Um pouco de folclore só para relaxar; as diferenças de transmissões de rádio e TV
Em tempos estranhos de pandemia sem fim e com o futebol prejudicado pela falta de ritmo e sequência de jogos da maioria das equipes, vamos partir para um pouco de folclore só para relaxar.
Até a virada do milênio, quando tornou-se definitivo o domínio das transmissões dos jogos de futebol através da televisão – aberta, fechada e streaming -, quem dava as cartas na audiência era o rádio.
Graças a Deus fiz parte da geração radiofônica nos anos dourados das ondas hertzianas, pois iniciei como repórter na metade da década de 1960, fui narrador durante 35 anos – de 1970 a 2005 – e virei comentarista até hoje.
O jargão usado atualmente pelos narradores de televisão não tem a criatividade, a graça e a empolgação dos locutores do rádio, os quais necessitavam descrever os lances, identificar os jogadores, criar um roteiro na imaginação do ouvinte e mexer com o coração do torcedor.
Na televisão a imagem é tudo e o relato passou a ser um apêndice apenas para identificar os jogadores.
Mas a moçada da latinha televisiva insiste em gritar, tentando dar ritmo de rádio nas transmissões com imagem e excedendo nos bordões que deixaram de ter o mesmo valor inspirador do passado.
Hoje em dia ninguém aceita um relato como esse por exemplo: “Adentra o tapete verde o facultativo rubro-negro a fim de pensar a contusão do Mão de Anjo, garantia de segurança no onze da Baixada”. Ou seja: o médico do Athletico entrara em campo para atender o goleiro Roberto Costa.
Atualmente somos obrigados a ouvir sandices sem graça tais como Fulano “verticaliza” a jogada. Beltrano sabe fazer a “leitura” da partida. Sicrano é “diferenciado”. Faltam “peças de reposição”.
As besteiras saem das cabines de transmissão das redes de televisão e invadem o besteirol dos modernos treinadores, que se acham professores de verdade.
Sebastião Lazaroni fez escola, cuja equipe tinha de “galgar parâmetros” em “losangos flutuantes”.
O famoso lazaronês perde hoje para o atual técnico da seleção brasileira, professor Tite, que acredita na “imposição de corpos na marcação”, “maleabilidade dos alas”, “performar o resultado”, “previsibilidade do erro” e – pasmem – “sinapses no último terço” e “externos desequilibrantes”.
A seleção da Bélgica não entendeu nada disso e passou por cima eliminando a seleção brasileira na última Copa do Mundo na Russia. Com Neymar e tudo.
Por estas e outras tenho saudade do tempo em que o narrador Fiori Gigliotti irradiava jogos no Pacaembu: “O próprio da municipalidade bandeirante”.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...