Mauro Cezar Pereira

Adeus de Paquetá é a marca de um futebol com vocação para vendedor

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Mauro Cezar Pereira
14/10/2018 22:26 - Atualizado: 29/09/2023 16:50
Adeus de Paquetá é a marca de um futebol com vocação para vendedor

Faltando 82 dias para o final da gestão de Eduardo Bandeira de Melo na presidência do Flamengo (agora restam 78), surgiu a notícia: Lucas Paquetá, a maior revelação do Flamengo e uma das principais no futebol brasileiro nos últimos anos, seguirá vestindo preto e vermelho em 2019, o rossonero do Milan. A venda, com tão pouco tempo restando de mandato, ajudará a fechar a contabilidade depois de mais um ano marcado por equívocos na gestão do futebol.

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Sem os prêmios pela participação na final da Copa do Brasil, com o qual os cartolas contavam, a venda do atleta tapará o buraco, com muito lucro financeiro até para a próxima gestão. Chama a atenção o fato de ser uma venda feira pelo clube que mais arrecada no Brasil, e que nos últimos cinco a seis anos reduziu a menos da metade sua monstruosa dívida, que girava em torno dos R$ 800 milhões.

A negociação de Vinícius Júnior era inevitável, pelo inusitado da situação. Um valor jamais pago a um clube brasileiro por apenas um atleta, ainda tão jovem que era impossível assegurar que se tornará um craque. Os espanhóis quiseram correr o risco, apostaram alto, e o Flamengo vendeu. No caso tinha que vender. Como o Santos ao negociar Rodrygo aos 17, também com o campeão europeu, pelas mesmas cifras assombrosas.

Com a diferença fundamental: rubro-negros com as finanças equilibradas e santistas vendendo o almoço para pagar o jantar. De qualquer forma, pelas somas altíssimas, juventude dos jogadores e incertezas inerentes à idade, era inevitável. Mas com Paquetá é diferente. O Flamengo precisava de um empréstimo para cobrir algumas contas de 2018, contudo, os valores não seriam significativos em relação ao que arrecada.

O Conselho Administrativo não autorizou que a diretoria contraísse tal dívida, que será facilmente pulverizada com a injeção de euros a ser dada pelo Milan. Mas chama a atenção o fato de o jogador desejar sair o quanto antes, mesmo formado no clube carioca e ainda com 21 anos de idade. O futebol brasileiro é e continuará sendo vendedor. Mesmo quando seus grandes clubes conseguem equilíbrio nas finanças.

Com ou sem dinheiro, o futebol brasileiro segue sua vocação natural.

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No Paraná, o Atlético ergueu sua excelente estrutura com estádio e Centro de Treinamentos em boa parte ao arrecadar quantias representativas em muitas boas vendas. Já descontadas comissões e outros gastos de transferência, ficaram com o clube R$ 20,4 milhões com a transação de atletas em 2017 e R$ 20,7 milhões em, 2016, quando só o volante Hernani saiu por R$ 28 milhões. Mas a situação atleticana é diferente do rubro-negro do Rio de Janeiro. O clube assumidamente precisa vender atletas para lucrar, investir e crescer, pois não tem a capacidade de arrecadação do Flamengo.

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Durante a Copa do Mundo, o Shandong Luneng tentou levar Dudu. O Palmeiras disse não. Motivo, tinha renovado o contrato do atacante pouco antes e contava com ele para seus desafios em campo, objetivando títulos.

O jogador não gostou, os palmeirenses mandaram Roger Guedes, então emprestado ao Atlético Mineiro, para a China em seu lugar, o tempo passou, o atleta aceitou a ideia de não faturar seus milhões por lá agora e vem ajudando o time paulista.

A prioridade de um clube com boa situação econômica foi esportiva. A do Flamengo foi fechar o balanço no azul, o que é importantíssimo, mas poderia ser alcançado de outra forma. A exemplo de Dudu, Paquetá tem contrato em vigor, seriam mais 26 meses a cumprir, e multa de €50 milhões. Em suma, foi vendido pela vocação quase incontrolável de nosso futebol.

*** Coritiba

Técnico Argel, do Coritiba, em ação contra o Figueirense. Foto: Coritiba

Técnico Argel, do Coritiba, em ação contra o Figueirense. Foto: Coritiba Técnico Argel, do Coritiba, em ação contra o Figueirense. Foto: Coritiba

A diferença para a zona de classificação à Série A aumentou em um ponto, o time caiu uma posição (agora é nono) e falta menos uma rodada para o fim, consequentemente menos três pontos em jogo no campeonato brasileiro da segunda divisão. O empate (2 a 2) com o Figueirense em Florianópolis complicou demais a situação do Coritiba.

Nas circunstâncias, com o time catarinense perdendo um pênalti, o placar nem pode ser considerado tão ruim, mas no cenário da competição, foi péssimo, numa noite ruim de Wilson. O goleiro soltou a bola e fez a penalidade máxima desperdiçada por João Paulo, além de rebater nos pés de Élton no lance que definiu o placar.

Duas falhas que reduziram a margem de erro do Coritiba em seu último esforço para subir.

*** Atlético

Bergson marcou dois na vitória do Atlético-PR contra o Sport. Foto: Denis Ferreira Netto

A goleada (4 a 0) sobre o Sport deixa os atleticanos à vontade para que o risco de rebaixamento seja visto como meramente matemático. Além disso, o time fica em condições de se dedicar prioritariamente à Copa Sul-americana.

Mas em meio a tudo isso há uma lição. Foi nobre a intenção de colocar em prática uma forma de atuar calçada na posse de bola, ela, cada vez mais rejeitada pelos inúmeros times “reativos” que jogam por aqui. Mas é preciso mais do que boa intenção.

É necessário elenco adequado, tempo, paciência e disposição para correr o risco. Se tudo der certo, os lucros podem ser imensos, mas o caminho é árduo, difícil, e depende muito do material humano. E Fernando Diniz não tinha os jogadores para isso.

*** Paraná

Vinicius comemora gol contra o Paraná, saco de pancadas da Série A.

Vinicius comemora gol contra o Paraná, saco de pancadas da Série A. Vinicius comemora gol contra o Paraná, saco de pancadas da Série A. Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia

Ao perder para o Bahia por 2 a 0, por mais que tenha resistido até a parte final da peleja, o Paraná igualou o maior jejuns de vitórias no campeonato brasileiro de pontos corridos: 15 jogos! O time paranista fez fez um mísero ponto e um único gol nos últimos seis jogos. É uma equipe de segunda divisão disputando a Série A.

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