Rodrigão, a recuperação do Coritiba e o futebol dos textos de Nelson Rodrigues
Se baixasse o espírito do genial escritor Nelson Rodrigues, diríamos que o atacante Rodrigão tem sido um assombro na campanha do Coritiba na série B do Campeonato Brasileiro.
A natureza pode ter todos os defeitos, e admito que os tenha, escreveria o dramaturgo eterno que torcia pelo Fluminense, alguns dos quais bem comprometedores. Em compensação, possui uma virtude que ninguém poderá, sem feia injustiça, negar-lhe. Refiro-me ao craque. O craque antecede ao nada. Depois é que surgem as multidões.
Quando o brasileiro exalava a mais feia e cava depressão da terra, Romário fez o gol da seleção na Copa do Mundo que, como dizem os rapazes das ONGs, nos fez recuperar a cidadania.
A fé é linda, sempre, sempre. Basta que ela se irradie de nossas profundezas. E percebam, afirmaria o grande Nelson, o que estou querendo dizer. Eu quero falar do herói e do heroísmo.
Dirá a grã-fina com narinas de cadáver, que não há mais heróis, ou por outra: que o heroísmo não mais se individualiza e, pelo contrário, assume forma impessoal, coletiva e anônima, como nesse futebol europeu que parece jogado por vacas sadias.
Depois dessa singela homenagem ao grande cronista que nos brindou com textos maravilhosos durante décadas nas páginas de O Globo e do Jornal dos Sports, este do seu irmão Mário Rodrigues Filho, que empresta o ilustre nome ao estádio do Maracanã, voltemos a vaca fria, como diziam os portugueses colonizadores.
Aí está o Coritiba recuperado, técnica, tática e psicologicamente graças as contratações feitas e ao trabalho bem elaborado do treinador Umberto Louzer.
Ao contrário do ano passado, desta feita dá para acreditar na campanha coxa-branca e na sua real e efetiva possibilidade de retornar à Primeira Divisão do futebol brasileiro.
A receita é simples e infalível: vencer jogando em casa e não perder quando joga como visitante. Tem funcionado, tanto que o time conseguiu segurar o ímpeto do líder da série B, o Bragantino, lá no interior paulista.
O empate manteve o Coxa na vice-liderança e na sua marcha firme de novo ao lugar que merece figurar, pois é um clube de história, tradição, grande torcida e que tem revelado ótimos jogadores através dos tempos.
Na meta, Alex Muralha tem dado conta do recado, mas muitos gostariam de ver o ídolo Wilson de volta. A zaga ainda continua um pouco irregular, mas evoluiu nos últimos jogos, especialmente quando foi bastante exigida nas partidas fora.
E o Bragantino, bem organizado por Antonio Carlos Zago, levou constante perigo ao último reduto adversário. Mas o meio-de-campo trabalhou bem a bola, graças a habilidade de Matheus Sales, Juan Alano e Rafinha. Os paulistas abriram o escore, mas Rodrigão estava lá.
A impressão é de que o Coxa sempre tem um gol de vantagem, pois Rodrigão marca praticamente em todas as partidas.
Por isso a minha lembrança dos relatos criativos e altamente enriquecidos pela cultura geral do jornalista Nelson Rodrigues, algo raro na crônica brasileira nos dias de hoje. E não me refiro apenas a crônica esportiva, mas da pobreza da crônica jornalística geral na atualidade. Parece que o Brasil emburreceu, intelectualmente, nos últimos vinte anos. Além da maior crise moral e econômica de todos os tempos.
Rodrigão é goleador nato e, para mim, todo fazedor de gol é craque. Rodrigão carrega o Coritiba com seus gols.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...