Petraglia e Evangelino, dois gigantes vaidosos diferentes em Athletico e Coritiba
Evangelino Neves foi tão vaidoso quanto qualquer pessoa. Sem maiores vínculos com o futebol, a não ser como torcedor, ele acompanhava à distância as más campanhas do Coritiba desde que o vitorioso Aryon Cornelsen havia se afastado da presidência nos primeiros anos da década de 1960.
Com as obras paralisadas do então estádio Belfort Duarte – atualmente Major Antônio Couto Pereira –, e poucos craques na equipe que passou sete anos sem conquistar um título, o Coritiba necessitava de um dirigente reformador.
Do escritório da sua transportadora, Evangelino aceitou assumir o cargo de diretor de relações públicas para, seis meses depois, ser eleito presidente do clube. Pessoa cordial, simpática e que se caracterizava pelo uso de óculos com profundas lentes que emolduravam seus olhos oblíquos. Com o bigode, logo ganhou o apelido de Chinês.
Como repórter, e mais adiante como mais um dos seus milhares de amigos, convivi em diversos momentos e situações com ele. Tive o privilégio de frequentar sua residência e de conhecer toda a sua família.
Quando estava escrevendo o livro “Evangelino Neves, o Campeoníssimo”, cheguei a fazer uma bacalhoada na cozinha da sua casa para dez ou doze amigos coxas-brancas. Como também era descendente de portugueses, apreciava bacalhau, acompanhado de vinhos verdes com uvas cultivadas às margens do Rio Minho.
O título do livro que escrevi, em parceria com Vinícius Coelho, diz tudo: Campeoníssimo. Evangelino fez do Coxa uma máquina de jogar futebol, culminando com a conquista do título de campeão brasileiro em 1985. Foram quase trinta anos no comando do centenário clube, sem abusar das aparências menores e efêmeras para realizar o sentido profundo, o mandamento oculto da história.
Mario Celso Petraglia consagrou-se pelo espírito empreendedor e visão estratégica na presidência do Athletico. Acompanhei bem de perto o grande trabalho realizado nos primeiros cinco anos para recuperar o clube, a imagem, o prestígio e a credibilidade. Petraglia liderou um grupo que transformou o Rubro-Negro em verdadeira potência do futebol brasileiro.
O modelar CT do Caju, a construção das duas arenas, as grandes revelações que surgiram, com destaque ao jogador Kléberson, pentacampeão mundial como titular da seleção brasileira, e os inúmeros títulos alcançados realçam o brilho da missão realizada com pleno êxito.
Pessoa de temperamento forte, extremamente vaidoso e cioso do reconhecimento público de tudo que fez pelo Furacão, Petraglia perdeu muitos amigos e colaboradores pelo meio do caminho. Eu mesmo não falo com ele há uns quinze anos, desde que convocou uma entrevista coletiva para queixar-se das minhas críticas e posicionamentos na mídia.
Sinceramente, até hoje não entendi tamanha revolta, pois apenas cumpri o meu compromisso com os ouvintes e leitores, como tenho feito nesses quase sessenta anos de profissão. Mas todos reconhecem o seu mérito como maior dirigente da história atleticana. Até o fato de julgar-se intocável mostra-se compreensível pela dimensão da sua obra.
Por tudo isso, considero Evangelino e Petraglia dois gigantes diferentes.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...