Técnicos caem como folhas no futebol brasileiro
Ramon Menezes, do Vasco foi o último a cair no atual
Campeonato Brasileiro, no qual quase todos os times mudaram de treinador.
As poucas exceções servem apenas para confirmar a regra.
Alguns falam na necessidade de mudar a cultura do futebol
brasileiro em relação aos comandantes das equipes. Sim, pode ser, já que na
Europa, o maior centro futebolístico do mundo, a estabilidade profissional é
maior.
A meu ver, entretanto, só mudar a cultura dos incorrigíveis
dirigentes do nosso futebol – cada vez mais parecidos com os políticos e
governantes deste triste e pobre país – não basta.
Até porque parece impossível alterar o comportamento dessa
brava gente que burla currículo para tentar subir na vida, que não pensa antes
de falar em público, que não sabe se comportar a altura do cargo que ocupa e
que não respeita os princípios básicos da gestão pública.
Penso que o sucesso de um time passa, necessariamente, pela
categoria técnica dos jogadores.
Há pouco menos de dez anos, quando deu um banho de bola no
Manchester United, no Estádio de Wembley, em Londres, e levantou a taça de
campeão da Liga dos Campeões da Europa, o Barcelona apresentou verdadeira aula
de futebol.
O Barcelona do treinador Pep Guardiola ensinou como o
futebol pode ter uma abordagem matemática, desde que gênios como Lionel Messi
terminem a obra.
Desde os primórdios da civilização se pressupõem que os
deslocamentos no tempo e no espaço beberam na fonte da geometria.
A legião, a principal divisão militar do Império Romano, que
variava de mil a oito mil homens, lutava ancorada em teoremas com precisão
matemática.
No futebol, desde que Zagallo começou a jogar como falso
ponteiro esquerdo e compôs o meio de campo arrasador com Zito e Didi na
conquista do primeiro título mundial da seleção brasileira, em 1958 na Suécia,
as coisas nunca mais foram iguais.
Por meio de triangulações repetidas à exaustão, sempre
contando com jogadores hábeis e inteligentes, diversos times se destacaram
através dos tempos.
Até hoje soam como musica nos ouvidos dos puristas do futebol
nomes como Di Stefano e Puskas, no Real Madrid; Garrincha, Didi e Pelé, na
seleção brasileira bicampeã mundial; Gerson, Tostão e Pelé, na seleção
brasileira tricampeã mundial; Cruyff, Neeskens e Rensembrink, na seleção
holandesa; Burruchaga, Maradona e Valdano, na seleção argentina; Matthaus,
Brehme e Klinsmann, na seleção alemã ou Rivaldo, Ronaldo e Ronaldinho na
seleção brasileira pentacampeã mundial.
Esquemas táticos bem elaborados, entrosamento perfeito,
preparação física moderna, enfim, tudo nos trinques, só que sem os craques a
matemática não funciona.
Por isso, e só por isso, os técnicos caem como folhas no
futebol brasileiro.
Faltam bons jogadores.
Os melhores nem vêem a barba crescer e já embarcam para o
exterior. Ficam os jogadores de segunda linha, sem mercado lá fora ou voltam os
craques, então já sugados pelo tempo e enriquecidos pela própria arte, mas sem
as mesmas condições técnicas.
Como os cartolas não se emendam e muito menos procuram
corrigir o modelo de gestão dos clubes, dá nisso: vida curta para os
treinadores.
Simplesmente porque é mais fácil dispensar um profissional
do que revelar maior número de jogadores e evitar o êxodo anual irreversível.
E, também, é mais econômico mandar o técnico embora do que mudar o time inteiro.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...