Rotina em Doha

Amor ao Catar, picanha e delivery de cerveja: curitibanos contam a vida no país da Copa

Por
Julio Filho
24/11/2022 12:53 - Atualizado: 05/09/2024 13:22
Célia, Carla, Caio e Brenda: curitibanos no Catar
Célia, Carla, Caio e Brenda: curitibanos no Catar | Foto: Julio Filho/UmDois Esportes

Quando a curitibana Carla Mendes chegou ao Catar, em 2014, ela não se lembra de ver um viaduto sequer nas ruas da capital Doha. Também não havia sistema de metrô ou a cidade vizinha de Lusail, onde vive hoje.

Oito anos depois, o país sede da Copa do Mundo de 2022 é referência em infraestrutura e tecnologia e impressiona pela modernidade de uma capital de contornos futuristas.

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“Após o Catar ganhar o direito de receber a Copa, aconteceu uma revolução para preparar a cidade”, conta Carla, que veio ao país para acompanhar o marido, o jogador de futebol Lucas Mendes, revelado pelo Coritiba.

Já a cidade de Lusail, em que fica o estádio com capacidade para 80 mil pessoas, palco da estreia do Brasil e também da final do Mundial, sequer existia.

“No começo foi bem difícil porque era um país muito diferente para nós. Levamos uns seis meses para nos adaptarmos”, relembra Carla.

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“A parte cultural, religiosa, as vestimentas das mulheres, tudo isso impacta. Temos que evitar de usar roupas curtas, por exemplo”, prossegue. Atualmente, ela diz amar o Catar, onde vive com o marido e dois filhos.

Ao lado do piloto de aviões, Caio Balaban e esposa, Brenda Figueiro, e da guia turística Célia Regina, o quarteto faz parte de um pequeno núcleo curitibano de brasileiros vivendo no Catar.

“O dia a dia aqui é completamente diferente do que a gente vê na mídia”, assegura Balaban, que está indo para o terceiro ano no país.

“No meu ponto de vista, chegam até a ser assustadores alguns títulos de notícias que vemos na imprensa do Brasil e da própria Europa. Não convêm com a realidade que vemos”, prossegue.

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Cerveja, picanha e até cachaça: o cotidiano brasileiro no país árabe

Uma das maiores polêmicas da Copa do Mundo vem sendo as restrições do Catar em relação à venda e consumo de bebidas alcoólicas.

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Para residentes, o país islâmico exige uma licença especial para a compra de álcool e carne de porco, produtos sobre os quais incidem o chamado “imposto do pecado”, que aumenta em 100% o custo ao cliente.

A permissão está atrelada ao empregador do estrangeiro no país. O acesso à carteirinha é proibido aos muçulmanos, por questões religiosas.

Curitibanos no Catar. Foto: Julio Filho/UmDois
Curitibanos no Catar. Foto: Julio Filho/UmDois

“Nós temos a carteirinha que nos dá acesso à carne de porco e bebida alcoólica”, explica Balaban.

“A gente bebe tranquilamente em casa. E, se quisermos sair, basta irmos a um dos inúmeros hotéis internacionais”, prossegue. São espaços cinco estrelas em que não há restrição de quantidade de consumo.

“Depende muito do que você veio fazer no Catar, do seu empregador. No caso do empregador do Caio, você pode ter essa carteirinha e ela também se estende a mim”, ressalva Brenda.

Há distribuidoras especializadas na venda destes produtos ‘proibidos’. E elas fazem até delivery, desde que o cliente apresente a carteirinha e receba pessoalmente a entrega.

“É como se fosse um mercado só de bebida alcoólica e carne de porco. Tem bebidas do mundo todo, até cachaça do Brasil. Cervejas de todas as variedades, vinhos de diferentes destinos, uísque”, continua Brenda.

Eles contam que, nestes mercados, uma garrafa long neck de cerveja custa cerca de R$ 14, mas ressalvam que o país tem custo de vida elevado.

“Se você quiser sair em um restaurante e tomar uma garrafa de vinho, precisa estar ciente de que pagará bem mais caro no álcool”, emenda a brasileira.

Há ainda a opção de fazer um churrasquinho em casa. Um açougue local vende picanha e outros cortes vindos diretamente do Brasil.

Religião, homofobia e cultura local

A guia turística, Célia Regina, conta que há até mesmo um complexo religioso com uma igreja católica que os brasileiros costumam frequentar.

“Os brasileiros conseguiram este espaço, tem igrejas de diferentes fés”, conta.

“O mundo ocidental pensa que a
gente vai vir para cá e encontrar só terroristas. Mas aqui é um dos países mais
seguros do mundo, com acordos de paz com a maioria dos outros países e um
projeto de segurança pública”, reforça ela, que veio ao Catar com dois filhos
acompanhar o marido, que trabalha no mercado financeiro.

E, embora a lei do Catar estipule que o comportamento homossexual é proibido e passível de pena de prisão, os curitibanos asseguram que o ponto delicado de qualquer relacionamento no país é a demonstração pública de afeto.

“O que não é permitido é o afeto, o beijo em público, tanto para homossexuais, como para heterossexuais”, diz Balaban. “Quando nos mudamos ou vamos visitar um novo país, temos de nos adequar às regras, adequar à cultura. E isso vem do respeito de cada um”, completa.

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Formado pela UFPR, ingressou na Gazeta do Povo em 2014, como repórter na editoria de Esportes, participando de coberturas de Campeonato Paranaense, Copa do Brasil, Brasileirão, Sul-Americana, Libertadores, Olimpíadas e Copa do Mun...

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