Opinião

Meneghel foi grande empresário, bom pai de família e esportista de mau comportamento

Por
Carneiro Neto
22/11/2020 21:43 - Atualizado: 29/09/2023 23:09
Meneghel foi grande empresário, bom pai de família e esportista de mau comportamento
| Foto: Arquivo GRPCOM

Na década de 1960, o futebol do Paraná foi dominado pelos times do Norte do estado, pois o Sul estava em crise financeira e técnica. Não por acaso, o Comercial, de Cornélio Procópio, sagrou-se campeão em 1961, o Londrina em 1962 e o Grêmio Maringá foi bicampeão em 1963-64.

Porém, o terror de todos os times era jogar em Bandeirantes, na casa do temível União, presidido pelo intrépido Serafim Meneghel, um misto de John Wayne e Jair Bolsonaro, com direito a chapéu de palha e tudo. Neste domingo (22), Meneghel faleceu aos 88 anos.

Serafim Meneghel foi lenda e folclore do futebol paranaense durante duas décadas. Tipo machão, língua solta, ameaçador de bailes de debutantes e jogos de futebol, marcou o seu tempo com gestos e truculências que enriqueceram a burrice nacional.

Ou, como disse um dos raros gênios intelectuais brasileiros, Roberto Campos, obviamente desprezado pela incansável esquerda: a burrice tem um passado glorioso no Brasil e um futuro promissor.

Vamos aos fatos.

Cansado de ser ameaçado e pressionado pelas manipulações do dirigente Serafim Meneghel nos jogos do Coritiba em Bandeirantes, o presidente Evangelino Neves aplicou uma jogada de mestre: transformou o inimigo em Coxa-Branca de carteirinha.

Evangelino e Meneghel. Arquivo GRPCOM
Evangelino e Meneghel. Arquivo GRPCOM

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Foi simples. Consultou o seu irmão, Antoninho Meneghel,
presidente da Usina de Açúcar e do clube Bandeirantes, se haveria algum
inconveniente em colocar o diretor de futebol Serafim como conselheiro do
Coritiba. Liberado, o chapeludo sedutor aceitou a homenagem. Ato contínuo: parou
de incomodar o Coritiba nos jogos no estádio de Vila Maria. Dedicou-se apenas a
azucrinar a vida do Athletico, Ferroviário, Londrina e outros menos votados.

Antes, porém, houve casos marcantes que sensibilizaram o genial Evangelino a praticar o tresloucado gesto. Em uma partida decisiva, o árbitro Bráulio Zanotto estava prestes a apitar o inicio do jogo em Bandeirantes quando um funcionário da Usina invadiu o gramado com um saco nas costas e, no centro do campo, abriu o saco de onde saíram seis gatos em disparada. Recado dado.

Em outro episódio, o União perdia por 1 a 0 e deixava a decisão do título, quando os jogadores do Coritiba perceberam uma fumaceira daquelas em direção ao campo. Serafim havia mandado tocar fogo no canavial ao lado do estádio. O jogo terminou por pura boa vontade de Sua Senhoria, o árbitro Eraldo Palmerini.

Outra: irritado com a arbitragem de Alceu Conerado, Meneghel invadiu o campo e deu um tiro na bola. Logicamente, ela furou, mas pediram outra bola e a partida terminou com a derrota do União.

Mais uma: nas semifinais do Campeonato Paranaense de 1973 –
a final acabou sendo em Bandeirantes mesmo com o Tri do Coritiba – Meneghel
vociferava contra tudo ao lado do campo, no banco do União. De repente, a bola
saiu pela lateral e o dirigente atirou o seu chapéu de palha sobre a bola. O
ala direito Orlando, do Coxa, simplesmente deixou a bola de lado e chutou o
chapéu do cartola para Oberdan que, com classe, passou para Hidalgo que,
educadamente, chutou em direção a Meneghel. Fim da lenda.

Serafim foi um grande empresário, bom pai de família e esportista de mau comportamento.

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Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...

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