“Festa” do Bayern mostra que deveríamos dar menos importância ao Mundial da Fifa
Há apenas 12 dias o Palmeiras ganhou a Copa Libertadores pela segunda vez em sua história centenária. O título desejado por mais de 21 anos finalmente voltou ao clube na vitória sobre o Santos, no Maracanã.
Menos de duas semanas depois, os palmeirenses são alvo de zoeiras, memes, gozações mil, tão comuns nos tempos atuais de internet e redes sociais. Tudo por causa da pífia campanha do time no Mundial da Fifa.
É incrível que um clube conquiste o título internacional mais importante de seu continente, o maior possível dentro de sua realidade, e a glória alcançada seja rapidamente ofuscada. É o que está a acontecer.
Sim, o Palmeiras fez por onde, afinal, sua participação no certame realizado no Catar foi fraquíssima. Nenhum gol, uma derrota para o Tigres, do México, e quarto lugar ao perder, nos pênaltis, para o Al-Ahly, do Egito.
O futebol do campeão sul-americano no Oriente Médio foi paupérrimo. Como vinha sendo em jogos anteriores, casos da semifinal diante do River Plate, em São Paulo, e da própria decisão, contra o Santos, no Maracanã.
Podemos, e devemos, discutir sobre isso. O nível do jogo anda muito baixo no Brasil e também na América do Sul. O campeão, legítimo, ergueu o troféu ao vencer um jogo com gol em sua única finalização no alvo.
Abel Ferreira, há pouco mais de 100 dias como técnico alviverde, colocou seu nome na história com o título, mas não fez o Palmeiras jogar um bom futebol. É apenas competitividade em meio à mediocridade.
Mas nada disso seria o bastante para que o feito de 30 de janeiro no Rio de Janeiro fosse colocado de lado. O que aconteceu no momento em que a equipe fracassou nas duas partidas que fez em Doha.
A obsessão dos times sul-americanos, e o Palmeiras em especial, pelo tal Mundial de Clubes gera distorções. Como se vencer o torneio político que a Fifa ainda promove fosse atestar a capacidade de um elenco.
A Copa do Mundo tem 32 seleções e a distribuição segue uma certa lógica técnica, os continentes mais fortes têm mais vagas. Já o Mundial de Clubes funciona como uma espécie de Copa das Confederações de times.
Assim, politicamente, todas as entidades continentais têm seus representantes, mesmo que na etapa preliminar. A Fifa as brinda e o campeão europeu se isola tecnicamente, geralmente um time muito superior.
A moeda muito forte, as ligas mais organizadas e a estrutura social de seus países faz do "Velho Mundo" o centro futebolístico do planeta. Os melhores times estão lá, hoje em dia mais do que em qualquer época.
A disparidade econômica coloca equipes, mesmo fortes, latino-americanas diante de seleções transnacionais vestidas com camisas de poderosos clubes da Europa. Como vencê-los? Apenas circunstancialmente.
Foi assim que o Corinthians, último não europeu a faturar o certame, aproveitou a chance em 2012. Naquele ano, o vencedor da Champions League era o Chelsea, que não era sequer um dos cinco melhores times do continente.
Pior, o técnico Roberto Di Matteo já havia sido demitido meses depois de ganhar o título mais importante do clube. Em seu lugar estava Rafael Benítez, que estreou no jogo que decretou a eliminação precoce do time inglês na Champions 2012/2013.
Fora da luta pelo bi, e em crise, o Chelsea viajou ao Japão. E perdeu por 1 a 0. Mesmo assim, Cássio foi o herói corintiano, trabalhando muito, e bem, para impedir que a equipe de Londres chegasse pelo menos ao empate.
Em condições normais o título Mundial de Clubes tornou-se algo quase impossível para times que não são da Europa. Por isso, sul-americanos não deveriam dar tanta importância a ele. Mas dão. E quando perdem sofrem, são alvo de gozações.
Até quando os brasileiros darão tamanha importância a essa competição? E seguirão a sofrer por ela? Deveriam saborear, longamente, o título maior dentro do que é a nossa realidade, a Copa Libertadores da América.
Enquanto o Palmeiras virava meme entre os rivais, o Bayern erguia timidamente o troféu após, de maneira protocolar, derrotar o Tigres, que tanto trabalho deu aos palmeirenses. Uma formalidade para os alemães, afinal, eles estão em outro patamar.