UFC gera bilhões de dólares, mas distribuição aos atletas gera polêmica
O UFC foi criado em 1993 para revolucionar o formato, o significado e o status dos esportes de combate ao redor do mundo. Com o propósito de juntar todas as artes marciais de destaque do planeta em busca do atleta perfeito, a organização foi a responsável por criar um esporte: o MMA. Depois dos tempos de vale tudo, as coisas mudaram, se profissionalizaram e o esporte alcançou uma popularidade imensa ao redor do globo terrestre. Tudo melhorou, mas ainda tem o que melhorar. Principalmente a remuneração dos atletas.
Criado por Art Davie e pelo brasileiro Rorion Gracie, membro da lendária família do jiu-jítsu brasileiro, o UFC foi vendido no ano de 2001 para os irmãos Frank e Lorenzo Fertitta e ficou sob o comando de Dana White, após uma intensa briga dos antigos proprietários com o governo americano para sancionar o esporte. Com boas relações com a Comissão Atlética de Nevada, Dana e os irmãos conseguiram recolocar o UFC no pay-per-view após anos em um território de alta remuneração: Las Vegas. Foi o ponto inicial para a profissionalização.
O ano de 2005, no entanto, foi quando tudo aconteceu e o UFC “explodiu” de vez. Sofrendo com o reinado da organização japonesa Pride e com a falta do sucesso almejado em território americano, o Ultimate teve seu primeiro grande ano após o lançamento do reality show The Ultimate Fighter, formato exibido na TV americana que coloca dois lutadores – Forrest Griffin e Stephan Bonnar – como capitães de times de lutadores novatos em busca de um contrato com a organização. Foi um imenso sucesso, especialmente pelo confronto entre Griffin e Bonnar, indicado como uma das melhores lutas da história da organização.
Aquele ponto foi bastante decisivo para a tomada do mercado por conta do UFC, que começou a aumentar significativamente o seu faturamento. A Zuffa se tornou uma empresa de sucesso, a organização se tornou a líder do mercado no esporte e o crescimento nunca parou, resultando na venda da empresa para a WME-IMG por impressionantes 4 bilhões de dólares em 2016. No entanto, a remuneração dos atletas não avançou como se esperava ao longo dos anos.
A equipe de apostas no UFC montou um infográfico que ilustra perfeitamente a comparação entre os gastos salariais do UFC e o faturamento da empresa nos últimos cinco anos. Confira abaixo:
Os pagamentos dos salários aos lutadores possuem um sistema diferente da maioria dos atletas. Ao invés de um salário fixo ou anual, um atleta só recebe se lutar. Mesmo se estiver lesionado, o competidor apenas recebe da organização caso pise no octógono da empresa. Além disso, na maioria das vezes, os atletas recebem um bônus caso saiam vencedores do confronto.
No UFC, existe um valor mínimo a ser pago pelos atletas desde que a organização foi adquirida pela Zuffa. Em 2005, o pagamento base era de 2 mil dólares por luta e 2 mil dólares em caso de vitória. 16 anos depois, em 2021, os números evoluíram em 600%: o pagamento base é de 12 mil dólares e, em caso de vitória, mais 12 mil dólares.
+ Como funciona a distribuição de renda no UFC
Um dos principais empresários de MMA no Brasil e agente de diversos atletas que competem no UFC atualmente, Lucas Lutkus explicou como funciona as questões contratuais dos lutadores com a maior organização do mundo.
“O atleta recebe por luta. Ele recebe um valor para subir (no octógono) e mais um valor se vencer. Além destes valores, o atleta também recebe um bônus por bom comportamento pelo patrocínio exclusivo com a Venum, que começa em 4 mil dólares para os atletas iniciantes no UFC, e esse valor vai subindo conforme o atleta vai lutando na organização. É a mesma coisa com os salários: conforme o atleta vai vencendo suas lutas, a bolsa vai melhorando. A bolsa inicial está por volta de 12 mil dólares para lutar e mais 12 mil se vencer”, afirmou Lucas com exclusividade à Betway.
O contrato dos lutadores pode ser renegociado a qualquer momento, mas geralmente depende do desempenho que o atleta tem no octógono para que ele seja valorizado. Lucas explica como o UFC se protege com atletas novos que impressionam, buscando valorizar e estender o vínculo com eles antes que fiquem disponíveis para ouvir ofertas de outras organizações na famosa “free agency”.
“Existem renegociações a partir do momento de que o atleta passa a claramente valer mais do que o valor que ele ganha. Para manter o atleta satisfeito e fazer com que ele fique na organização e não teste a free agency, o UFC sempre busca a renovação com seus atletas cerca de duas lutas antes do fim do vínculo”, explicou Lucas.
“Por exemplo: o UFC assina com um lutador por quatro lutas como contrato inicial. Se as duas primeiras lutas forem espetaculares, o UFC não quer deixar o lutador chegar perto de testar a free agency. Logo, eles oferecem um novo contrato de seis lutas com um valor maior, que chegam a ser até 10 vezes maior que o contrato inicial, para que ele permaneça sem sequer ouvir propostas de outras organizações”, continua.
“É algo parecido com o futebol. Quando o atleta está se destacando muito e o pagamento que ele ganha passa a ser pouco do real valor dele, o UFC busca valorizar o atleta para que ele não pense em trocar de organização”.
O formato de contrato do UFC também gera críticas. O lutador só consegue rescindir o vínculo em duas situações: caso a organização opte por dispensá-lo (de graça) ou ele complete todas as lutas previstas em contrato. Outro fator é o patrocínio exclusivo da organização com uma marca de vestimentas, que proíbe que o atleta exiba qualquer outra marca em qualquer tipo de aparição pela organização, seja em lutas, coletivas e afins.
Lucas explica que tudo isso faz parte do modelo de negócio do UFC. “O UFC valoriza bem os atletas em relação à imagem, mas também há muitos contrapontos, como não permitir patrocínio na roupa. Por ser o maior evento do mundo com atletas de muito alto nível, eles acabam fazendo ofertas relativamente baixas comparado aos que outros eventos conseguem oferecer por estes atletas. Se dentro do UFC um atleta seria um dos 20-30 principais lutadores, em outro evento rival ele seria um dos cinco melhores. O Demetrious Johnson, ex-campeão do peso-mosca no UFC com 11 defesas de cinturão consecutivas, ganha muito mais hoje no ONE Championship do que ganhava no UFC. O próprio Lyoto Machida declarou recentemente que a oferta do Bellator foi superior a do UFC e há muitos outros casos. O UFC tem um padrão de negociação mais baixo do que poderia ter por opção própria, enquanto outros eventos enxergam estes atletas como estrelas que podem trazer novos olhos para o produto deles e buscam oferecer a melhor proposta que eles puderem visando buscar competitividade contra o UFC no mercado”, finalizou Lucas.
Esportes mais estabelecidos e mais populares, como o futebol, basquete e futebol americano, possuem pagamentos milionários para a maioria de seus atletas. No MMA e principalmente no UFC, a realidade é diferente. Casos de Conor McGregor, Brock Lesnar, Ronda Rousey e Jon Jones acabam sendo muito mais situações de exceções.
Pensando nisso, produzimos um levantamento sobre a parte financeira dos atletas do UFC.
Com lutas muito atrativas e estrelas cada vez mais com poder de apelo ao mercado mundial midiático, o MMA é sempre alvo de comparações com o maior e mais sucedido esporte de combate da história: o Boxe.
O Boxe, que está passando por uma renovação de estrelas e agora atrai diversos tipos de personalidades, como ex-atletas de outros esportes e até mesmo youtubers – caso dos irmãos Jake e Logan Paul -, ainda está à frente financeiramente quando se compara a indústria com o MMA.
São diversos fatores que fazem o boxe ser mais apelativo ao público do que o MMA, especialmente o UFC. Os principais são que é uma indústria muito mais conhecida, mais organizada, que dá mais direitos aos atletas e aos promotores, além de produzir receitas muito superiores aos eventos de MMA.
A diferença de remuneração entre atletas de boxe e MMA é tão gritante que se torna o motivo de tantos lutadores do UFC buscarem a oportunidade de enfrentarem estrelas da nobre arte. O primeiro grande passo para isso foi o épico confronto entre Floyd Mayweather Jr e Conor McGregor, ocorrido em 2017 e que vendeu cerca de 4,3 milhões de pacotes de pay-per-view – o segundo maior número registrado de vendas do mercado de PPVs na história do esporte.
No entanto, um motivo especial explica a diferença entre os dois esportes: o Ato Ali. Uma lei federal promulgada nos Estados Unidos no ano de 2000 que oferece diversos direitos legislativos aos atletas e impede diversas táticas de promotores de eventos que ocorriam nas décadas anteriores, como proteger atletas agenciados de lutarem contra outras estrelas e optar por casar lutas mais “favoráveis” contra atletas de nível inferior. A lei tornou o boxe muito mais competitivo, justo e oferece diversos direitos trabalhistas e garantias contratuais aos atletas.
Confira o levantamento que fizemos comparando os cinco atletas mais bem pagos no boxe com os cinco atletas mais bem pagos no MMA no ano de 2021. A diferença é enorme: o montante recebido do segundo ao quinto atleta mais bem pago do UFC, somados, não consegue chegar a metade do que o quinto atleta mais bem pago do boxe recebeu.
Em um esporte com uma entidade tão maior que qualquer outra como é o UFC no MMA, parece difícil que haja uma equiparação ao que acontece no boxe. Sem falar na questão de tradição de um esporte que já tem uma história e regulamentação de longa data. Seja como for, há uma batalha nos bastidores entre lutadores, que puxam para terem melhor remuneração e mais garantias, e o UFC, que quer manter as vantagens que o torna uma das maiores e mais lucrativas entidades esportivas no mundo, e que deve ter muitos outros capítulos pela frente.
*Por Betway.