Torcidas organizadas são referência para jovens mal instruídos

Vespasiano, o imperador, pouco antes de morrer em 79 d.C., aconselhou o filho Tito a concluir a construção do “Colosseum”, que daria alegria ao povo e memória infinita.
O conselho fundamentava-se na idéia de que seduzir a plebe com pão e circo era a melhor receita para diminuir a insatisfação contra os governantes.
Tito acabou inaugurando o famoso anfiteatro, que está até hoje no centro de Roma, com cem dias de festa.
Descortinava-se no Coliseu a era do “panis et circensis”, que consistia em proporcionar, naquela arena, espetáculos sangrentos entre gladiadores e distribuição gratuita de pão. Implicava alto custo para os cofres do Império, com elevação de impostos e economia destroçada, mas a prática populista emprestava enorme prestígio aos imperadores romanos.
A sociedade evoluiu e as pessoas civilizaram-se através dos séculos, mas o que mudou na paisagem dos espaços lúdicos não foi a ambição dos governantes, mas o comportamento das platéias.
A alteração comportamental de quem vai aos estádios é preocupante.
Sobretudo nos últimos trinta anos com o recrudescimento da animosidade entre as chamadas torcidas organizadas do futebol.
Espectadores que outrora fruíam a catarse do esporte se tornaram agressores.
Tornaram-se uma espécie de gladiadores modernos, espalhados pelas ruas, praças e arquibancadas nos dias de grandes jogos de futebol. Eles competem entre si, para descobrir quem é mais corajoso, mais forte ou apenas mais idiota.
Se na Europa as autoridades esportivas e policiais conseguiram conter as turbas com leis objetivas, aplicadas sem oferecer aos selvagens um leque de recursos, aqui no Brasil continua ineficiente o combate a violência.
Aumentar o número de policiais nos dias de clássicos, acompanhar o comboio das torcidas até os estádios e proceder rigoroso exame na entrada representam medidas insuficientes. O problema continua. Tanto que no último Atletiba, partida que reúne as duas maiores torcidas do futebol paranaense, registrou-se uma série de incidentes no Alto da Glória.
Curiosa foi a decisão do TJD – Tribunal de Justiça Desportiva – que apenas multou o Coritiba, dono do estádio; multou e puniu com dois mandos de jogo o Atlético, clube visitante.
O Código Brasileiro de Justiça Desportiva, norma que estabelece as sanções em decorrência de infrações disciplinares desportivas, adotou o modelo da responsabilidade objetiva. Isso significa que os clubes respondem pelos atos de seus torcedores, independentemente de terem contribuído para o cometimento da infração.
O sistema é criticado, pois foge da ciência jurídica e passa a ser dominado pela “Lex Sportiva”, lei esportiva em latim.
Esse modelo possui uma razão de ser. No âmbito desportivo, torcida e clube são considerados indissociáveis: um é manifestação e dimensão do outro. São duas faces da mesma moeda.
Mas a teoria da responsabilidade objetiva do clube está ultrapassada. De nada adianta multar e punir o time se não houver um eficiente trabalho de inteligência policial para prevenir antes das ocorrências.
Os espaços urbanos ganham novos contornos e a agressividade dos jovens torcedores não se limitam ao interior do estádio.
Os indivíduos vestem a camisa do time de preferência e se transformam motivados a expressar valores como masculinidade, coragem, companheirismo, coesão, solidariedade, sentimento de pertencer a um grupo. Fazer parte de torcidas como Império Alviverde, Fanáticos ou todas as demais passou a ser referência para jovens mal instruídos, carentes de oportunidades, revoltados e que vivem em um país repleto de maus exemplos.
Carneiro Neto comenta início de ano de Atlético, Coritiba, Paraná e Londrina
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Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...