Fernando Diniz precisa sobreviver ao próprio hype para ter sucesso na seleção
Em 2013, o placar foi um sonoro 4 a 0. Três anos depois, um indubitável 5 a 0.
Ok, houve um empate sem gols em 2017, na altitude de La Paz, mas nos três confrontos anteriores à vitória brasileira dessa sexta-feira (8), no Mangueirão, na estreia das Eliminatórias, a seleção aplicou 12 gols e não sofreu nenhum da Bolívia.
Esse histórico basta, ao meu ver, para não criar expectativas com o tranquilíssimo 5 a 1 aplicado diante dos bolivianos no debute de Fernando Diniz como treinador da Amarelinha.
Gostei do que vi em campo? Sim, claro. Foi um domínio completo, 80% de posse de bola – um recorde na seleção –, 21 finalizações, oito grandes chances criadas... Mas tudo isso aconteceu contra o poderoso 83º colocado no ranking da Fifa, pior posição entre os sul-americanos, que ainda aposta em Marcelo Moreno, aos 36 anos de idade, como referência ofensiva.
Exatamente por isso, as reações com o "Dinizismo" na seleção me soam um pouquinho sem noção. Que Carlo Ancelotti não precisa mais vir por que a Canarinho já tem treinador para a Copa do Mundo de 2026. Isso com um jogo – repito – contra a Bolívia.
Se você me perguntar o acho que vai acontecer até o Mundial, a reposta que daria é que o experiente e vencedor italiano não vem. E que a CBF vai apostar tudo, dar seu all-in em Diniz.
E pode até ser que o perfil do atual treinador do Fluminense encaixe melhor com um trabalho de seleção do que em clubes, onde ele ainda está por conquistar um grande título. Faltam três jogos para isso acontecer nessa temporada da Libertadores, aliás. Será preciso passar pelo Inter e, na final, Palmeiras ou Boca Juniors.
A qualidade dos jogadores que Diniz têm à disposição (Neymar, Vinicius Jr, Bruno Guimarães, Casemiro e Rodrygo...), no entanto, facilitam a implantação de suas ideias de futebol intenso e criativo. É inegável sua evolução profissional desde a passagem fracassada por Paraná e Athletico – ou mesmo no rompante que beirou (ou até passou) do limite de assédio moral com o volante Tchê Tchê, no São Paulo.
Aos 49 anos de idade, Diniz parece estar mais maduro, mais pronto e com mais ferramentas para tentar recuperar a bola do Brasil. Os jogadores gostam dele, isso é evidente, e é o único treinador realmente diferente que temos no país.
Mas foi apenas um jogo. Contra a Bolívia. Agora, o desafio é contra o hype, a empolgação em excesso e a estranha pressão externa que o nome de Fernando Diniz causa.
A ver se ele passará de visionário a colecionador de títulos. Ou se quem descartou Ancelotti lamentará mais uma precipitação.