes daquela ocasião. Em 1994, a liga nacional, chamada de Major League Soccer (MLS), havia acabado de ser fundada. Hoje, ela conta com equipes estruturadas, estrelas internacionais e média de público quase idêntica a do Brasileirão: cerca de 21 mil pessoas.
Não é somente no discurso que o time americano está de olho no próximo Mundial. Sua equipe é a segunda mais jovem de todas as seleções que viajaram ao Catar, com média de idade de 25 anos. Apenas a seleção de Gana tem uma média inferior, por causa de 106 dias.
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"Com a MLS mais solidificada e com alto poder de investimento, alavanca também a base e vemos surgir um número maior de valores. Os EUA têm exportado mais jogadores e isso se reflete na seleção. Dos 11 escalados como titulares até aqui no torneio, somente um atua no país", explicou Fábio Wolff, especializado em marketing esportivo, referindo-se ao zagueiro Walker Zimmerman, do Nashville, titular nas duas primeiras rodadas. Contra o Irã, ele foi substituído por Carter-Vickers, e todo o time foi composto por jogadores defendendo clubes europeus.
As equipes americanas prometem agressividade ainda maior no próximo ciclo. Notícias recentes de que o Inter Miami, clube da superestrela e ex-jogador David Beckham, estaria acertando com Lionel Messi para a próxima temporada balançaria o cenário do futebol mundial.
"Messi indo para o Miami impacta profundamente os Estados Unidos e o futebol o país. Não só coloca a MLS em uma outra prateleira como atrai a atenção de todo o planeta para a temporada americana. Todo o barulho que uma transferência desta dimensão causa influenciará nos mais jovens e veremos grandes atletas optando pelo futebol, em vez do basquete, beisebol ou futebol americano. Economicamente, uma estrela mundial do esporte também gera receita em todas as áreas", analisa Pedro Melo, diretor de marketing do Atlético-MG.
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A MLS hoje conta com jogadores que já dominaram o futebol europeu no passado recente, como o zagueiro italiano Giorgio Chiellini, atual campeão da Eurocopa, e Gareth Bale, galês cinco vezes campeão da Liga dos Campeões.
"O 'big money' dos negócios esportivos no mundo está nos EUA. NBA, NFL, entre outras ligas, são altamente profissionalizadas, mas suas receitas estagnaram. O 'soccer' é o mar azul. Messi na MLS não será o único burburinho que veremos nos próximos anos", aponta Jorge Braga, ex-CEO da SAF do Botafogo.
O Brasil é o país que mais exporta jogadores à MLS. Na última temporada, contou com 38 atletas na liga, além do técnico Paulo Nagamura, do Houston Dynamo. No ano anterior, o número era de 31. Apenas dez clubes dos 28 não contam com brasileiros em seus elencos.
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"Houve uma mudança tanto no foco dos clubes americanos quanto na mentalidade dos jovens jogadores brasileiros. Eles, hoje, são monitorados e seguem para os Estados Unidos para darem continuidade ao processo de desenvolvimento. A MLS se tornou um lugar de lapidação de promessas e as estruturas oferecidas pelas equipes são interessantes para os jogadores e seus agentes, que enxergam na liga um bom caminho para atuarem na Europa", comenta Marcelo Paz, presidente do Fortaleza.
Apesar de todo o projeto para a Copa do Mundo de 2026, o time atual dos EUA está a um jogo de fazer história no Catar e igualar a sua melhor colocação, as quartas de final, feito de 2002, quando foi eliminada pela vice-campeã Alemanha.