Países mais corruptos atraem Copa do Mundo, que vira instrumento geopolítico – Parte 4
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A Copa do Mundo no Catar será extremamente estranha para quem esteve nas últimas edições do torneio e viajou pelos países que o sediaram. Em 2014, no Brasil, a maior distância entre dois estádios era entre a arena de Manaus e o Beira-Rio, em Porto Alegre: acima dos 2,1 mil quilômetros. Na Rússia, em 2018, mais de 3 mil quilômetros separavam o Kaliningrad Stadium, a oeste, do Ekaterinburg, no leste.
No final de 2022, do Catar Foundation Stadium será possível visualizar outro estádio, o Khalifa, pois a distância entre eles é de apenas 8 quilômetros. Isso significa que todos os envolvidos na competição estarão na mesma região ao mesmo tempo. Não será uma Copa com viagens de trem, deslocamentos turísticos e outras atrações do gênero paralelas à competição.
Se o tráfego não será problema, vale lembrar que foi em 2010 e 2014. E era algo previsível. Na África do Sul jornalistas chegaram a permanecer dias sem função em locais como Porto Elisabeth, pois não havia voos para Johanesburgo, que concentrava a cobertura e abrigava o Centro de Imprensa. E a viagem de carro entre as duas cidades leva mais de 11 horas.
No Brasil, torcedores estrangeiros com ingressos perderam jogos do Mundial porque estavam, por exemplo, no Rio de Janeiro para outra partida e os bilhetes adquiridos para mais uma eram de um cotejo em Fortaleza. Não havia voo e sequer tempo para uma aventura rodoviária de quase 40 horas. A logística deixava a desejar, mas não houve preocupação maior com os torcedores, as prioridades eram outras.
Como erguer estádios feitos com as especificidades da Fifa para seu torneio. Arenas caras com setores e características nem sempre compatíveis com os hábitos locais, com os frequentadores habituais dos espetáculos futebolísticos nos locais. É o caso do atual Maracanã, por exemplo, repleto de camarotes que raríssimas vezes são vendidos, e desprovido de locais mais populares.
Na África do Sul, onde o rúgbi é o esporte mais visto e praticado, há bizarrices, como a existência do belíssimo e caro (cerca de US$ 450 milhões, hoje perto de R$ 2,5 bilhões) estádio Moses Mabhida, erguido especialmente para a Copa, quando do outro lado da rua (isso mesmo, da rua chamada Isaiah Nitshangase Road) há o Kings Park Stadium, com 55 mil lugares e prioritariamente utilizado em pelejas da modalidade da bola oval. Mas que poderia receber perfeitamente o futebol.
A Copa do Mundo é o evento por meio do qual a Fifa assume o controle total. Consegue que se venda bebida alcóolica em praças esportivas mesmo quando isso é proibido, caso do Brasil; impõe mudanças, obras, transformações, obtém o direito a isenções de vistos e impostos, além das permissões de trabalho. Faz o que bem entende.
E tudo isso se consegue mais facilmente nos países mal colocados no ranking da Transparência Internacional, ou em nações onde internamente não se tolera a corrupção, eventualmente o trabalho escravo, como se acusa o Catar há anos, mas as pessoas não medem "esforços" quando desejam ter o futebol e seu maior evento de seleções para levar planos adiante.