Chegou a esperada biografia de Sicupira, livro que nos remete ao passado poético do futebol
Demorou, mas chegou o livro que conta a trajetória do maior artilheiro do Athletico em todos os tempos: “Sicupira – Vida e gols de um craque chamado Barcímio”, escrito pelo jornalista Sandro Moser, dono de um texto enxuto que o transformou em destaque da nova geração da crônica paranaense. O lançamento será neste sábado (3), em evento com distanciamento social na Pedreira Paulo Leminski. Imperdível!
O nome Sicupira nos remete a um período glorioso do futebol brasileiro, durante o qual ele brilhou intensamente jogando em times como Botafogo, Athletico e Corinthians, tendo ao lado bicampeões e tricampeões mundiais pela seleção.
Sicupira transporta-me ao passado poético em que os jogadores se identificavam mais com os clubes que defendiam. Vestiam e suavam a camisa transpirando arte, alegria e vontade de mostrar o que sabiam fazer com a bola. No caso dele, com a bola no chão, através de dribles, passes, toques; com a bola no alto, com desconcertantes e artesanais bicicletas antológicas que o consagraram definitivamente.
Ele costumava ser muito habilidoso com a bola nos pés. Bem, para recordar de uma piada que o dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues fazia, sempre que alguém lhe dizia coisa semelhante ao que eu disse: “Rapaz, como é que alguém pode ser habilidoso sem a bola nos pés?”.
Pois o mesmo Nelson Rodrigues surpreendeu-se com a categoria técnica do jovem Sicupira, tão logo ele trocou o Ferroviário pelo Botafogo. Escreveu artigos em sua homenagem e, habilidoso como sempre, o candidato a craque enturmou-se facilmente com deuses como Nilton Santos, Garrincha, Zagallo, Jairzinho, Gérson e outros.
Ao ponto de a Enciclopédia do Futebol, Nilton Santos, ter achado o seu nome estranho quando chegou ao estádio General Severiano. O garoto da Lapa logo corrigiu: Sicupira é sobrenome. O nome era Barcímio. Daí Nilton Santos pediu para deixar Sicupira mesmo.
Tive o privilégio de conhecer a sua família, com destaque ao Capitão Barcímio Sicupira, uma figuraça. Tanto na Federação Paranaense de Futebol quanto no Colorado ele foi um dedicado colaborador. Como tinha muito orgulho do filho organizava todo fim de ano, durante as férias dos profissionais de futebol, um jogo comemorativo entre os jogadores paranaenses que atuavam fora do Paraná. Era uma festa.
Vi Sicupira algumas vezes jogando pelo Ferroviário e pelo Botafogo, mas profissionalmente acompanhei de perto a sua vitoriosa carreira a partir do momento em que estreou no Athletico, marcando um gol de bicicleta contra o São Paulo, na Vila Capanema.
Caiu no gosto do povo.
O time atleticano daquela época conseguia reunir a sabedoria da maturidade de Djalma Santos, Bellini, Nair, Dorval, Gildo com a força explosiva e criativa da juventude representada por Madureira, Zé Roberto, Nilson Borges e, é claro, Sicupira.
Maior goleador e ídolo eterno do Furacão, o camisa 8 demonstrava personalidade, liderança e convicção do que realizava em campo. Preferia antes o toque de efeito, capaz de dar à bola trajetórias insuspeitadas e tirar, do público, espantos e aplausos.
Narrei muitos jogos e, sobretudo, muitos gols seus. Era o tempo do rádio, do predomínio do rádio que levava a emoção do campo de jogo diretamente para o ouvido do torcedor. Do ouvido, a capacidade lúdica de cada um, conduzia o relato para o coração.
A vibração da torcida nos estádios e o reconhecimento dos ouvintes nas ruas nos enchia de satisfação e responsabilidade. O entusiasmo do público nas alegres transmissões radiofônicas era servido em drágeas como pentâmetro iâmbico em compotas, para ser recitado com muita inspiração.
Depois da despedida como jogador, ele aceitou o desafio de tornar-se comentarista no rádio e na televisão. Foi um sucesso de público e crítica. Hoje em dia, ao encontrá-lo, conversamos, rimos e nos despedimos com um afetuoso abraço. Os braços procurando abraçar imagens do passado.
Gol de Sicupira! Golaço de Sandro Moser!
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...