O imponderável investimento na sociedade anônima do futebol brasileiro
Motivados pelo sucesso de alguns dos principais clubes do futebol europeu nos últimos anos e pela lei que criou a SAF – Sociedade Anônima do Futebol –, para acudir aqueles que se encontravam em graves dificuldades financeiras, diversos times brasileiros adotaram o novo sistema de gestão.
Clubes tradicionais como Bahia, Botafogo, Coritiba, Cruzeiro, Vasco da Gama e outros embarcaram no sonho do equilíbrio econômico-financeiro com promessas de êxito na atividade futebolística.
Claro que a inspiração de todos foi o projeto que deu certo na Europa. Entretanto, os maiores investidores nos times da Inglaterra, Alemanha, França, Itália ou Espanha não são conglomerados financeiros privados ou grupo de investimentos, mas países com interesses políticos e de expansão comercial que ultrapassam os limites do futebol.
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Por isso, muitos clubes atualmente bem sucedidos ficam por conta do dinheiro que sai do Qatar, Kuwait, Arábia Saudita ou Emirados Árabes. Mas muitos daqueles que continuam como entidades esportivas sem fins lucrativos seguem a vida tranquilamente, com destaque ao Real Madrid, que não para de ganhar títulos importantes.
O imponderável investimento na sociedade anônima do futebol brasileiro é que começa a chamar atenção dos observadores esportivos e dos analistas econômicos.
Tudo porque, diferentemente do mercado europeu, que sempre contratou os melhores jogadores do planeta, consequentemente com grandes arrecadações, verbas da televisão e patrocinadores, o mercado futebolístico brasileiro engatinha.
Basta correr os olhos pelas dificuldades nos mais diversos níveis de gestão, pela maioria absoluta daqueles que adotaram a SAF. Nenhum deles disputou os últimos títulos nacionais, continentais ou internacionais.
A meu ver, os investidores nacionais encontram obstáculos na administração das dívidas nos clubes, nas carências organizacionais e na simples constatação de que o dinheiro que entra – através das rendas dos jogos, das verbas da televisão ou das cotas dos patrocínios – servem apenas para custear o dia-a-dia de um esporte inflacionado e historicamente mal gerenciado.
A única forma de o investidor recuperar o dinheiro colocado dentro dos clubes brasileiros no prazo de cinco ou dez anos, conforme os termos dos contratos celebrados, será a revelação de supercraques para o mercado europeu.
Mas como cada time deve trabalhar para revelar um Vinícius Junior, Vitor Roque ou Endrick por ano. A imponderabilidade do futebol está vinculada a todos os esportes ou às produções artísticas em geral, sejam elas no teatro, cinema, televisão ou streamings.
A SAF brasileira representa muito dinheiro investido para reduzida certeza de retorno a médio prazo.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...