Volta do público ao futebol requer competência. Infelizmente, competência é artigo de luxo
Nas transformações dos costumes no mundo verificada nos últimos trinta anos, com o advento da Internet, CDS, DVDs, pen drive, telefone celular, avanços na medicina, descobertas na ciência, a gastronomia também passou por uma reforma.
Foi-se o tempo dos restaurantes convencionais, com bife a cavalo, camarão a baiana, peixe a moda da casa ou frango assado no cardápio.
Os novos cozinheiros, agora chamados de Chefs, derrubaram tabus, mas também ergueram totens da mediocridade.
Como disse um amigo, acostumado a frequentar a alta cozinha em diversos países, estão confundindo “art nouveau” com “rendez-vous”. O esquisito colocado no prato assume ares de modernidade e a falácia ganha status de nova arte.
Pois bem, no futebol brasileiro observa-se a mesma coisa.
Cada vez mais surgem figuras grotescas dirigindo os clubes, a CBF ou as federações. Quanta falta de capacidade, inteligência e racionalidade.
Enquanto o futebol europeu já abriu o primeiro estádio para o público, aqui os cartolas se engalfinharam em reunião televisiva para tratar do importante assunto.
Na Supercopa da Europa, realizada no Puskás Arena, em Budapeste, o Bayern venceu o Sevilha na prorrogação por 2 a 1 e colocou mais um título na sacola.
O importante foi o comparecimento de 15 mil torcedores, em um estádio com capacidade para 68 mil lugares, que assistiram a partida na capital da Hungria.
Foi uma medida bem avaliada, calculando os prós e os contras, mantendo o distanciamento entre as pessoas e todos os cuidados relativos aos protocolos médicos no combate a pandemia do coronavírus, mas apostando no futuro.
Em vez de ficarem parados, Esperando Godot, os dirigentes da UEFA e autoridades públicas europeias partiram para uma decisão calculada, apostando em errar pouco, mas tentando voltar a viver dentro do novo normal.
Sem esperança, não existe vida.
A volta do público ao futebol brasileiro requer competência. Infelizmente, competência virou artigo de luxo, e em falta no Brasil dos nossos tempos.
A impressão que ficou para nós, o povo, é que os governantes só sabem contar infectados, salvos e mortos e mandar abrir e fechar bares, shoppings, parques, etc. Não se viu nenhum gesto digno de um homem de Estado.
Bem, basta verificar a relação dos Presidentes da República eleitos nos últimos trinta anos para perceber que a tendência é escolher sempre o que há de pior.
E não se culpe o povo por isso, afinal quem escolhe os candidatos são os partidos. Mas o que esperar de um país com mais de trinta partidos políticos vivendo exclusivamente em torno de interesses pessoais ou de grupos, e, sobretudo, da enorme verba pública em nome da preservação da democracia.
O bate-boca dos cartolas do futebol foi apenas uma enfadonha repetição do que se assiste nos debates entre políticos antes, durante e depois de cada eleição.
Eles estão confundindo a nobre arte de fazer política com “rendez-vous”.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...