Sicupira e a bicicleta imortal
Perdemos Barcímio Sicupira Junior.
O querido Sicupira, ídolo da torcida atleticana como jogador
e companheiro de rádio e televisão depois que pendurou as chuteiras.
O nome já nos remete a um período glorioso do futebol
brasileiro, durante o qual ele brilhou intensamente, jogando em times ao lado
de bicampeões e tricampeões mundiais pela seleção, no Botafogo, Athletico e
Corinthians.
Sicupira transporta-me ao passado poético em que os
jogadores se identificavam mais com os clubes que defendiam.
Vestiam e suavam a camisa transpirando arte, alegria e
vontade de mostrar o que sabiam fazer com a bola. No caso dele, com a bola no
chão, através de dribles, passes, toques, gols; com a bola no alto, cabeceios e
desconcertantes e artesanais bicicletas antológicas que o consagraram
definitivamente.
Jovem, ao chegar ao Botafogo de Nilton Santos, Garrincha,
Zagallo e outros, chamou a atenção por se chamar Sicupira. Nilton Santos, “A
Enciclopédia do Futebol”, perguntou se ele tinha outro nome. O garoto da Lapa
disse que o nome era Barcímio, daí Nilton Santos pediu para deixar Sicupira
mesmo.
Convivi com seu pai, o Capitão Barcímio Sicupira, uma
figuraça ligada ao Palestra Itália, depois a Federação Paranaense de Futebol e
ao Colorado.
Acompanhei de perto toda a carreira do garoto da camisa
número 8, como jornalista e como amigo pessoal, pois nos dávamos muito bem
desde sempre.
Lembro-me da sua estréia com a camisa do Athletico, em uma
partida com o São Paulo, em 1968 no estádio Durival Britto e Silva. Marcou um
golaço de bicicleta, a sua marca registrada.
Caiu no gosto do povão para sempre.
Daquele time que reunia a sabedoria de Djalma Santos,
Bellini, Nair, Dorval e Gildo com a força explosiva e criativa dos jovens
Madureira, Milton Dias, Nilson Borges e, é claro, Sicupira !
Foi um craque completo que caminha majestosamente para o
Portal da Eternidade.
Narrei muitos jogos e, sobretudo, muitos gols seus.
Era o tempo do predomínio do rádio, que levava a emoção do
campo de jogo diretamente para o ouvido do torcedor. Do ouvido, a capacidade
lúdica de cada um conduzia o relato para o coração.
A vibração da torcida nas alegres transmissões radiofônicas
era servida em drágeas como pentâmetro iâmbico em copotas, para ser recitado
com muita inspiração.
Depois da despedida como jogador exemplar, Sicupira aceitou
o desafio de tornar-se comentarista no rádio e na televisão.
Foi um sucesso de
público e crítica.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...