Os profissionais reclamam do calendário, mas os cartolas silenciam

Estamos nos aproximando daquele dia tão distante e tão próximo, quando conquistamos, pela primeira vez — e sempre há uma primeira vez! — a Copa do Mundo.
Éramos um país competitivo? Não, ninguém acreditava nisso, especialmente depois das derrotas de 1950, no Maracanã, e de 1954, na Suíça. Tive sorte na vida porque ainda criança — e põe criança nisso! — vibrei com a conquista do primeiro título mundial, em 1958, na Suécia, ouvindo as ondas curtas de 49 metros da Rádio Bandeirantes de São Paulo.
Sempre tivemos craques antes disso acontecer, alguns soberbos como Zizinho, Heleno, Ademir, Jair e outros mais.
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Entretanto o futebol brasileiro não tinha comando e muito menos organização. Bastou a CBD — antecessora da atual CBF — entregar o comando da seleção para o empresário das comunicações e dirigente do São Paulo, Paulo Machado de Carvalho, para que nos tornássemos bicampeões mundiais. O resto é história.
Pois bem, agora os profissionais reclamam do calendário, mas os cartolas silenciam.
Não por acaso a seleção não vence uma Copa do Mundo há cinco edições e os times brasileiros não ganham um mundial de clubes há 12 anos. Alguma coisa está muito podre no reino do futebol brasileiro. E não estou falando das inúmeras denuncias contra presidentes da CBF que foram afastados e coisas do gênero, mas sim da completa ausência de um projeto racional e decente para tirar o nosso futebol do buraco.
Os dirigentes, alguns profissionais e outros mais interessados no turbilhão financeiro em que o jogo da bola se transformou nas últimas décadas, simplesmente não conseguem nem entrar num consenso para a criação de uma Liga dos Clubes para livrarem-se da CBF.
Mais grave é a falta de discussão em torno do fim dos anacrônicos campeonatos estaduais, no atual modelo, e o efetivo planejamento para resgatar a força técnica do futebol brasileiro.
Os profissionais, membros das comissões técnicas e jogadores estão exaustos na metade do ano pelo número excessivo de jogos em diversas competições paralelas, mas os cartolas fingem que não estão ouvindo e continuam gerindo mal o multimilionário negócio chamado futebol.
O torcedor que continue sofrendo, roendo as unhas e batendo bumbo na arquibancada.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...