Os 50 anos do massacre de Munique e a luta contra o antissemitismo no esporte
Nos próximos dias, a comunidade esportiva mundial recordará os 50 anos de um dos acontecimentos mais trágicos da história olímpica. Na madrugada de 5 de setembro de 1972, terroristas palestinos do grupo Setembro Negro invadiram a Vila Olímpica de Munique, mataram dois membros da delegação israelense e fizeram reféns outros nove; também eles acabariam mortos (junto com cinco terroristas e um policial alemão) durante uma tentativa frustrada de resgate na base aérea de Fürstenfeldbruck, no início da madrugada do dia 6. Os três palestinos presos foram libertados menos de dois meses depois, por exigência dos sequestradores de um avião da Lufthansa. Depois disso, os Jogos Olímpicos jamais foram os mesmos em termos de segurança. A delegação israelense continua a contar com vigilância adicional toda vez que ocupa alguma Vila Olímpica, com detectores de metal dentro dos prédios e outras providências semelhantes para impedir qualquer novo ataque.
Ainda hoje a própria decisão de seguir adiante com os Jogos de 1972 (cujas provas foram suspensas logo após o ataque e retomadas dias depois) causa controvérsia, e eu mesmo não tenho opinião formada – o presidente do comitê organizador queria cancelar tudo; o chefe da delegação de Israel foi favorável à continuação dos Jogos, mesmo sem os israelenses, que deixaram a Alemanha Ocidental logo após uma cerimônia no Estádio Olímpico de Munique. Inexplicavelmente, o movimento olímpico demorou mais de 40 anos para voltar a homenagear a memória das vítimas do terror palestino. A Vila Olímpica do Rio teve um local especial dedicado aos israelenses mortos, com a realização de uma cerimônia dois dias antes do início dos Jogos; em Tóquio, no ano passado, houve um momento de silêncio durante a abertura.
Inexplicavelmente, o movimento olímpico demorou mais de 40 anos para voltar a homenagear a memória dos israelenses mortos pelo terror palestino
Durante os Jogos de Tóquio, o colunista da Gazeta do Povo Franklin Ferreira escreveu um texto sobre o antissemitismo nos Jogos Olímpicos e relatou alguns casos recentes do tipo mais tradicional de discriminação, aquele em que atletas de nações árabes ou islâmicas se recusam a enfrentar israelenses. Aqui no Papo Olímpico também trouxe episódios que mostram a existência de uma política de Estado promovida pelo Irã para incentivar seus atletas a boicotar oponentes de Israel. Um iraniano, o judoca Said Mollaei, teve a coragem de enfrentar esse sistema e chamou de vez a atenção do mundo esportivo para o preconceito contra Israel. Graças a Mollaei (que em Tóquio foi medalhista de prata pela Mongólia, e hoje defende o Azerbaijão), a Federação Internacional de Judô agiu preventivamente pela primeira vez: se até então judocas e treinadores eram suspensos ou banidos apenas depois que o caso de discriminação ocorria, em 2019 a IJF proibiu o Irã de participar de competições da modalidade até 2023.
A discriminação contra Israel não é apenas individual, ou nacional – ela tem alcance continental. O leitor já se perguntou por que Israel disputa campeonatos europeus, e não asiáticos? O país era membro da Federação dos Jogos Asiáticos, mas, quando a organização foi abolida e substituída pelo Conselho Olímpico da Ásia (OCA), no início da década de 80, Israel foi sumariamente excluído da nova entidade, graças à influência de um cartola kuwaitiano, o sheik Fahd Al-Ahmed Al-Jaber Al-Sabah. Com uma fonte ilimitada de dinheiro a seu dispor, ele praticamente comprou o sistema esportivo asiático, a ponto de bancar os Jogos Asiáticos de Bangkok, em 1978, e exigir em troca a exclusão dos israelenses (oficialmente, eles foram impedidos de competir por “razões de segurança”). Com a bênção do COI, o kuwaitiano derrubou a Federação dos Jogos Asiáticos e a substituiu pela OCA, mesmo estando claro que o grande objetivo da mudança era afastar Israel permanentemente do cenário esportivo asiático. Essa história é contada por Andrew Jennings e Vyv Simson no capítulo 10 de The Lords of the Rings.
Enquanto outras federações esportivas e o próprio COI não seguirem o caminho da IJF, no entanto, tudo indica que o preconceito continuará. Em janeiro deste ano, um tenista do Kuwait desistiu de uma semifinal em um torneio nos Emirados Árabes Unidos porque enfrentaria um israelense. O detalhe sórdido é que se tratava de um campeonato para menores de 14 anos! Se adolescentes já estão sendo doutrinados desta forma, sem punição firme das entidades que regulam o esporte mundial, não sei se podemos ter muita esperança. O lobby de grupos como o BDS (“boicote, desinvestimento e sanções”) é forte e já conseguiu até mesmo cancelar partidas amistosas de futebol entre Israel e Argentina. Cinco décadas depois de o ódio derramar o sangue de atletas israelenses, a comunidade esportiva internacional ainda precisa perceber que apenas ações mais firmes serão capazes de eliminar o antissemitismo no esporte.