Flamengo, Athletico e o valor da Sul-Americana; Palmeiras distorce a regra
A defesa de Leonardo Burián no chute de Juan Cazares encerrou
a disputa de pênaltis no Mineirão. E fez explodir em emoção o grupo de
aproximadamente 3 mil hinchas do Colón na noite de quinta-feira, contra o
Atlético.
Eles atravessaram os 3,7 mil quilômetros que separam a
argentina Santa Fé de Belo Horizonte. Foram testemunhar o maior momento da
história de um clube com 114 anos e que jamais conseguira ir tão longe.
A Copa Sul-americana é a razão de tamanha alegria da torcida do Sabalero, como é conhecido o time de camisas rubro-negras. Alcançar a final de um certame internacional é algo como o melhor dos sonhos para seus seguidores, que jamais viram o clube, com suas origens populares, erguer um troféu de maior relevância.
A emoção dos hinchas Sabaleros no Mineirão após a vitória nos pênaltis sobre o Atlético dispensa explicações, coisas que maior invenção do homem nos faz sentir, viver. Ah, o futebol... pic.twitter.com/FehUZxIRVl
— Mauro Cezar (@maurocezar) September 28, 2019
E aproxima o “Negro”, como também é chamado, de
igualar façanhas alcançadas pelos rivais de Rosário, cidade importante situada
na mesma província. O Newell’s Old Boys decidiu a Libertadores em 1992 (perdeu
para o São Paulo na final) e o Rosario Central faturou a extinta Copa Conmebol
em 1995 (venceu justamente o Atlético no cotejo decisivo).
A emoção estampada no rosto de cada jogador do Colón. A comoção dos
hinchas na arquibancada. A festa para recepcionar os heróis na volta para casa.
Foram cenas belíssimas que não deixam dúvidas quanto ao valor da Sul-americana,
ainda assim esnobada por muitos no Brasil.
Apesar da grande e justa repercussão com a conquista desse título pelo Athletico há nove meses, em 2019 não faltaram no Brasil detratores a tentar diminuir a importância da competição. Como se alguém tivesse tal direito, e poder. Como se o torcedor que se emociona com a Copa aguardasse uma avaliação dessas pessoas para definir qual peso dar à disputa.
No ano passado, o presidente do Atlético chamou-a de “segunda divisão da
Libertadores”, depois que seu time não chegou ao principal torneio da América
do Sul. Desta vez o Galo o priorizou, e como se fosse um castigo ao dirigente e
sua frase infeliz, quando ele, enfim, desejou firmemente a “Sula”, dela saiu.
Parecia até que o próprio torneio escolhia para a final de 9 de
novembro, em Assunção, quem mais o quis e nunca o esnobou. Com requintes de
crueldade, eliminação aconteceu em casa, ante mais de 46 mil pessoas, com o
Galo perdendo na disputa de penalidades máximas após abrir 2 a 0 e levar um gol
quando a classificação parecia tão próxima.
Quando na imprensa falamos sobre o São Paulo e os
atuais tempos de vacas magras, não são raros os que ignoram o título da
Sul-americana 2012. Dizem que os tricolores não ganham nada desse 2008, quando
ficaram com o troféu da Série A pela terceira temporada consecutiva.
A festa da galera do Furacão em 2018 derruba a tosca
tese segundo a qual o torneio não tem grande valor. Assim como a decepção dos
torcedores do Flamengo em 2017, quando chegaram a invadir o Maracanã, ávidos
pelo título, que não veio.
A emoção dos sabaleros em Minas Gerais apenas confirma
isso. Enquanto a “Sula” é meio que desprezada por gente
ligada a agremiações famosas, populares e mais conhecidas internacionalmente, a
Copa sorri para quem a deseja ardentemente.
A final entre Colón e Independiente Del Valle, um pequeno clube do Equador, vice da Libertadores 2016, levará a campo dois times dispostos a tudo para tê-la. Enquanto os que tratam mal a Sul-americana seguirão de mãos abanando, sem troféu de campeão para encerrar bem o ano.
>> Tabela e classificação do Brasileirão 2019
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A dança dos técnicos que despencaram de seus cargos na última semana deixou de lado um tema relevante no contexto e pouco discutido em meio às demissões: o nível do trabalho dos que saíram e de quem está chegando. Há, inegavelmente, casos nos quais mais tempo para treinar uma equipe parece inútil, pois não há progresso, não existe evolução, apenas tentativa e erro, em geral com resultados ruins.
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Braulio da Silva Machado, árbitro de Santa Catarina, anulou o gol do Palmeiras que decretaria a virada sobre o Internacional após o auxílio do goiano Wilton Pereira Sampaio (do quadro da Fifa), que era o responsável pela arbitragem de vídeo, o VAR, na partida frente ao Internacional.
A mais recente versão da regra do futebol especifica que praticará a infração o atleta que: "recuperar a posse da bola depois de tocá-la na mão ou no braço para, em seguida, marcar um gol ou criar uma situação de gol". O texto não deixa margem para interpretações, mão na bola no ataque não vale.
No caso, o Palmeiras marcou após ela ser conduzida pela mão de Willian, com Bruno Henrique mandando para as redes em seguida. Poderiam os palmeirenses reclamar falta do zagueiro Klaus no atacante do campeão brasileiro, não a validação do gol. Mesmo assim, as reclamações foram contundentes.
O técnico Mano Menezes e o presidente Maurício Galiotte se queixaram, com o mandatário chegando a citar o Flamengo, líder do campeonato e que ficaria apenas um ponto à frente do Palmeiras em caso de vitória alviverde em Porto Alegre. O dirigente disse que o VAR não tem atuado em jogos do time carioca.
Galiotte citou a partida diante do Internacional no Maracanã, quando a realidade mostra que o árbitro de vídeo já não entrara em ação na peleja anterior dos rubro-negros, que tiveram contra si a marcação de um pênalti inexistente, a favor do Cruzeiro. Os fatos estavam sob tortura.
Mas há outro episódio ainda mais esclarecedor e que desmonta as alegações presidenciais. No primeiro turno, lá, no mesmo Beira-Rio, o Flamengo fez um gol que foi anulado porque a bola bateu no cotovelo de Rhodolfo antes do desfecho do lance. Final: Internacional 2 a 1.
Foram, portanto, dois acertos da arbitragem com o auxílio do vídeo. Eles evitaram tentos irregulares que prejudicariam o time gaúcho. Questionar a razoabilidade desse item das regras do futebol pode até fazer sentido. Mas distorcê-la de acordo com a conveniência de cada um? Aí não.
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Encerrado o jejum de seis jogos sem vitória, em dois empates e quatro derrotas, com Jorginho no lugar de Umberto Louzer, demitido, o Coritiba derrotou o América no Couto Pereira. O Coxa, que trocava em média cerca de 380 passes certos, não chegou aos 260, com posse de bola inferior à do time mineiro. É assim deve ser com o novo técnico, maiores cuidados defensivos, bola parada... A ver. Sábado será a vez de visitar o Paraná no clássico. Atuando fora de casa, os paranistas venceram no primeiro turno.