Torcida só aplaude time que mostra vibração
Quem teve o privilégio de viver nas décadas de 1950 a 1990 sabe que tudo era mais gostoso, mais romântico e se valorizava a arte em vez da alta tecnologia.
Tenho saudade da leitura matinal do jornal impresso, das livrarias sempre com novos lançamentos, das sessões de cinema e do futebol bem jogado.
Admiro a era digital, mas ainda bem que vivi bons momentos no passado.
Quem teve o privilégio de assistir os times recheados de craques na época da conquista do tricampeonato mundial, com Pelé e Garrincha à frente, e um pouco mais adiante com a geração de Zico, Romário, Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo, sabe do que estou falando.
Tudo mudou e não se coloque toda a culpa pelas tensões, depressões ou incertezas atuais apenas na conta da pandemia do Covid-19. Ou das maluquices do ditador Putin com as suas ameaças nucleares.
A inteligência artificial chegou para ficar na evolução da medicina, da engenharia, do comércio e em outros setores importantes. Tudo bem. Mas, no nosso dia a dia é um tédio ver quase todo mundo caminhando e cutucando intermitentemente o telefone celular.
Voltemos ao futebol, antes que eu seja deletado por algum algoritmo mau humorado.
O futebol era praticado com talento, sem rigidez tática e, sobretudo, liberdade de criação. Por isso os grandes jogadores explodiram naqueles tempos dourados.
Nos últimos 30 anos os treinadores implantaram a ditadura do futebol de resultado. O espetáculo virou raridade com o rigor tático e a obediência a missão de cada jogador dentro de campo.
Inconscientemente, o torcedor foi aceitando a brusca mudança e se contentando com o estilo de jogo mecânico das seleções italianas e alemãs nas últimas Copas, em meio à criatividade espontânea dos espanhóis e franceses com lampejos de individualidade marcante.
Mas há um porém: a torcida só aplaude time que mostra vibração. É um processo de interação que se dá entre o time e a torcida enquanto a bola corre no campo.
O mais recente exemplo foi o jogo do Athletico com o Libertad, no qual a torcida da Arena da Baixada mostrou-se incomodada com o “mais do mesmo” no primeiro tempo e vibrou calorosamente com a intensidade do time de Felipão no segundo tempo.
Para a sensibilidade humana não há algoritmo que resista.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...