Por que o futebol brasileiro é um moedor de técnicos?
A notícia tá aqui no UmDois Esportes - o futebol brasileiro é o que mais troca de treinadores no mundo. De 2003 a 2018, foram 594 mudanças de técnico apenas na Série A do Campeonato Brasileiro. Talvez, se somassem as série B, C e D, o computador começasse a fazer fumacinha e o estudo não pudesse ser divulgado.
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É só uma constatação acadêmica do que já sabemos empiricamente (que frase empolada): o futebol brasileiro é um moedor de técnicos. Os grandes trabalhos, que duraram bastante, são apenas exceções à regra, que está aí comprovada nos números. E lembrando que é o número de trocas, não de profissionais, que então seria muito maior.
Mas por que as coisas continuam assim, mesmo com mais investimento e mais clubes 'organizados'. A resposta está aí na frase de cima. Os cartolas do futebol brasileiro, até por ter mais dinheiro rolando nos últimos anos, acharam que podiam fazer loucuras. Então, é uma de contratar técnico caro que não resolve, troca, paga multa, contrata outro milionário, e assim a roda gira.
Futebol brasileiro organizado?
E essa dita organização maior dos clubes é uma balela. O mais rico de todos, o Flamengo, se perdeu todo neste 2020, errando inclusive porque entrou na ciranda de técnicos. Da forma que as coisas andaram, como disseram vários colegas, a sensação é que Jorge Jesus foi um tiro no escuro bem no alvo. Mas sem qualquer certeza de que daria certo.
Da mesma forma que o exemplo mais discutido do momento, que é a permanência de Fernando Diniz no São Paulo, não reflete a realidade. Até anteontem, a diretoria paulista era tachada de teimosa, por manter um técnico que não obtinha resultados. Agora, todo mundo virou gênio porque seguraram Diniz. Não é uma coisa nem outra, e nem é planejamento, é acaso.
Futebol paranaense "forte"
Nossos times são bons em trocar de técnico. No período avaliado pelo estudo, os times de Curitiba mudaram 121 vezes de treinador - 43 do Athletico, 29 do Coritiba e 49 do Paraná Clube. A dificuldade em conseguir resultados e a instabilidade interna explicam esse troca-troca incessante.
São poucos os casos de longevidade neste período, como os de Paulo Autuori e Tiago Nunes no Furacão, Ney Franco e Marcelo Oliveira no Coxa e Dado Cavalcanti no Tricolor. E aqui é tão exceção à regra que os dois maiores títulos da história tiveram troca de treinador. Em 1985, Ênio Andrade substituiu Dino Sani no meio do Brasileirão conquistado pelo Coritiba. E em 2001, Geninho veio no decorrer do campeonato substituindo Mário Sérgio para conquistar o título.
Liverpool no futebol brasileiro?
Como escrevi recentemente, não conseguiremos ter clubes como o Liverpool, que deu quatro temporadas para Jurgen Klopp moldar o time que depois passou o trator. É porque há o terceiro ponto que explica porque o futebol brasileiro é um moedor de técnicos: a cultura do esporte no País. Exigimos resultados sempre, em qualquer circunstância. O vice-campeonato não vale nada - "é o primeiro dos últimos", como cunhou Nelson Piquet.
Tá certo? Claro que não. Continuidade ainda é um dos caminhos para o sucesso esportivo. Mas para mudar isso, precisamos evoluir muito - dirigentes, técnicos, jogadores, torcedores e jornalistas. É coisa pra gerações, mas que podemos ajudar a transformar desde já.