Opinião

Na solidão do gol, a pesada missão do goleiro

Por
Carneiro Neto
13/11/2020 12:11 - Atualizado: 29/09/2023 23:10
Na solidão do gol, a pesada missão do goleiro
| Foto: ESTADÃO CONTEÚDO

O jovem goleiro Hugo virou manchete, não pelas grandes
defesas que tem feito ultimamente na meta do Flamengo, mas pela falha cometida
no lance que resultou no gol da vitória do São Paulo, pela Copa do Brasil, no
Maracanã.

Esta é, lamentavelmente, a sina de todo goleiro: sempre é mais lembrado pelos gols sofridos do que pelos gols evitados. Na solidão do gol, a pesada missão do goleiro.

Com apenas 21 anos, Hugo Souza vem chamando atenção pelas suas ótimas atuações no Flamengo. Apelidado de Neneca, pela semelhança física com o antigo arqueiro paranaense, Hugo tem uma brilhante carreira pela frente.

A propósito do falecido Neneca – Hélio Miguel – que foi excelente goleiro, tendo se tornado campeão brasileiro pelo Guarani, em 1978, e campeão paranaense pelo Londrina, em 1981, deixou saudade.

Goleiros felizes, goleiros infelizes.

Trata-se da posição mais solitária de um jogo que só é
coletivo para quem não pode pôr a mão na bola.

Para o goleiro, que tem o privilégio de usar as mãos, o jogo se transforma em um exercício de solidão. Há momento, porém – momentos fugazes, mas ao mesmo tempo inesquecíveis – , em que o isolamento termina.

Por breves instantes, é verdade, mas que marcam
indelevelmente na memória do torcedor.

Uma defesa espetacular provoca nas arquibancadas o mesmo
frenesi de um gol assinalado. Daí o culto aos donos da meta, via de regra,
homens com estatura elevada, profissionais carismáticos que se confundem com a
própria história dos clubes.

Basta correr os olhos pelos personagens marcantes do passado como Castilho, no Fluminense; Gilmar, no Corinthians, no Santos e na seleção brasileira bicampeã mundial; Barbosa, no Vasco; Waldir, Leão e Marcos, no Palmeiras; Poy, Zetti e Rogério Ceni, no São Paulo; Caju, apelidado de "A Majestade do Arco", no Athletico; depois vieram figuras antológicas no Furacão como Roberto Costa, o Mão de Anjo; Marola, Ricardo Pinto, Flávio, o Pantera, na conquista do título brasileiro de 2001; Weverton, até chegar ao impassível Santos, guarda-meta consagrado nos títulos de campeão da Copa Sul-Americana e da Copa do Brasil.

No Coritiba marcaram época Rey, Nivaldo, Hamilton, Célio, Joel Mendes, Jairo, Manga, Mazzaropi, Rafael, Fernando Prass, Vanderley e agora Wilson; os inesquecíveis Régis e Marcos, no Paraná; Ado, no Londrina; Arlindo, no Operário, e muitos outros que penetraram no imaginário e nas lendas do nosso futebol.

O momento mágico para todo goleiro é o pênalti.

Postado embaixo dos três paus da meta, ele é proibido de
avançar, só pode balançar o corpo para os lados, olhos fixos no cobrador da
falta máxima até que o árbitro autorize a execução do lance.

Se escolher o canto certo e praticar a defesa, em brevíssimo
instante da partida, ele vai de goleiro ao pedestal. Sobre o seu corpo amontoam-se
praticamente todo o time na comemoração. Festa escultural e justa, ainda mais
quando o gol adversário é evitado em uma decisão nos pênaltis.

Goleiro solitário, time solidário.

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Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...

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